23 de julho de 2014

Velho conhecido dos palmeirenses é o artilheiro do país na temporada

Lembra dele? Com passagens recentes por Palmeiras e Cruzeiro, Robert vive grande fase no futebol cearense. O jogador está defendendo o Fortaleza e, com 24 gols no ano, é o artilheiro do país na temporada.
Robert foi contratado pelo Palmeiras em 2009, vindo do América do México. O jogador chegou com status de artilheiro mas não convenceu os torcedores, que logo questionaram seu trabalho. Pelo clube paulista foram 43 jogos e 19 gols anotados, marca que já foi ultrapassada com a camisa do Fortaleza.

O atacante foi o artilheiro do Leão no Campeonato Cearense com 21 gols. Na série C, são três gols marcados. O retrospecto com a camisa do Fortaleza só é superado pela passagem pelo futebol Mexicano, quando defendeu o Atlas. Na oportunidade, em 2004, Robert foi o artilheiro do Clausura com 32 gols.
O jogador é perseguido de perto pelos atacantes Lima, cujo defendia o Paysandu e foi transferido para o Ceará, e Magno Alves, também do Vozão. A dupla já anotou 20 gols na temporada. Entre os clubes da Série A, os maiores goleadores são do Grêmio e do Sport. Barcos e Neto Baiano já balançaram as redes 17 vezes em 2014.
LANCE!Net

Ariano transformou o ‘matuto’ do interior em estrela de cinema

O escritor Ariano Suassuna posa em sua casa, no bairro de Casa Forte, Recife, em 13 de junho de 2005 (Foto: Rodrigo Lobo/Estadão Conteúdo)O escritor Ariano Suassuna posa em sua casa, no bairro de Casa Forte, Recife, em 13 de junho de 2005 (Foto: Rodrigo Lobo/Estadão Conteúdo)
Escritor, dramaturgo, professor e político, Ariano Suassuna se encontrava mesmo era na arte, que considerava a sua “festa”. Do primeiro contato com o circo e com peças colegiais, no Sertão paraibano, até a diversificada biblioteca que encontrou em uma escola do Recife quando ainda era estudante do ensino fundamental, o menino franzino sempre apontou sinais de que seria um artista em sua essência, completo. Após 87 anos de vida e um legado inegável na literatura, no teatro, nas artes plásticas e até na música, o Brasil se despede de um dos maiores ícones da cultura nordestina nesta quarta-feira (23).

Filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, na época governador do estado da Paraíba, e Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano Villar Suassuna nasceu no dia 16 de junho de 1927, no Palácio da Redenção, na cidade da Parahyba, atual João Pessoa. O oitavo filho do casal passou seus primeiros anos em meio a uma situação política conturbada – o Brasil vivia os momentos que antecederam a derrubada das oligarquias, com a Revolução de 1930.

A última vez que vi meu pai foi no cais do Recife. A gente veio trazer meu pai para ele ir ao Rio – onde foi assassinado. Só me lembro desse momento: ele já no navio, mamãe me apontando. Eu não via. De repente, enxerguei: meu pai estava emoldurado pela janela do navio – dando [adeus] com a mão. Aquela foi a última vez que o vi"
Ariano Suassuna
A instabilidade social em que o país estava mergulhado iria deixar marcas que seguiriam em Ariano por toda a sua vida. Político influente em todo o Nordeste, em 1928, João Suassuna decide se mudar para a Fazenda Acauhan, no Alto Sertão paraibano, para evitar seus inimigos de poder. Na trajetória para encontrar paz, a família chegou a passar um ano na cidade de Paulista, no Grande Recife. Porém, em 9 de outubro de 1930,  em uma viagem ao Rio de Janeiro, o pai de Ariano foi assassinado com um tiro pelas costas.
A saudade até do que não conseguiu compartilhar com seu pai perseguiu Ariano para sempre. Em entrevista dada ao jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, do canal Globonews, veiculada em 15 de junho de 2013, o escritor revelou que ainda buscava perdoar os assassinos de seu pai – possivelmente morto devido à rivalidade política com João Pessoa, então governador paraibano, candidato a vice-presidente da República e assassinado em junho de 1930, no centro do Recife.  Mesmo com apenas três anos de idade quando o crime aconteceu, as memórias permaneceram na mente de Ariano.

