3 de janeiro de 2018

A pobreza como forma de dominação

Operação de segurança contra confrontos entre traficantes na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.rn Operação de segurança contra confrontos entre traficantes na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Em seu magistral livro, O Capital no Século XXI, o economista francês Thomas Piketty afirma que uma das maneiras de diminuir o enorme abismo entre ricos e pobres, além da óbvia taxação das fortunas, é a disseminação do conhecimento. A ignorância revela-se como uma trava ao desenvolvimento, tanto pessoal quanto coletivo, impedindo uma melhor distribuição da renda. Em países periféricos como o Brasil, no entanto, a ignorância é mantida porque serve para promover a apatia da população – e, como consequência, a pobreza se perpetua como eficaz instrumento de dominação.
O novo valor do salário-mínimo, R$ 954, estabelecido pelo presidente não eleito, Michel Temer, representa um aumento de 1,8% em relação ao piso anterior, de R$ 954, o que não corrige nem mesmo as perdas para a inflação, que deve fechar o ano em torno de 2,8%. Segundo a Constituição de 1988, o salário-mínimo deveria ser capaz de atender “às necessidades vitais básicas” do trabalhador “e de sua família” com “moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”.
Ora, apenas a cesta básica – o item “alimentação” – custava, em novembro, entre R$ 327,85 (a mais barata, em Recife) e R$ 444,16 (a mais cara, em Porto Alegre), conforme levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Para cumprir a lei, o valor do salário-mínimo – pensando numa família composta por quatro pessoas – deveria ter sido, naquele mês, de R$ 3.731,39 – equivalente a quase quatro vezes o valor estipulado para este ano.
Entretanto, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca da metade dos trabalhadores brasileiros sequer recebe um salário-mínimo por mês. Realizada a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), dos 88,9 milhões de trabalhadores ocupados em 2016, 44,4 milhões recebiam, em média, o equivalente a 85% do valor do salário-mínimo vigente, ou seja, R$ 747. Por outro lado, 889 mil pessoas (1% do total da população empregada) recebia, em média, R$ 27 mil mensais. Por isso, ocupamos o vergonhoso 10º lugar no ranking dos países mais desiguais do mundo...
E mais: a miséria está voltando a patamares anteriores ao início da nossa crise econômica. O documento Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE, mostra que, em 2016, o número de brasileiros vivendo com rendimentos mensais abaixo de ¼ do salário-mínimo havia aumentado 53% em comparação com 2014, alcançando 24,8 milhões de pessoas, ou seja, 12,1% do total da população vivem na “pobreza extrema”. E a desigualdade social também discrimina por cor: entre os 10% da população com os menores rendimentos, 78,5% eram pretos ou pardos.
Em setembro, a Polícia Federal descobriu, num apartamento em Salvador, dezenas de caixas contendo um total de R$ 51.030.866,49, que, acusa, pertencem ao ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Michel Temer, ex-ministro da Integração Nacional de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal no governo Dilma RousseffGeddel Vieira Lima. Este dinheiro seria suficiente para remunerar 53.491 trabalhadores que recebem um salário-mínimo por mês! Infelizmente, o caso de Geddel é apenas uma ínfima amostra do quadro de total descalabro em que se encontra o Brasil.
Em março de 2010, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou o documento “Corrupção: custos econômicos e propostas de combate”, que calculava em 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) o custo médio anual da corrupção. O relatório concluía que “o custo extremamente elevado da corrupção no Brasil prejudica o aumento da renda per capita, o crescimento e a competitividade do país, compromete a possibilidade de oferecer à população melhores condições econômicas e de bem-estar social e às empresas melhores condições de infraestrutura e um ambiente de negócios mais estável”.
má qualidade da nossa educação – ocupamos o penúltimo lugar no ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – explica a nossa alienação em relação às questões coletivas: sem acesso ao conhecimento temos dificuldade de compreender o mundo e, por consequência, de tentar mudar a realidade à nossa volta. Assim também a pobreza. Uma população premida por solucionar cotidianamente questões primárias de sobrevivência individual – comida e teto – e que não alimenta a menor esperança de que amanhã será um dia melhor, não tem energia para despender na resolução de problemas coletivos. Junte-se a isso a total desmoralização da classe política e do Poder Judiciário, e o resultado é esse que estamos assistindo: o desdém pelas próximas eleições.
Como escreveu o grande escritor Machado de Assis, a respeito do Brasil, em crônica de 29 de dezembro de 1861: “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”...
Por Luiz Ruffato
Com informações do Jornal El País

