Prestes a completar 75 anos, o cantor e compositor cearense Messias Holanda está se recuperando de um acidente doméstico. Para ajudar no custeio da reabilitação, uma turma de artistas locais se reúne na próxima quinta-feira (12) no palco do Theatro José de Alencar para um tributo especial. O show acontece no dia em que o mestre faz aniversário e toda renda será revertida para o tratamento do compositor de sucessos como “Pra Tirar Coco”.
Os músicos Waldonys, Sirano, Adelson Viana, Estrela do Norte, Freitas Filho e Maestro Sardinha, Eugênio Leandro e Guidomar, Cacimba de Aluá, além das bandas Os Moringas, Juruviara e Trio Murici vão puxar o show. No repertório, músicas de Messias Holanda serão mescladas com o trabalho de cada artista que se apresentarão na noite.
De acordo com a produção, o grande homenageado não poderá cantar no show em virtude da fragilidade do quadro de saúde, mas deverá prestigiar o tributo e ganhar os parabéns de músicos e público no encerramento do tributo. Os ingressos para apresentação são vendidos a R$10 na bilheteria do Theatro José de Alencar.
O Departamento de Trânsito do Ceará (Detran/CE) aderiu, terça-feira (dia 3), ao Sistema de Notificação Eletrônica (SNE), solução desenvolvida pelo Serpro, para permitir que o proprietário de veículo tenha desconto de 40% no valor da multa. O desconto foi determinado pela Lei 13.281, publicada em maio do ano passado, que altera o Código de Trânsito Brasileiro. O SNE foi criado para o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), para que o Detran de todos estados brasileiros faça adesão para usá-lo.
Nesta primeira etapa, o abatimento só será possível para multas interestaduais aplicadas por infrações cometidas fora do estado, mas, em breve, também vai contemplar multas estaduais. O SNE permite ainda uma comunicação mais eficiente e ágil entre motoristas e órgãos de trânsito, diminuindo consideravelmente o tempo de envio das notificações de infração.
O Detran/CE recebe cerca de 15 mil multas interestaduais emitidas todos os meses pelo órgão e a adesão ao sistema vai garantir uma economia significativa em gastos com papel, impressão e envio de notificações, além de reduzir também os custos com processos operacionais.
Para ter direito ao desconto de 40%, o condutor do veículo, além de ter que fazer o cadastrado no SNE, deve reconhecer o cometimento da infração de trânsito. O sistema está disponível aos usuários pela internet ou por aplicativo, bastando acessar o site sne.denatran.serpro.gov.br ou fazer o download gratuito do aplicativo SNE DENATRAN para smartphones e tablets nas lojas virtuais Google Play ou Apple Store.
Até o momento, já foram realizados mais de 360 mil downloads do aplicativo. Após o cadastro, o usuário vai passar a receber todas as notificações de infrações de forma eletrônica, além de conhecer detalhes de cada multa, reconhecer a infração, copiar o código de pagamento e, ainda, fazer download do formulário de indicação do condutor responsável pela infração.
Brevemente, o desconto de 40% também será possível para multas estaduais. Para que isso aconteça, o Detran/CE precisa encaminhar as informações sobre as infrações de trânsito estaduais ao Serpro, o que deve ocorrer até abril de 2017. A expectativa é que, até essa data, as mais de 1.600 instituições de fiscalização de trânsito no Brasil já tenham aderido ao SNE. Com isso, os proprietários do País poderão pagar as multas de transito com desconto de 40%.
Lançado em novembro de 2016 pelo Serpro e Denatran, o SNE já conta com a adesão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF), e Detran do Ceará, Alagoas, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Com informações do Detran-Ce
O Detran iniciará, na próxima segunda-feira, dia 2 de janeiro, a emissão do novo modelo da Carteira Nacional de Habilitação, CNH, para o cidadão que finalizar o processo de obtenção da sua primeira carteira de motorista ou realizar exame médico para renovação do documento ou mesmo solicitar a segunda via. O novo desenho da CNH foi impresso com 22 novos itens de segurança. Outra diferença é que o documento traz o mapa e o nome do Estado onde foi emitido.