“A última vez que vi meu pai foi no cais do Recife. A gente veio trazer meu pai para ele ir ao Rio – onde foi assassinado. Só me lembro desse momento: ele já no navio, mamãe me apontando. Eu não via. De repente, enxerguei: meu pai estava emoldurado pela janela do navio – dando [adeus] com a mão. Aquela foi a última vez que o vi”, disse o escritor na ocasião.

Viúva e mãe de nove filhos, Rita Suassuna passa a morar em Taperoá, Sertão da Paraíba, a cerca de 240 km de João Pessoa. Na cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e teve o primeiro contato com a arte teatral, com o circo e pequenos eventos. Em 1937, já com 10 anos, o escritor se muda para o Recife, onde torna-se interno do Colégio Americano Batista – apenas cinco anos depois, toda a família Suassuna passa a viver na capital pernambucana. 

Aos 12 anos, Ariano começa a nutrir o desejo de se tornar um escritor, quando faz o seu primeiro conto. Entretanto, apenas em 1945 Ariano tem publicado o seu primeiro texto, o poema "Noturno", no Jornal do Commercio, do Recife.  O poema foi enviado ao jornal, em segredo, pelo professor de Suassuna, Tadeu Rocha, que havia percebido ali um talento. Nesta época, os textos de Ariano eram ilustrados pelo seu amigo Francisco Brennand, que mais tarde se tornaria um dos mais renomados artistas plásticos do Brasil.

Após terminar os estudos secundários, Ariano passa a estudar na Faculdade de Direito do Recife. Junto aos anos de formação como advogado – profissão que ele detestava –, Suassuna se firmou no campo da arte. Em 1946, no Teatro de Santa Isabel, no centro da capital, acontece o que ele considerava sua primeira aula-espetáculo. Dois anos mais tarde, Ariano escreve sua primeira peça teatral: "Uma mulher vestida de sol", ganhando o prêmio Nicolau Carlos Magno. Nesse mesmo ano, conhece sua futura esposa, Zélia de Andrade Lima, no centro do Recife.

Ariano Suassuna usa jornal para criticar situação da música brasileira durante aula-espetáculo (Foto: Débora Soares / G1)Ariano Suassuna usa jornal para criticar situação da música brasileira durante aula-espetáculo (Foto: Débora Soares / G1)
O alcance da cultura nordestina
Com quatro anos de formado, em 1954, Ariano Suassuna abandona a carreira de advogado e se dedica inteiramente ao ofício de artista. "Queimei os livros de direito. Foi uma coisa simbólica, não queria mais nada com direito", contou o escritor em entrevista ao Jornal da Globo, em 2007. Um ano depois, ele escreveria um dos seus maiores clássicos: "O Auto da Compadecida", texto baseado em três narrativas do romanceiro nordestino.

Na primeira encenação, no Teatro de Santa Isabel, no Recife, em 1957, a peça não teve sucesso de público. Suassuna, então, levou o Auto da Compadecida para participar de um festival de estudantes no Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina, centro da cidade. A obra ganhou o primeiro lugar e explodiu nacionalmente com o sucesso.  Em toda a sua trajetória como escritor, a obra é considerada a mais famosa, devido às adaptações para a televisão e o cinema.

Vejo os melhores artistas brasileiros deixados de lado e trocados por lixo cultural que vem de fora e nos é empurrado por goela abaixo. Por essa preocupação, resolvi reunir um grupo de artistas de todas as áreas e que tivessem preocupações semelhantes às minhas, para, juntos, procurarmos uma arte brasileira erudita fundamentada na raiz popular da nossa cultura"
Ariano Suassuna, sobre o Movimento Armorial
Com o reconhecimento que ia conquistando, Ariano começou a escrever, em 1958, aquele que considera o seu melhor livro: o “Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”, que só foi concluído em 1970. Na época, Suassuna já havia se tornado professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura, além de ter começado a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares.