Transpetro abre concurso público com 321 vagas para quadro de mar da companhia

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A Transpetro abre na próxima terça-feira (9) inscrições para concurso público que vai selecionar 321 profissionais para o quadro de mar da companhia. São 107 vagas para o cargo de moço de convés, 94 para moço de máquinas, 44 para cozinheiro, 31 para condutor mecânico, 14 para condutor bombeador, 14 para taifeiro, 14 para eletricista e três para auxiliar de saúde, além de formação de cadastro de reserva.

Para concorrer, o candidato deve possuir registro de aquaviário e estar com os documentos básicos originais devidamente atualizados pelo Cadastro e Controle e Certificação da Marinha.

A remuneração mínima varia entre R$ 3.712,67 e R$ 6.619,90, dependendo do cargo. Os admitidos também terão direito a benefícios como auxílio educacional para dependentes, plano de saúde e plano de previdência complementar.

As inscrições para o processo seletivo vão até 31 de janeiro e devem ser feitas exclusivamente pela internet. As provas estão previstas para 11 de março (auxiliar de saúde, condutor bombeador, cozinheiro e moço de convés) e 25 de março (condutor mecânico, eletricista, moço de máquinas e taifeiro), em seis cidades: Belém, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Sebastião.

Com informações da Agência Brasil

Deputados miram troca de partido de olho na Eleição


Desde que tomaram posse, em 2015, pelo menos 26 dos atuais 46 deputados da Assembleia já mudaram ou pretendem trocar de partido Foto: José Leomar

Com o fim das festas de fim de ano e o início de 2018, diversos políticos cearenses já fazem cálculos para saber que partido lhes dará melhores condições de sobrevivência após a disputa eleitoral de outubro próximo. Na Assembleia Legislativa, pelo menos 26 dos atuais 46 deputados já mudaram ou pretendem mudar de sigla com a abertura da janela partidária, entre março e abril deste ano.
De acordo com parlamentares entrevistados pelo Diário do Nordeste, as agremiações partidárias estão cada vez mais desacreditadas pela população, o que faz com que as pessoas apostem mais em votar no candidato e não mais nas legendas. Desta forma, segundo dizem alguns deputados, pouco importa ao eleitor comum o partido para o qual um pretenso candidato vá, desde que ele apresente resultado para os compromissos que assumiu com a sociedade durante a disputa eleitoral.
Nas últimas semanas de 2017, algumas mudanças aconteceram em legendas com representatividade no Ceará. Outras, ao longo da atual Legislatura, foram feitas na Assembleia, o que alterou quase que por completo a composição das bancadas da Casa. Um dos casos mais recentes ocorridos no Estado é o do deputado federal Cabo Sabino, que, apesar de ainda estar no Partido da República (PR), já acertou ingresso no Partido Humanista da Solidariedade (PHS) no mês de março.
Assessores e correligionários do parlamentar estão no comando da sigla. Já o deputado Tin Gomes, até então presidente do PHS, deve ingressar em um partido que faça parte da base governista de Camilo Santana, uma vez que a legenda humanista, segundo Cabo Sabino, a partir de agora, é “independente”.
Nos bastidores da política local, fala-se que Tin deve se filiar ao PDT, legenda que mais cresceu no Estado, nos últimos anos, com a chegada do grupo político liderado por Ciro e Cid Gomes. O partido contava com três parlamentares na Assembleia, em 2015, e atualmente está com 15, após ingresso daqueles que foram eleitos pelo PROS. Além de Tin Gomes, ainda podem se filiar ao partido os deputados Gony Arruda e Osmar Baquit, após saírem do PSD.
O deputado Sérgio Aguiar, que já foi filiado ao PSB, ao PROS e agora está no PDT, afirma que mais trocas de partidos devem acontecer com a previsão de “janela partidária” a partir de março. Segundo ele, as conveniências eleitorais, principalmente para a disputa de outubro, farão com que parlamentares busquem alternativas de viabilidade eleitoral. “Realmente, os partidos estão muito fragilizados, o que leva à tendência da personificação do postulante em detrimento da legenda partidária. E a janela pode ser considerada uma boa alternativa para os mandatários irem às urnas em melhores condições de disputa”.
Diálogo
O PROS poderá, ainda, ter um representante na Casa, visto que Capitão Wagner (PR), desde o ano passado, vem dialogando com lideranças do partido. Com isso, o PR voltaria a ter apenas um integrante na Assembleia.
Wagner sustenta que a população não acredita mais em partidos políticos e está cada vez mais votando em pessoas e não em siglas. “Isso fragiliza os partidos, e as janelas têm favorecido a migração que fragiliza ainda mais as agremiações”, afirmou.
Segundo ele, no entanto, até a próxima semana terá uma resposta sobre seu futuro no PR. Antes do início do recesso parlamentar, o presidente do grêmio, o ex-governador Lúcio Alcântara, chegou a oferecer a legenda a Wagner, que fez algumas ponderações e não respondeu se aceitava dirigir o grêmio.
Danilo Forte, que se elegeu deputado federal em 2014 pelo PMDB, se filiou ao PSB, mas no fim do ano passado ingressou no DEM, que também está buscando atrair mais nomes com densidade eleitoral para se fortalecer durante as eleições vindouras.