O antigo modelo continua valendo. Por isso, os portadores da CNH com modelo antigo, emitido para quem já concluiu o processo da obtenção da primeira carteira, renovação ou segunda via, podem permanecer com o documento até a data da sua validade, sem nenhum problema.
O Detran continua com o procedimento de encaminhar, via Correios, o documento de habilitação para a residência dos usuários. Por isso, a partir de segunda-feira, a CNH com o novo modelo deverá chegar a residência de quem concluirá o processo da primeira carteira, renovação ou segunda via em até 10 dias.
Entre os 22 itens de segurança, destacam-se seis: microletras positivas e distorcidas duplex, numeração fotográfica fluorescente; imagem secreta com a sigla CNH, fundo numismático duplex com Brasão da República incorporado e efeito íris; sigla dos estados, em tinta prata fluorescente; e papel de segurança especial com marca d´água Denatran.
O líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, apóstolo Valdemiro Santiago, recebeu alta horas após ser atingido por uma facada durante um culto na manhã de ontem, na igreja do Brás, centro da capital paulista. Ele foi liberado no domingo (8) do Hospital Sírio Libanês, que fica na região central de São Paulo, por volta do meio-dia.
Em casa e ao lado da mulher, a bispa Francileia, o religioso gravou um vídeo e o postou na página da igreja no Facebook. "Eu nem vi o sujeito, só lembrei que eu tinha abaixado para dar um abraço em uma pessoa, e era ele. Ele já está abençoado, está perdoado, quem sou eu para negar perdão", contou.
Valdemiro disse ainda: "Era para eu ter morrido. O doutor falou comigo: você nasceu de novo".
O pastor foi esfaqueado no pescoço e nas costas pelo ajudante-geral Jonatan Gomes Higino, 20, na manhã de ontem. O agressor foi contido por seguranças da igreja e, depois, detido e indiciado por tentativa de homicídio por motivo fútil, de acordo com o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil.
Higino contou à polícia que teria roubado o facão e decidido matar o pastor na manhã deste domingo, pois se sentiu "incomodado com as palavras de Valdemiro" em um culto anterior.
O jovem foi levado ontem ao 8º Distrito Policial, no Brás, sendo transferido na manhã desta segunda-feira (9) ao 2º Distrito Policial, no Bom Retiro. De lá, ele foi encaminhado ao Fórum Criminal da Barra Funda, na zona Oeste de São Paulo, para participar de uma audiência de custódia, quando um juiz deve decidir se ele será preso ou responderá ao processo em liberdade.
Ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, o pastor Valdemiro Santiago rompeu com Edir Macedo para abrir sua própria igreja e hoje é o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, que conta com cerca de 315 mil fiéis e mais de 3.000 templos pelo Brasil --a Universal tem 5.000-- e possui a mais extensa cobertura televisiva entre evangélicos, segundo o Censo de 2010.
Em um cenário de presídios superlotados, dominados por facções, em que episódios como as chacinas de Manaus e Boa Vista são cada vez mais frequentes, um sistema prisional alternativo sem agentes armados, onde não há fugas e motins e o custo por preso é 50% menor, deveria ser altamente incentivado. Mas não é o que acontece com a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), um modelo de prisão brasileiro, desenvolvido para ajudar o preso que quer pagar pelo seu erro e voltar a ser útil à sociedade.
Embora tenha sido criado há mais de 40 anos, o sistema alternativo tem apenas 50 unidades funcionando em cinco Estados brasileiros - Minas Gerais, Maranhão, Paraná, Rondônia e Rio Grande do Norte - atendendo 5 mil de um universo de 622 mil presos no País. Em Minas, 20 unidades estão com terreno destinado e projetos prontos que não saem do papel por falta de verba.
A primeira Apac do Rio Grande do Sul, em Canoas, está com as obras atrasadas. Projetos da Bahia, do Ceará e de Mato Grosso ainda não decolaram por falta de recursos.
O presidente da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac), que congrega as Apacs, Valdeci Antonio Ferreira, disse que o sistema tem feito mais sucesso no exterior. "Já são 23 países com unidades instaladas ou em estágio experimental. Nosso método recebeu prêmios aqui, mas os importantes foram dados lá fora."
O modelo foi reconhecido pelo Prison Fellowship International (PFI), órgão consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU), como alternativa eficiente para humanizar o tratamento penitenciário. Ferreira diz que as facções nunca se infiltraram nas Apacs.