A data que marcou o início de fato do movimento foi 18 de outubro de 1970. Na Igreja São Pedro dos Clérigos, no centro do Recife, foi promovido o concerto "Três séculos de música nordestina - do Barroco ao Armorial" e inaugurada uma exposição de gravuras, pinturas e esculturas.
Em entrevista à Globo Nordeste em 2006, Ariano falou sobre o que o motivou a criar um movimento artístico de resgate da arte genuinamente brasileira. “Eu comecei a ficar preocupado com o processo de vulgarização e descaracterização da cultura brasileira. O processo hoje que infelizmente está em curso. Por isso, o Armorial continua atual e atuante. Essa luta não pode parar. Vejo os melhores artistas brasileiros deixados de lado e trocados por lixo cultural que vem de fora e nos é empurrado por goela abaixo. Por essa preocupação, resolvi reunir um grupo de artistas de todas as áreas e que tivessem preocupações semelhantes às minhas, para, juntos, procurarmos uma arte brasileira erudita fundamentada na raiz popular da nossa cultura”, destacou.

Quatro anos após a criação do Movimento, o grupo instrumental Quinteto Armorial lança seu primeiro disco: "Do romance ao galope nordestino". O quinteto era formado pelos músicos Antônio José Madureira, Antônio Carlos Nóbrega, Fernando Torres Barbosa, Edilson Eulálio e Egildo Vieira e foi sucesso de crítica na época.

O escritor Ariano Suassuna será homenageado na Bienal  (Foto: Alexandre Nóbrega/divulgação)Escritor Ariano Suassuna posa na janela da sua casa, na Zona Norte do Recife (Foto: Alexandre Nóbrega/divulgação)
Política e reconhecimento
Em 1975, Ariano começou a ter contato direto com a política, tornando-se secretário de Educação e Cultura da cidade do Recife. Dentre seus feitos, está a fundação do Balé Popular da capital pernambucana. Nos anos seguintes, Suassuna chegou a escrever alguns livros de poesia, como “Sonetos com mote alheio” (1980), “Sonetos de Albano Cervonegro”, e outras peças de sucesso, como “As conchambranças de Quaderna”.

Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo da UFPE, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990. Três anos depois, foi realizada, na cidade de São José do Belmonte, Sertão de Pernambuco, a primeira festa da Pedra do Reino – uma cavalgada em que os participantes usam trajes como os descritos no romance de Ariano Suassuna.

“Para mim não tem diferença [entre viver e escrever], porque escrever foi a maneira que encontrei para enfrentar essa cruel, às vezes, injusta, mas também fascinante e bela tarefa de viver"
Ariano Suassuna
Nos anos 1990, Ariano se tornou figura pública ainda mais conhecida, com as adaptações de “Uma Mulher Vestida de Sol” (1994) e “O Auto da Compadecida” (1999) para a Rede Globo de Televisão – a segunda obra ainda virou filme em 2000, dirigido pelo pernambucano Guel Arraes e sendo um dos maiores sucessos de bilheteria e crítica do cinema nacional. Em 2006, "A Pedra do Reino" também virou série de televisão, dirigida por Luiz Fernando Carvalho – as cenas foram gravadas em Taperoá e reuniam mais de 200 pessoas.
Como político, Ariano foi nomeado, em 1995, secretário estadual da Cultura pelo então governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Em 2007, assumiu novamente a função no primeiro governo de Eduardo Campos. O último cargo ocupado foi o de secretário-chefe da assessoria especial do governo de Pernambuco, em 2011.
O legado que Ariano Suassuna deixou para o Nordeste e para o Brasil é inegável. Ele transformou o “matuto” do interior em estrela máxima de cinema e criou universos mágicos em meio à seca e à pobreza do Sertão nordestino. Ariano foi apaixonado por sua terra, pelo seu país, e, até os últimos dias, militou pela arte de qualidade, ao alcance de todos os brasileiros. Uma vez, ele respondeu o que ele preferia: a vida ou literatura. Para Ariano, uma não se desvencilhava da outra. “Para mim, não tem diferença, porque escrever foi a maneira que encontrei para enfrentar essa cruel, às vezes, injusta, mas também fascinante e bela tarefa de viver".

