9 de agosto de 2016

Após trabalho de altos e baixos na Série A, Milton Mendes deixa Santa Cruz-PE

Milton Mendes Santa Cruz (Foto: Marlon Costa/ Pernambuco Press)Milton Mendes é passado no Santa Cruz (Foto: Marlon Costa/ Pernambuco Press)
É o fim de um ciclo. O técnico Milton Mendes não faz mais parte do Santa Cruz. O treinador, que não fez uma boa campanha com o Tricolor na Série A do Campeonato Brasileiro - é o 19º colocado com 18 pontos -, pediu demissão. A decisão foi tomada após a derrota por 2 a 1 para o São Paulo, no último domingo, no Arruda. A diretoria tentou segurá-lo no cargo, mas Milton não foi demovido da ideia. O clube, agora, segue em busca de outro treinador.

Milton Mendes deixa o Santa Cruz com 46,87% de aproveitamento. Campeão da Copa do Nordeste - a primeira da história do clube - e do Campeonato Pernambucano, o treinador acumulou ao longo da passagem pelo Arruda 12 vitórias, nove empates e 11 derrotas, em 32 jogos.
Milton Mendes chegou ao Arruda, no fim de março, para substituir Marcelo Martelotte. Com um discurso diferente e respaldado por ser um dos únicos do Brasil a ter os quatro níveis do UEFA Pro - certificado concedido a técnicos europeus -, logo implementou um estilo de jogo. Esteve perto de desistir do convite ao assistir Santa Cruz x América-PE, empate sem gols pelo Campeonato Pernambucano. Mas aceitou e, em pouco tempo, sobressaiu. Principalmente nos matas-matas, que culminaram nos títulos do Nordestão e Pernambucano.
O problema era fora de campo. A reportagem do GloboEsporte.com ouviu, durante a trajetória de Mendes, funcionários do clube, jogadores, membros da diretoria. Os relatos era de clima pesado gerado pelo treinador, que esteve ao lado da direção com intuito de melhorar a estrutura do clube.O treinador se mostrou várias vezes incomodado por trabalhar e jogar no Arruda, desgastando o gramado. Pediu à direção uma melhora nisso, mas viu de perto o sacrifício pela falta de dinheiro no clube. Segundo ele, as condições de treino eram poucas.
Grafite Santa Cruz (Foto: Marlon Costa/ Pernambuco Press)Grafite diz ter sido lançado sem condições em campo por conta de Mendes (Foto: Marlon Costa/ Pernambuco Press)


Alguns jogadores tiveram problemas de relacionamento com Milton. Discussões mais acaloradas eram vistas como "normais" para o ambiente do futebol. Algumas delas, no entanto, chegaram a surpreender quem frequentava o ambiente. Pouco a pouco, perdeu até os líderes - os oito capitães que elegeu ao chegar e com os quais fazia o rodízio com a braçadeira.

Houve rispidez com funcionários do clube. O temperamento explosivo de Milton surpreendia. Às vezes, por atrasos ínfimos. Certa vez, um roupeiro entregou o material com demora quase imperceptível. Uma postura enérgica, acima do tom, foi tomada. Com outros a mesma coisa. Isso foi minando o ambiente do treinador. 

Alguns relatos falavam de clima dos mais pesados dos últimos anos. Milton Mendes era rígido, tinha postura militar. Atletas se queixavam da falta de tato quando se exigia o esforço físico dos jogadores. O atacante Grafite revelou que atuou algumas vezes "no sacrifício", após conversas com o comandante. O treinador confirmou as palavras do ídolo coral. O zagueiro Neris, por exemplo, atuou sem completar a transição física na derrota por 1 a 0 para o Atlético-PR.
algumas contratações foram fechadas mesmo contestadas por grande parte da torcida, como o lateral-direito Mário Sérgio, o lateral-esquerdo Roberto e o meia Marcinho, que tiveram poucas oportunidades no time. Todos foram atletas de Mendes em outros clubes.
Mendes tentava trazer jogadores para o Santa Cruz. Atletas renomados, para ele, mas muitos recusaram o convite. Mesmo assim, não abandonou a postura de trazer, pelo menos, quem ele conhecia. Assim, algumas contratações foram fechadas, mesmo contestadas por grande parte da torcida, como o lateral-direito Mário Sérgio, o lateral-esquerdo Roberto e o meia Marcinho, que tiveram poucas oportunidades. Todos foram atletas de Mendes em outros clubes.

Incomodado com a falta de qualificação no elenco, Milton Mendes chegou a citar defeitos dos atletas a jornalistas em conversas extracampo. Quase ninguém passava impune às críticas.