"As facções ocupam o vazio deixado pelo Estado e no método Apac não há esse espaço, pois a disciplina é rígida e a ocupação do tempo, integral."
A primeira unidade foi criada na década de 1970, em São José dos Campos, no interior paulista, pelo advogado e professor Mário Ottoboni. Com um grupo de voluntários cristãos da Pastoral Carcerária, ele dava assistência e apoio moral aos presos do presídio Humaitá e desenvolveu um método para humanizar o cumprimento da pena. Em 1974, foi constituída juridicamente a Apac.
São Paulo chegou a ter várias unidades, mas no fim da década de 1990, ao adotar o modelo das grandes penitenciárias, o governo paulista não seguiu adiante com as Apacs.
Na época, Ottoboni já havia levado o método para outros Estados, e Minas Gerais decidiu apostar no modelo. O Programa Novos Rumos, do Tribunal de Justiça mineiro, administra 38 unidades masculinas e femininas. São 3.238 vagas - 2.910 estão ocupadas e cerca de 300 aguardam presos. Em cinco unidades, o índice de ocupação é inferior a 80%. No total, são 2.700 homens e 210 mulheres.
"O número atendido é bastante superior, pois a Apac acompanha também os presos que estão cumprindo pena em casa, em livramento condicional ou regime aberto, o que dá em torno de 6 mil pessoas atendidas", afirma o juiz auxiliar da presidência do TJ-MG, Thiago Colnago Cabral.
Como comparação, ele cita que no regime prisional comum do Estado são em média 60 mil homens e 10 mil mulheres - 35 mil são presos provisórios. Em Minas, o custo mensal de um reeducando na Apac é de R$ 1 mil, enquanto no regime comum o custo é de R$ 2 mil. A abertura de uma vaga no regime alternativo custa R$ 27 mil, e no convencional, R$ 37 mil. O magistrado chama a atenção para outra vantagem do método Apac.
"Como o preso trabalha, estuda e frequenta biblioteca, a cada 100 dias cumpridos da pena, ele ganha outros 56, ou seja, é como se tivesse cumprido 146. No sistema convencional, isso é praticamente impossível, ou seja, o preso da Apac fica menos tempo na prisão, o que também reflete no custo."
Segundo ele, a diferença entre os sistemas pode ser observada no índice de reincidência, que gira em torno de 20% na Apac e de 80% no regime comum. "As Apacs existem desde 1972 e nunca houve registro de motim ou rebelião. O porcentual de fuga é de 1% da população carcerária."
O Judiciário mineiro investe na expansão da rede. Seis unidades estão em construção para mais 700 vagas e existem outras 20 com o terreno definido. Com elas prontas, serão mais 2,2 mil vagas.
"O problema atual é a falta de recursos, já que o Estado é o principal provedor das Apacs. Ainda assim, temos a vantagem da mão de obra, que é voluntária ou contratada pela associação e não impacta a folha de pagamento do Estado, como acontece no sistema convencional."
Outros Estados também projetam a ampliação do sistema. A subsecretária de Administração Penitenciária do Pará, Ana Luisa Silva Falcão, autora de um estudo sobre as Apacs de Minas Gerais, publicado em 2015, defende a expansão do método, mas em conjunto com outros sistemas alternativos de cumprimento da pena.
"As Apacs cumprem a Constituição e o Lei de Execuções Penais no que diz respeito à ressocialização do preso, mas não serve para toda a clientela. O método é baseado na adesão da pessoa e na sua confiabilidade, por isso é solução para parte da população carcerária."
Ela trabalha para ampliar a rede de Apacs do Pará, com seis unidades e 250 internos. "Temos potencial para ampliar a capacidade das já existentes e criar outras, mas dependemos de uma sociedade civil organizada, pois um dos pilares é o voluntariado. Não é possível fazer sem parcerias com instituições de ensino e outros órgãos."
Nas unidades da Apac os presos usam crachás, trabalham e produzem a própria comida. Em Minas, o método foi adotado por lei estadual. Em 2016, o TJ mineiro baixou portaria estabelecendo novas regras para a entrada de detentos, entre elas a exigência de que mantenham vínculos familiares na região.