Vitor TavaresDo G1 PE

Morre aos 87 anos o escritor Ariano Suassuna, o cavaleiro do sertão


O escritor paraibano Ariano Suassuna morreu nesta quarta-feira, aos 87 anos. Ele estava internado no Real Hospital Português, em Recife, Pernambuco, desde segunda-feira, depois de sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico. O autor passou por uma cirurgia de emergência, acabou entrando em coma e não resistiu. Integrante da Academia Brasileira de Letras, Suassuna teve seis filhos e 15 netos. Defensor da cultura popular brasileira, era um dos maiores dramaturgos do país, além de autor de romances e poemas.

No dia 21 de agosto do ano passado, ele foi atendido no mesmo hospital por causa de um infarto, “com comprometimento cardíaco de pequenas proporções”. Uma semana depois, passou mal e voltou a ser internado, sendo submetido a uma arteriografia para corrigir um aneurisma que vinha lhe provocando fortes dores de cabeça.


Nascido em 16 de junho de 1927 em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, Ariano Vilar Suassuna era filho de João Suassuna, então governador de seu estado natal. Com o fim do mandato, um ano depois, toda a família se mudou para o interior.

O velho contador de histórias do sertão tinha apenas 3 anos quando um fato trágico marcou sua infância. No desenrolar da Revolução de 1930, um pistoleiro de aluguel assassinou seu pai com um tiro pelas costas, numa rua do Rio de Janeiro.

O assassinato foi motivado por boatos que apontavam o patriarca da família Suassuna como mandante da morte de João Pessoa, seu sucessor no governo, fato que serviu de estopim para a revolução. Um ambiente assim, com dívidas de sangue e rivalidade entre famílias, cobrava dos órfãos a vingança. Mas, um dia antes de ser assassinado, João Suassuna deixou uma carta aos nove filhos pedindo que eles não se tornassem assassinos por sua causa.


UMA BIBLIOTECA DE HERANÇA

Ariano Suassuna obedeceu. Em vez disso, dizia estar perto de perdoar os criminosos que mataram seu pai. A mãe e viúva também ajudou, ao dizer que o pistoleiro responsável pelo crime já havia morrido (era mentira). Com a tragédia, a família mudou-se para a pequena cidade de Taperoá, no interior da Paraíba. E Ariano herdou a biblioteca do pai, onde encontrou livros importantes para sua formação. Um dos mais importantes, sem dúvida, foi “Os sertões”, de Euclides da Cunha. A obra lhe apresentou um dos personagens que mais marcaram sua vida: Antônio Conselheiro, profeta e líder de Canudos.

Em 1942, Suassuna foi para Recife concluir o ensino básico. Anos depois, na faculdade de Direito, ajudou a fundar o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, encenou sua primeira peça: “Uma mulher vestida de sol”. Nove anos depois, levaria aos palcos seu texto mais conhecido, “Auto da Compadecida”, que ganharia adaptações na TV e no cinema.


Matheus Nachtergaele e Selton Mello na versão de "Auto da Compadecida" para o cinema dirigida por Guel Arraes no ano 2000 - Divulgação/Nelson di Rago
Por causa do teatro, deixou o Direito de lado seis anos após ter se formado. O romance surgiu mais tarde em sua vida. Em 1971, Ariano Suassuna lançou seu “Romance d’a pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta”, com nome comprido como seus cordéis tão adorados e pensado para ser uma trilogia. Com o livro, o escritor avança em relação à literatura regionalista dos anos 1930, representada por João Guimarães Rosa e José Lins do Rego. Mais tarde, Ariano Suassuna diria que “A pedra do reino” era, de certa forma, uma tentativa de trazer seu pai de volta à vida.

Havia quem acusasse o escritor de lutar contra moinhos de vento: o escritor se apresentava como um defensor da cultura popular brasileira, contra a invasão da indústria cultural norte-americana. Falava mal de Madonna e Michael Jackson. Não à toa, quando foi secretário de Cultura do governo Miguel Arraes, nos anos 1990, tornou-se um ferrenho opositor do maracatu eletrônico e do manguebeat. Ele se recusava, por exemplo, a chamar Chico Science, o vocalista da Nação Zumbi, pelo nome artístico. Dizia “Chico Ciência”.