Presidências
Mudanças nas presidências de partidos são outro tema recorrente nos bastidores da política local, a exemplo do que aconteceu com Tin Gomes, no PHS, e Patrícia Aguiar, no PMB. Outros dirigentes podem deixar seus postos e novos nomes tendem a ocupar o comando das legendas.
Outros que mudaram de partido ao longo da atual Legislatura foram Roberto Mesquita, eleito pelo PV e agora no PSD; Lucilvio Girão, que saiu do SD para o PP; Bethrose, que foi do PRP para o PMB; Joaquim Noronha, do PP para o PRP; Fernando Hugo, do SD para o PP; Bruno Pedrosa, do PSC para o PP; e ainda Leonardo Pinheiro, do PSD para o PP.
Odilon Aguiar foi eleito pelo PROS, ingressou no PMB e, agora, com a legenda na base governista, ele estuda ir para outro partido de oposição. Já o deputado Julinho foi eleito pelo PTN, passou alguns meses no PMB, se filiou em 2016 ao PDT e pode retornar ao PMB para disputar a reeleição à Assembleia.
Independente
Walter Cavalcante, por sua vez, foi eleito pelo PMDB, ingressou no PP e deve retornar para a legenda emedebista. Tomaz Holanda protagonizou movimentação semelhante. Foi eleito pelo PPS, saiu para ingresso no PMDB e retornou ao PPS.
Já Heitor Férrer, depois de anos no PDT, se filiou ao PSB após o grupo político de Ciro e Cid Gomes ingressar na sigla pedetista. Com o partido na base governista sob o comando do deputado federal Odorico Monteiro, o parlamentar não tem pretensões de deixar o PSB, mas espera que a direção nacional do partido permita que ele atue de forma independente no Ceará, a exemplo do que fez quando membro do PDT.
Segundo Heitor, no Brasil a filiação partidária está quase sempre ligada à conveniência eleitoral. Para ele, na maioria das vezes, os partidos também são todos iguais. “Querem fortalecer a cada eleição para terem como negociar cargos no Executivo. A cada dia, o quadro político está mudando e quem vai disputar mandato passa a analisar qual partido é mais viável”.
Por Miguel Martins
Blog do Edison Silva
Com informações do Diário do Nordeste