"A proximidade com a família aumenta as chances de reinserção e ajuda na recuperação do preso", diz Cabral. Ele lembrou que a medida foi uma resposta ao maior interesse pelas unidades, depois que os presídios do Estado passaram a abrigar presos condenados na Ação Penal 470, conhecida como "mensalão".
Em dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a transferência do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, operador do "mensalão" condenado a mais de 37 anos, da penitenciária da mineira de Contagem para a Apac de Lagoa da Prata, no mesmo Estado.
A defesa pediu a transferência alegando que a mãe e a companheira de Valério passaram a residir nessa cidade. O ex-goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza, condenado a 22 anos pela morte de Eliza Samúdio em 2010, passou por duas penitenciárias e conseguiu vaga na Apac de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, após cinco anos de bom comportamento.
1 preso custa R$ 4.129 por mês no Amazonas; veja valor em outros Estados
Ressocialização. A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) do Estado de São Paulo informou que o governo paulista também investe na recuperação dos detentos, através dos Centros de Ressocialização (CR).
Segundo a SAP, embora sejam integralmente administrados pelo Estado, os 22 CRs têm população compatível com a capacidade de 210 detentos por unidade e oferecem ao preso serviços de saúde, odontológico, psicológico, jurídico, social, educativo e religioso, além de trabalho. Também possibilita participação na comunidade.
Seca e recessão derrubam economia do Nordeste após anos de avanço
Valdecir João da Silva, de 53 anos, conta os cadáveres do seu pequeno rebanho que não resistiu à fome, à falta de água e às doenças causadas pela desnutrição. Em uma área afastada da pequena casa onde vive com a família, ele juntou 12 animais mortos ao longo dos últimos meses. De alguns, restam os ossos. De outros, mais recentes, os corpos inchados. “Morreram de fome”, resume ele, que prefere deixá-los aos urubus a enterrá-los. Ele tenta salvar os 20 animais que restam com mandacaru, a planta símbolo do Nordeste. “Ração não dá para comprar, pois está muito cara. O saco de milho que custava R$ 18 há dois anos hoje sai por R$ 65.”
No sertão de Petrolina, quinta maior cidade de Pernambuco, não choveu por 11 meses. Em meados de dezembro, caiu uma chuva forte, mas logo parou. O receio dos sertanejos do semiárido é de que se repita o ocorrido em janeiro passado, quando a chuva veio forte, “sangrou” açudes, mas durou só duas semanas.
“Plantei 60 quilos de milho e de feijão, mas não choveu mais e perdi tudo. Não deu nem palha”, diz Josilane Rodrigues, de 25 anos, enquanto expõe 11 ovelhas em uma feira em Dormentes, a 130 km de Petrolina. Quer vendê-las, mesmo a preço baixo, por não ter como alimentá-las.
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A maior seca do século
“Vou vender a qualquer preço porque não quero voltar com eles”, afirma Francisco Agostinho Rodrigues, de 64 anos, que levou à feira 23 de seus 60 animais. “A gente vende algumas para dar de comer às outras”. A feira semanal de Dormentes reúne, em média, 3,6 mil animais e atrai compradores da região e de outros Estados. Em tempos bons, tudo é vendido. Agora, em razão da crise e da seca, o número de animais expostos caiu à metade e muitos voltam para casa por falta de interessados, diz João Batista Coelho, da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária.
Após cinco anos seguidos de volume de chuvas abaixo da média histórica, a seca do semiárido já é considerada a maior do século. A região inclui Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o norte de Minas Gerais e conta com cerca de 23 milhões de habitantes.
Água. Grandes reservatórios do Nordeste – com potencial de armazenar mais de 10 bilhões de litros de água – operam, em média, com 16, 3% da capacidade, porcentual que era de 46,3% há cinco anos. Dos 533 reservatórios da região monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANA), 142 estão secos.
Segundo Raul Fritz, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), “não se via seca tão severa para um período consecutivo desde 1910”, quando dados sobre as chuvas passaram a ser coletados. O Ceará é o Estado em pior situação. Seus reservatórios têm apenas 7% da capacidade armazenada. Nos últimos cinco anos, choveu em média 516 milímetros no território, enquanto a média mínima é de 600 milímetros. “E o Ceará é o retrato do que ocorre nos demais Estados”, diz Fritz.
