No início dos anos 2000, o São Caetano figurou entre os grandes clubes brasileiros. Protagonistas do auge do Azulão, o goleiro Silvio Luiz e o atacante Adhemar penduraram as chuteiras e vivem no interior de São Paulo, ainda trabalhando com futebol. À distância, os ídolos assistem ao fracasso do clube do ABC, que, nesta semana, foi rebaixado à última divisão do Campeonato Brasileiro. Os ex-atletas lamentam a postura de diretoria e atletas e torcem para uma rápida reação do time, que pode sumir do cenário nacional a partir de 2015.
O São Caetano foi vice-campeão da Libertadores em 2002, finalista do Campeonato Brasileiro em 2000 e 2001 e campeão paulista em 2004. Com o rebaixamento à Série D, o último nível de torneios nacionais, o Azulão do ABC paulista está entre dois destinos para daqui duas temporadas (em 2016).
De forma otimista, se ficar entre os quatro melhores dos 40 participantes da quarta divisão do próximo ano, conquista o acesso e volta à Série C. No pior dos casos, não jogará nenhuma divisão do nacional, já que está na Série A2 do Campeonato Paulista, competição que não dá vaga à Série D.
Silvio Luiz, ex-goleiro do São Caetano, é preparador do Olímpia-SP (Foto: Marcos Lavezo)
Silvio Luiz está no noroeste paulista, a 440 km da capital, como preparador de goleiros do Olímpia, equipe que disputa fase final da quarta divisão estadual, na briga pelo acesso à Série A3. Já Adhemar tem uma franquia da escolinha de futebol do São Caetano em Porto Feliz, a 120 km de São Paulo.
É difícil, para uma diretoria vitoriosa, recomeçar depois de uma perda
Silvio Luiz, ex-goleiro do Azulão
– É difícil de falar. Nunca passei por esta situação, de rebaixamento, mas posso comparar com os três vice-campeonatos seguidos que tivemos. Foram dois Brasileiros e uma Libertadores. Agora o São Caetano teve uma queda muito rápida. É difícil recomeçar depois de uma perda, ainda mais para uma diretoria que está acostumada com o sucesso – disse Silvio Luiz, que defendeu o gol do Azulão entre 1998 e 2006.
Adhemar, que teve três passagens pelo São Caetano (1997-2001; 2002-2004; e 2006) também usou comparações para tentar entender o motivo do fracasso do Azulão nos últimos anos, mas descarta que o clube possa chegar ao fim.
Adhemar tem uma franquia da escolinha do clube em Porto Feliz (Foto: Rafaela Gonçalves / Arquivo)
– É a mesma coisa de um arquiteto construir uma casa, fazer todo projeto, começar a execução dos alicerces, das paredes, do telhado, e, de repente, vem outro arquiteto dizendo que o projeto não presta e vai derrubar. Eles derrubaram tudo aquilo que a gente fez lá, que a gente lutou, batalhou, com aquela camisa, a camisa do Azulão. Eu não creio que o time vai chegar a desaparecer. Eu creio que vai ter que fazer uma mudança radical na maneira e no planejamento do clube, mas as pessoas que vão estar à frente vão ser grandes profissionais e vão recolocar o São Caetano na primeira divisão – disse Adhemar.
Apesar de não participar da administração do São Caetano, Adhemar conhece parte dos bastidores do clube e aponta alguns erros na gestão do futebol durante as temporadas em que a equipe foi rebaixada.
Todo o trabalho que a gente fez nos anos 2000 foi por água abaixo em pouco tempo
Adhemar, ídolo do São Caetano
– O presidente do São Caetano (Nairo Ferreira de Souza) vai ficar bravo comigo de eu falar, pois o presidente que esteve no auge é o mesmo que está no fracasso, com o perdão da expressão. Ele tem a forma e o parâmetro para os dois lados. Errou na contratação, errou no treinador, nisso ou naquilo? É ele que vai avaliar. Eu acredito que há o seguinte: existiam jogadores compromissados, um número de jogadores menor. O elenco está inchado com muitos jogadores. Há uma troca constante de treinadores. Isso não tem como, em um clube que tem cinco treinadores no ano não dá nem para o técnico para conhecer o jogador. A folha salarial do São Caetano para divisão onde se encontra está muito alta. Isso influenciou diretamente – analisou Adhemar.
De longe Silvio Luiz torce pela volta por cima do Azulão (Foto: Marcos Lavezo)
A crítica não acontece somente à diretoria, mas também aos jogadores que vestiram a camisa do Azulão nos últimos anos. Adhemar se recorda dos bons tempos de clube. Não só dos resultados positivos, mas do clima entre os companheiros de equipe.
– Eu lembro como uma família. Os jogadores chegavam duas horas antes do treino para poder bater papo, conversar e dar risada. Fazer a rodinha de 'bobinho' que todos participavam. É muito triste você ver, hoje, nessa situação, que jogadores estão lá para cumprir contrato apenas. Não estão preocupados em saber quem é o companheiro, de onde veio, o por quê. Todo esse trabalho que a gente fez na época de 2000 foi por água abaixo em um curto espaço de tempo – completou Adhemar.
O São Caetano ainda tem mais uma partida na Série C do Campeonato Brasileiro. No próximo domingo, às 16h, fora de casa, faz duelo de rebaixados contra o Duque de Caxias, que ficou em último na chave.
*Colaboraram Marcos Lavezo, repórter do G1 Rio Preto, Álvaro Loureiro e Mariana Basso, repórteres da TV TEM São José do Rio Preto e Sorocaba.
Por GloboEsporte.com*Sorocaba, SP