Ministro da Indústria pede demissão. É o terceiro a sair desde dezembro



Mdic/Divulgação
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, anunciou nesta quarta-feira (3/1) que está deixando o cargo. Presidente nacional do PRB, ele entregou uma carta com o pedido de exoneração, que foi aceita por Michel Temer.
A demissão de Pereira é a terceira baixa no governo desde dezembro. Nas últimas semanas, também saíram os ministros Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Ronaldo Nogueira (Trabalho).
No texto entregue ao chefe do Executivo, Pereira explica que deixa a Pasta para se dedicar a “questões pessoais e partidárias”. Ele também destaca ações de sua gestão, como acordos feitos com a Argentina no setor automobilístico, além dos avanços nas negociações com a União Europeia
“Assumimos um governo falido, despedaçado, com todos os índices econômicos negativos e sem perspectiva de melhora à vista. Com coragem, enfrentamos os desafios que foram impostos e hoje podemos observar um país que encontrou seu curso novamente – apesar das dificuldades políticas vivenciadas”, escreveu, ainda, o agora ex-ministro.
Bispo licenciado e presidente nacional do PRB, Pereira estava à frente do ministério desde maio de 2016, quando Temer assumiu interinamente a Presidência da República com o impeachment de Dilma Rousseff.
Ele é suspeito de ter recebido propina do empresário Joesley Batista. O dono do frigorífico JBS gravou uma conversa na qual o ex-ministro não fala em dinheiro, mas menciona números. Marcos Pereira sempre negou as acusações.
Por Cláudio Fernandes
Com informações do Jornal Metrópoles 

Quem é Cristiane Brasil, a nova ministra do Trabalho

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Em seu primeiro mandato como deputada, Cristiane Brasil votou pelo afastamento de Dilma Rousseff em homenagem ao pai, Roberto Jefferson
O anúncio foi feito pelo pai, um dos condenados no escândalo do "mensalão" eentão deputado federal Roberto Jefferson: a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) será a nova ministra do Trabalho.
Ela assume o lugar de Ronaldo Nogueira, que pediu demissão no último dia 27 alegando que irá se dedicar à sua campanha pela reeleição à Câmara dos Deputados. 
Entre lágrimas e pausas dramáticas, Jefferson disse que a nomeação de sua filha é um "resgate" à sua imagem após o mensalão. O dirigente do partido foi o pivô do escândalo político iniciado em 2005 e chegou a ser condenado e preso. "É o orgulho e uma emoção que me dá. É o resgate, sabe querida, é o resgate. Fico satisfeito", disse Jefferson de acordo com informações veiculadas pela imprensa. 
O nome da deputada foi levado ao presidente Michel Temer em uma reunião no Palácio do Jaburu na tarde desta quarta-feira 3 entre Temer e Roberto Jefferson, presidente nacional do partido. Ainda segundo declarações de Jefferson à imprensa, Temer consultou o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes (GO), e telefonou para a nova ministra para saber se eles aceitariam o convite. E teve resposta afirmativa de ambos.
Cristiane encerra em 2018 seu primeiro mandato como deputada federal, foi eleita em 2014 justamente defendendo o legado do pai, que teria sido vítima de uma injustiça ao denunciar para a imprensa o mensalão.  
Em 2015, seu primeiro ano, Cristiane foi autora de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe a reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Pelo texto, só seria permitida a candidatura "para um único período subsequente, sendo proibida, a reeleição por períodos descontínuos".
No mesmo ano, servidoras da Câmara protestaram contra a proposta da deputada de aprovar um código de vestimenta para banir minissaias e decotes mais ousados dos corredores e salões da Casa.
Cristiane no impeachment de Dilma
No ano seguinte, em abril de 2016 Cristiane era também presidente de seu partido, o PTB e um de seus últimos atos à frente da sigla foi justamente fechar a questão a favor doimpeachment da então presidente Dilma Rousseff.
Na votação na Câmara, no dia 17 daquele mês, Cristiane usou o símbolo dos favoráveis à saída da ex-presidente, a camisa da seleção brasileira, para declarar seu voto. No discurso, lembrou a cassação do mandado do pai, onze anos antes, e votou pelo afastamento de Dilma em "homenagem" ao pai.
Em 2017 Cristiane apoiou o governo de Michel Temer em questões decisivas, como a PEC do Teto dos Gastos Públicos e a terceirização para todas as atividades. Votou também a favor da reforma trabalhista e contra a abertura de investigação de Temer, que poderia afastá-lo da presidência da República.
Também no ano passado Cristiane foi contra Projeto de Lei 5069/2013, que cria uma série de dificuldades para mulheres vítimas de estupro serem submetidas legalmente a um aborto.
"Este projeto é um dos maiores retrocessos do Brasil para os direitos duramente conquistados pelas mulheres. Com sinceridade, vou fazer de tudo pra derrubá-lo no Plenário da Câmara", declarou à época da aprovação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O projeto depende de aprovação em Plenário e não há data marcada para a votação. 
Suplente é irmão de Garotinho
Com a ida para o Ministério, Cristiane deixa aberto seu lugar na Câmara, que será ocupado pelo suplente Nelson Nahin (PSD-RJ), irmão do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho. Assim como Garotinho, que ficou preso por cerca de um mês no final do ano passado por crimes eleitorais, Nahin também é ex-presidiário. 
O novo deputado foi preso com outras 12 pessoas, em junho de 2016, numa ação da Polícia Civil e do Ministério Público sob a acusação de participar de uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes em Campos de Goytacazes (RJ).
Como suplente, na atual legislatura, Nahin já assumiu mandato de deputado federal por duas vezes, em dezembro de 2015, por apenas um dia, e em janeiro de 2017, por cerca de duas semanas. 
Com informações da Revista Carta Capital