Vários rios e açudes também secaram. Muitos moradores, inclusive em grandes cidades, só têm acesso à água fornecida por caminhões-pipa bancados pelos governos federal e estaduais.
De 2012 a 2015, o Nordeste registrou prejuízos de R$ 104 bilhões com a seca. O valor equivale a quase 70% das perdas em razão desse fenômeno em todo o Brasil, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Os valores de 2016 ainda não foram contabilizados.
Em Pernambuco, onde boa parte dos 185 municípios está em situação de emergência, a perda chega a R$ 1,5 bilhão só na pecuária. O rebanho bovino, formado por 2,5 milhões de cabeças em 2011, diminuiu em 554 mil cabeças no ano passado.
Ainda que caprinos e ovinos tenham sofrido com a estiagem, como os do criador Silva, o rebanho cresceu por ter substituído o gado, que é menos resistente à seca. O número de cabras, bodes e cabritos passou de 1,9 milhão para 2,4 milhões em quatro anos. O de ovinos saltou de 1,8 milhão para 2,4 milhões.
'Chuvinha pouca não conta'
Rodrigues só deixa o sertão quando for ‘envelopado’
Na região rural de Acauã (PI), primeira cidade a ser beneficiada pelo programa Fome Zero junto com Guaribas, em 2003, Hortêncio Francisco Rodrigues, de 78 anos, conta que, até 2012, tinha 20 cabeças de gado, mas hoje tem quatro: “Praticamente mandei colocar no caminhão e levar; vendi baratinho, pois ninguém queria.”
Agora se dedica à criação de 150 ovelhas e cabras, que são mais resistentes e comem plantas da caatinga, como mandacaru, angaroba e palma, que também começam a escassear em algumas regiões do Nordeste.
Rodrigues ficou contente com a chuva de dezembro, mas ressalta que “chuvinha pouca não conta”. Desde então, o sol voltou a ser “o mais quente da vida”, como define ele.
De sorriso fácil, Rodrigues afirma que o valor recebido da aposentadoria é que tem ajudado a manter parte das despesas da casa, principalmente com os remédios da esposa Luzia, de 79 anos. Com seis filhos (dos quais dois já morreram), um número de netos que perdeu a conta e 31 bisnetos, ele diz que parte da família deixou o sertão. Alguns migraram para São Paulo, “à caça de emprego”. Apesar das secas constantes, umas mais duras, outras menos, não pensa em ir embora. “Nasci aqui e só saio envelopado”, brinca.
O vizinho José Teixeira de Macedo, de 64 anos, já viveu da plantação de algodão nos anos 80, mas perdeu tudo por causa da praga de bicudos. Participou de frentes de trabalho na grande seca de 1983 e agora cria ovinos e planta milho e feijão quando chove. Diz que, sem a aposentadoria, tudo estaria muito mais difícil. Ele e um dos filhos cuidam da roça e também não pensam em abandonar o sertão. Já a neta, Samara, de 16 anos, pretende mudar-se para uma cidade maior e estudar Administração. “Não vou morar aqui; vejo o sofrimento dos avós e dos pais e não quero isso”.
Produtor sugere" seguro bode"
“O que a gente vende não dá nem para as despesas”, lamenta o produtor
O agrônomo e criador de caprinos e ovinos em Acauã (PI), Cândido Roberto de Araújo, de 49 anos, comprou um rebanho com 122 animais por R$ 50 cada. Em períodos normais, sairia por cerca de R$ 200, calcula ele. “Estavam todos magros e tive de engordá-los para revender para o abate”.
Na região predomina a criação de animais para abate ou produção de leite. Araújo reclama da falta de um programa governamental voltado à atividade. O que tem disponível é o Seguro Safra, empréstimo subsidiado para quem perde a produção agrícola. “Precisamos é de um Seguro Bode”, diz, referindo-se ao animal cuja carne está entre as mais consumidas pela população local.
Antonio Felipe de Souza, de 60 anos, tem 80 cabeças de gado leiteiro. Após perder 20 animais, em 2012 e 2013, passou a plantar capim, irrigado com água de um poço que construiu com verba do Bolsa Estiagem. Seu irmão Norberto não obteve o crédito e, de 100 vacas, perdeu 80. Junto com familiares, Souza produz doce de leite e peta (biscoito de polvilho) e vende na região. “Dá para sobreviver”, diz.