A defesa da cultura nacional, que muitas vezes lhe rendeu o rótulo de xenófobo, já vinha no sangue e no nome da família. Na onda nacionalista depois da Independência, em 1822, vários brasileiros adotaram nomes indígenas. Seu bisavô Raimundo Sales Cavalcanti de Albuquerque escolheu Suassuna, de origem tupi, e nome de um riacho da região onde a família vivia. Nos anos 1970, fazendo jus ao nacionalismo da linhagem, Ariano fundou o Movimento Armorial, que defendia a criação de uma cultura erudita com bases na cultura popular — e toda a sua obra orbita em torno desse ideal. 
Em 1989, o sertanejo foi eleito para a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono era Araújo Porto-Alegre. Sexto ocupante da cadeira, Suassuna nunca foi um imortal de frequentar os eventos da instituição. Era uma espécie de filho pródigo da ABL.


NOVA OBRA VINHA SENDO ESCRITA HÁ MAIS DE 20 ANOS

Para além de sua obra, o escritor paraibano ficou famoso também por dar aulas em que dissecava a cultura brasileira, as suas origens ibéricas, a tradição dos violeiros, dos cantadores, das rabecas, dos cordéis. Eram aulas-espetáculo. E a última foi na sexta-feira passada, no 24º Festival de Inverno de Garanhuns, a 230 quilômetros de Recife. O Teatro Luiz Souto Dourado ficou lotado, como sempre acontecia nesses eventos. Um dos motivos de tanto sucesso era o bom humor do escritor, uma de suas marcas. Não que tenha sido sempre assim. Suassuna atribuía o aparecimento do humor em sua vida ao encontro com Zélia, sua mulher há mais de 50 anos. Para Suassuna, ela havia “desatado alguma coisa” dentro dele. “O riso a cavalo e o galope do sonho são as duas armas de que disponho para enfrentar a dura tarefa de viver”, escreveu em “A pedra do reino”.


Ariano Suassuna e sua mulher, Zélia, em março de 2000 - Agência O Globo/Josenildo Tenório/6-3-2000
Ariano Suassuna trabalhava em um novo livro havia mais de 20 anos, e dizia estar longe de terminar. Não era para menos. Seu processo de criação era lento: escrevia e reescrevia, várias vezes, à mão. Depois, copiava para a máquina de escrever e, só então, corrigia. Era aí que o escritor passava tudo a limpo, novamente à mão. Às vezes, descartava todo o material e voltava ao começo do processo. Como ilustrava os próprios livros e ainda parava para dar suas famosas aulas-espetáculo pelo país, demorava mais ainda. Sem título, o romance seria a continuação de “A pedra do reino”.


Além do amor pela literatura, havia espaço para o futebol: seu time do coração era o Sport Club do Recife, que até o homenageou em seu uniforme em 2013 com uma frase que ele costumava repetir: "Felicidade é ser Sport". Suassuna tinha fama de pé quente.

Entre as muitas homenagens que recebeu, uma das que mais o marcaram foi o desfile da escola de samba Império Serrano, que levou para a avenida o enredo "Aclamação e coroação do imperador da pedra do reino Ariano Suassuna", em 2002. "Um escritor que ama o seu país não pode querer homenagem maior que esta", disse.

Em 2007, ele assumiu a secretaria de Cultura de Pernambuco a convite do governador Eduardo Campos, e chegou a ocupar outros cargos até deixar o governo recentemente, em abril de 2014.

O ano de 2007 também foi marcado pela celebração dos 80 anos do escritor em todo o Brasil. As homenagens o levaram a viajar de Norte a Sul do país. Uma epopeia para um homem que, além de apreciar o sossego, detestava avião. Mesmo assim, o apaixonado e muitas vezes polêmico defensor da cultura popular brasileira seguia adiante. Mas brincava: se soubesse que chegar aos 80 anos daria tanto trabalho, teria ficado nos 79.