Em 2018, a nação fica entre a esperança e a ameaça

Gilmar Mendes e Michel Temer
Mendes e Temer, associados na empreitada de suprimir a democracia
A análise retrospectiva, de um ano ou de um século, é bem mais fácil do que a antecipação de processos que ainda estão em gestação. Certas dinâmicas sociais, frequentemente, são percebidas apenas quando seus efeitos se expõem à luz do dia.
O cientista social está fadado a ser um “engenheiro de obra feita”.  O mergulho no passado serve para a compreensão dos fatos novos. Os dias que estão por vir estarão condicionados pelos dias que se foram.
O ano de 2018 foi gestado, mais acentuadamente, a partir de junho de 2013, naquelas jornadas cuja natureza ainda não nos foi dada ao pleno conhecimento. O próximo ano poderá representar tanto a prorrogação de 2017 quanto o seu fim, dramático ou sereno, dando início a um novo ciclo, que se distinguirá do pacto reacionário por apontar para o restabelecimento do projeto desenvolvimentista e inclusivo.
Um novo pacto, este popular, afastará do horizonte as ameaças de hoje, que não se reduzem às consequências do neoliberalismo radical. Mais grave, mais pungente, é a radicalização conservadora, como pensamento, ação, política, governo, valores sociais e ideologia.
O conflito, que não favorece os projetos de conciliação de classe, utopia de setores da esquerda, presidirá as manobras da direita e condicionará as movimentações do campo popular, independentemente dos partidos e das candidaturas postas e por serem anunciadas.
Essa radicalização percorre a crônica dos últimos anos. Desconhecida desde o fim do período militar, foi, a partir do golpe de 2016, assumida como política de Estado. A radicalização cresce, se espraia e se aprofunda à mercê de uma formação que conta em suas linhas, agindo em uníssono, além dos Três Poderes constitucionais, o poder econômico sob a liderança do capital financeiro, e o monopólio da mídia, um e outro “Estados” dentro do Estado.
Para preservar seus interesses e pagar “dividendos” aos seus financiadores, essa coalizão depende da radicalização e aprofundamento de suas teses reacionárias. Depende do avanço das medidas antipopulares e antinacionais que explicam o impeachment.
Além do mais, a direita e seu governo têm pressa: 2018 foi anunciado como o termo da aventura. Atores, coadjuvantes e beneficiários, daqui e de todos os mares, sabem que lhes resta pouco tempo, pois o próximo ano será marcado por eleições gerais, nas quais avulta mais e mais a influência de Lula. Sua eleição, como a de Ciro Gomes, a de Guilherme Boulos ou a de Manuela D’Avila sustará a continuidade da regressão social.
Assim, se é possível adiantar uma característica do incógnito 2018, será o avanço do autoritarismo e da arbitrariedade, que compreendem a violência física e a violência contra os interesses da nação e do País, a repressão aos movimentos sociais, alcançados pelo desemprego, pelas restrições ao sindicalismo e pelos ataques à proteção social e à Previdência, punindo os mais pobres. Os ataques às universidades federais não constituem fatos isolados.
Judith Butler
Os protestos em São Paulo contra Judith Butler provam: o moralismo virou uma arma para iludir os parvos (Nelson Almeida/AFP)