Segundo a Cooperativa de Produtores de Afrânio (PE), a produção de leite caiu de 11 mil litros por dia em 2012 para 3,4 mil litros. O preço também caiu. “O que a gente vende não dá nem para as despesas”, diz Fortunato Rodrigues, de 74 anos. Vender o animal não é solução. “O preço da arroba está lá embaixo e quem vende não consegue repor o gado”.
Diversificar atividade é alternativa Para evitar maiores perdas com a seca, investiu 'poupança de muitos anos' na construção de um poço, no valor de R$ 6 mil
Não depender de uma única especialização e diversificar atividades para poder enfrentar com menos sofrimento o período de estiagem é a estratégia adotada pelo produtor Adão de Jesus Oliveira, de 40 anos. Ele, a esposa Fabiana, de 32 anos, e os filhos, de 12 e 8 anos, estão entre as 28 mil famílias da região do Araripe atendidas pelo projeto Caatinga, que tem parcerias com entidades internacionais e o Governo Federal em trabalhos voltados à agroecologia para pequenos produtores.
Além de criar 28 caprinos, vacas e éguas na área rural de Ouricuri (PE), Oliveira cultiva hortaliças, como coentro, e frutas – umbu e acerola, das quais faz poupa, congela e vende ao longo do ano. Planta palmas para dar aos animais e tem atividade de apicultura, embora nos últimos dois anos a falta de floradas prejudicou a produção de mel. No início do ano passado, também plantou milho e feijão e perdeu tudo. Em todo o Estado de Pernambuco, a produção média anual de milho de 2012 a 2015 foi de 31,2 mil toneladas, queda de 83% em relação aos quatro anos anteriores.
Para tentar evitar mais perdas, Oliveira fez um poço de 52 metros com bomba submersa, e gastou R$ 6 mil. “Foi uma poupança de muitos anos”, diz. “Foi um investimento arriscado, mas nesse período de seca e crise não passamos apertados”. A esposa ajuda nos gastos da casa com a confecção de sabonetes de aroeira e artesanatos.
Barragem
de Ouricuri está seca há dois anos
Dos seus dez filhos, quatro deixaram o sertão e foram viver em grandes cidades, como São Paulo. “Eu fiquei aqui porque dou valor a esse lugar.”
Sem plantar feijão e milho depois de ter perdido as últimas safras em razão da seca, o produtor Benedito Alencar, de 53 anos, e morador do povoado de Uruás, em Petrolina (PE), diz que ficou “deprimido” nas últimas semanas por ter de pagar R$ 10 por 1 quilo de feijão. “Quando a gente planta e colhe, o produto não vale nada”.
Ele vive com a esposa e o filho de 19 anos, que está desempregado, e faz bicos. Outros dois filhos se mudaram para a cidade. Ele conta, com orgulho, que um deles é formado em Direito, “depois de ter estudado em escola pública.” A família, diz Alencar, “passa necessidades, mas não passa fome”.
Parte dos problemas da região seria amenizada com as operações do canal Pontal, para receber água do rio São Francisco. Após 18 anos de obras, o canal com 7,7 mil km ficou pronto em meados deste ano. Levaria água para atividades de fruticultura irrigada a cerca de 35 mil famílias. Contudo, a área no entorno, destinada aos sequeiros (famílias que tiveram a terra desapropriada para a obra), foi ocupada por mais de 600 sem-terra. Segundo os moradores da região, o grupo que ganhou a concessão diz que só vai inaugurar o projeto quando os invasores forem retirados do local.
Em Ouricuri, a barragem Tamboril, inaugurada nos anos 60, está seca há dois anos. O aposentado Francisco Marques da Silva, de 74 anos, foi um dos operários que trabalhou na construção da barragem, responsável pelo abastecimento de cerca de dez cidades.
“Antes, a gente conseguia plantar jerimum, feijão, macaxeira, mas agora arriou tudo, morreu”, diz Silva. Dos seus dez filhos, quatro deixaram o sertão e foram viver em grandes cidades, como São Paulo. “Eu fiquei aqui porque dou valor a esse lugar.”