Como sempre, desde 1831 ao menos, é a direita que toma a iniciava, indica o campo de batalha e escolhe as armas, desta feita o conflito que abre espaço para a ruptura.

sse deverá ser, porém, um dos braços da história próxima, não será a História toda. Outros valores e outros agentes sugerem a confrontação, em termos ainda não antecipáveis, simplesmente porque a toda ação corresponde uma reação, e esta, para sobrepor-se ao desafio, deverá ser mais contundente do que a ameaça.
A esperança de que as forças populares enfrentarão o desafio sobrevive, pois a radicalização da direita será a fonte inevitável da radicalização das esquerdas, se superarem a fragilidade atual das organizações partidárias e se reerguerem no processo eleitoral, que estimula debates e mobilizações de massa.
As eleições, aliás, na especificidade deste 2018, poderão ser um divisor de águas, que revelará, como a imagem no espelho, no debate e no voto, as dicotomias classe versus classe, desenvolvimento vs. estagnação, soberania versus dependência, democracia versus autoritarismo.
Não poderão se afastar dessa agenda os candidatos que trafegam no campo do centro-esquerda: serão gradativamente empurrados para a esquerda tout court pela dinâmica do processo político-eleitoral. 

Lula anuncia que a Carta aos Brasileiros de 2002, dirigida aos banqueiros, perdeu sentido. Promete novo manifesto-compromisso, dirigido agora ao povo, às massas subalternas, operários e camponeses, proletários urbanos que sobrevivem nos serviços e àqueles setores da classe média perdidos no último quinquênio.

Em outras palavras, ainda que busque fortalecer sua imagem de conciliador, Lula será envolvido pelas circunstâncias: à ofensiva ideológica da direita não poderá responder senão retomando teses tradicionais da esquerda abandonadas em seu governo, por este ou aquele motivo, destacando-se o desequilíbrio da correlação de forças.
Vem pra rua
Quase cinco anos depois, os protestos de 2013 ainda não foram claramente interpretados (Christophe Simon/AFP)
Os dados de hoje dizem que, realizadas as eleições nos termos da legislação vigente, ou seja, sem casuísmos legais ou jurisdicionais, o que se pode chamar de campo da esquerda deverá crescer e, a depender do apoio popular, terá condições políticas e fáticas de reverter muitas das medidas impostas pelo atual ajuntamento que nos acostumamos a chamar de governo.
Ajuntamento que, ademais, pode ter muitos de seus personagens, a começar pelo comandante da súcia, chamados às barras da Justiça. Despidos das armas do poder e do foro privilegiado, governantes e agentes do golpe responderão a processos na Justiça de primeira instância, levando para 2019 o clima tenso vivido em 2017.
Os dados de hoje ainda dizem que nem a aliança governista nem o conjunto da direita partidária conseguiram criar uma candidatura em condições de barrar o retorno de Lula, com todos os seus desdobramentos óbvios. Sabem disso os estrategistas do sistema, de dentro e de fora do País.
 A História não se repete, mas a expectativa de 2018 traz à reflexão a crise de 1955, quando o governo golpista que derrubara Getúlio Vargas se viu diante da eleição de Juscelino Kubitschek e de Jango. A reação político-militar-midiática, com o apoio da Fiesp de então, via, passado pouco mais de um ano após a tomada do poder, em eleições que não pôde evitar, frustrado o sonho de “exorcizar a era Vargas”.  
Lançada, a candidatura de Juscelino foi declarada inaceitável pelos ministros militares e na Justiça foram interpostos recursos contra seu registro. Eleito, JK teve de enfrentar nova ofensiva político-judicial contra sua diplomação.
Diplomado, sua posse foi questionada por um novo golpe militar, sufocado (a crise e o golpe e o contragolpe de 11 de novembro de 1955). Empossado, ainda enfrentaria dois levantes militares e pedidos de impeachment. No governo e fora dele, como Vargas e Lula, foi acusado de corrupção.
Cassado em 1964, processado, nada foi encontrado pelos militares que pudesse condená-lo.
A ordem golpista vinha articulada desde 1945 e alcançou seu apogeu em 1964. Retorna agora, dispensando as Forças Armadas de um papel precursor.

Em 1961, com a renúncia de Jânio, enfrentamos uma nova tentativa de golpe, com o veto dos ministros militares à posse de Jango, vice-presidente constitucional. O golpismo puro e simples foi derrotado nas ruas pelo levante popular comandado por Leonel Brizola.
Polícia Federal
A Polícia Federal, um dos braços da frente político-partidária que une a Justiça, a mídia e o Ministério Público (Uarlen Valerio/O Tempo/Folhapress)
Mas os acertos pelo alto, a conciliação que preserva os interesses dos dominantes, contornaram a História que o povo escrevia. Com a pressão da rua, militares e civis chegaram à fórmula palatável: a subtração dos poderes reservados a Goulart pelo presidencialismo. O parlamentarismo oportunista foi em horas implantado por um Congresso de cócoras. Jango assumiu como queriam os militares, para reinar sem governar.
A história não se repete, mas o que assistimos, em face da candidatura Lula e sua potencial eleição, nos lembra idos vividos. Além dos meios de comunicação de massa, em sua faina visando a desconstrução da imagem do ex-presidente, agem, de mãos dadas, o Poder Judiciário (de juízes de piso como Sergio Moro até o STF, passando pelo TSE e tribunais superiores regionais), o Ministério Público e a Polícia Federal.
O intuito não é apurar pretensas irregularidades cometidas por Lula, mas impedir, hoje, sua candidatura; amanhã, sua diplomação, a posse e seu governo, ao preço mesmo de sua liberdade, ameaçada por condenações anunciadas.
Essas considerações levam em conta uma tese: as eleições de 2018 não estão asseguradas, pois poder nenhum põe a corda no pescoço com suas próprias mãos. Escrúpulos à parte, tudo será feito para que a súcia que tomou conta de Brasília garanta a conservação do poder ilegítimo.
Para tal, há um roteiro prefixado. Ele começa com a necessidade de impedir a eleição de Lula (ou de quem quer que seja que conteste o atual establishment), mas aí não se encerra.
Para a eventualidade da eleição de um oposicionista, o sistema tirou do colete a carta que anuncia novo golpe dentro do golpe, o esvaziamento do presidencialismo e dos poderes do presidente da República, um parlamentarismo de fato, ou um “presidencialismo mitigado” implantado mediante emenda constitucional, fórmula com a qual os feiticeiros do Palácio do Jaburu esperam contornar a necessidade de consulta popular. 
 
Uma das marcas de 2018 deverá ser uma nova saga em defesa da legalidade e da democracia, que compreenderá a defesa das eleições, a segurança de que Lula poderá disputá-las e da garantia da preservação dos poderes do presidente da República, com a rejeição de fórmulas parlamentaristas, disfarçadas ou não.

O próximo ano girará entre a esperança de retomada do desenvolvimento e de construção de uma sociedade minimamente igualitária, e a ameaça de consolidação de um projeto protofascista, antinacional e antipopular e anacrônico. 
Será, pois, um ano de turbulências, como o foram os antecedentes. Mas, desta feita, tomado pela disputa ideológica, abandonada pelas esquerdas desde ao menos 2002. Será 2018, igualmente, a última oportunidade para a construção da unidade das forças democráticas e populares, que se impõe como imperativo histórico. 
Por Roberto Amaral
Com informações da Revista Carta Capital