Não foram poucas as vezes que Milton Mendes relatou falta de atenção ou de qualidade de jogadores para repórteres com quem nem sequer tinha proximidade. Em entrevistas oficiais, por outro lado, deixava claro que nunca iria expor atletas.
Milton Mendes Santa Cruz (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)Convivência de Mendes com alguns atletas era difícil (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)
- Assumo responsabilidade, deixo o cargo, mas não vou falar mal de ninguém. É minha postura como líder, como um gestor, e como um pai de família. Peço desculpas se vocês quisessem que eu apontasse o dedo para alguém, mas não vou fazer isso. O clube está mudando uma série de paradigmas e avançando em situações - disse, ao fim do jogo contra o São Paulo.

Milton Mendes chegou a receber propostas, como do Bahia. Preferiu não deixar o Santa Cruz. Segundo ele, não era "homem para desistir dos desafios". Por vezes, pensou em jogar a toalha, como na derrota por 3 a 0, para a Ponte Preta, no Arruda. No pós-jogo, atletas entraram na sala de imprensa motivados, segundo eles, por uma informação a respeito de um pedido de mudança do volante Uillian Correia "em todos os setores do clube". Uillian confrontou o repórter que veiculou a informação. Milton tomou o ato como apoio e não deixou o cargo.
Depois da derrota contra o São Paulo, Milton Mendes foi mais uma vez claro. Não só na entrevista, quando disse que tinha "tentado de tudo, inclusive mudando peças e esquema tático". O mesmo discurso foi dito de forma clara para a diretoria. Sem querer perder o treinador, a direção pediu para que ele passasse a última segunda-feira,de folga, num hotel em uma praia no litoral Sul de Pernambuco. Parece não ter sido suficiente para demover Milton da ideia.
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Recife

Horas após demitir Falcão, Inter acerta retorno de Celso Roth como técnico

celso roth internacional novo hamburgo (Foto: Lucas Uebel / Vipcomm)Celso Roth será técnico do Inter até o final do ano (Foto: Lucas Uebel / Vipcomm)
O Inter ficou pouco tempo sem treinador. Ainda que não confirme oficialmente, o clube fechou a contratação de Celso Roth para substituir Paulo Roberto Falcão, demitido no início da tarde desta segunda-feira. Ele será apresentado em entrevista coletiva marcada para a manhã de terça, quando será anunciada também a nova formatação do departamento de futebol.
Campeão da Libertadores em 2010, Roth tem na solidez defensiva seu principal trunfo. Na “Era Falcão”, o sistema mostrou fragilidades e levou 10 gols em cinco partidas, o que representa uma média de dois gols por jogo. É com este perfil que a direção trabalha para uma espécie de retomada a partir da primeira rodada do segundo turno. 
Roth trará apenas Beto Ferreira, que será seu auxiliar. O contrato do técnico valerá até o final do ano. A escolha do sucessor de Falcão veio de Fernando Carvalho, que voltará a ser vice de futebol. Ibsen Pinheiro será o seu assessor. Newton Drummond, o Chumbinho, trabalhará como executivo.
O técnico será o terceiro no ano. Antes de Falcão, que permaneceu por apenas cinco partidas - com dois empates e três derrotas -, o Inter teve Argel. Roth entra com a missão de encerrar a incômoda sequência de 11 jogos sem vitórias, com oito derrotas no período.
Após sua apresentação, Roth começará a trabalhar para tentar recolocar o time nos trilhos. A primeira atividade sob sua batuta está programada para ocorrer às 10h30. Na segunda-feira, às 20h, o Inter enfrenta a Chapecoense na Arena Condá, em Chapecó.
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Porto Alegre

Um a cada três prefeitos elegíveis do Ceará não disputará reeleição

Mesmo elegível, um a cada três prefeitos aptos à reeleição no Ceará não deve disputar novo mandato neste ano. Dado é de pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que aponta que só 88 (65,16%) dos 135 (73,37%) gestores cearenses que podem ser reeleitos lançaram chapas até a última semana.
Ao todo, 47 prefeitos elegíveis devem desistir de buscar renovação do mandato. Outras 49 cidades possuem prefeitos inelegíveis, por já estarem no segundo mandato consecutivo. Na comparação nacional, o Ceará é o 10º com maior número de gestores que buscam a reeleição. Pernambuco é o 1º no ranking, com 88,28% de seus atuais prefeitos na disputa de 2016.
Segundo a pesquisa, maior parte dos gestores que abriram mão de disputar novo mandato atribui a desistência às dificuldades da gestão. Em segundo lugar, aparece a própria falta de interesse na disputa. São casos semelhantes ao de Ronaldo Mattos (PSC), prefeito do Crato, que desistiu da reeleição para apoiar Zé Ailton Brasil (PP) no município.
Entre prefeitos que devem disputar reeleição, estão gestores de algumas das maiores cidades do Ceará, como Roberto Cláudio (Fortaleza), Firmo Camurça (Maracanaú), Átila Câmara (Maranguape) e Raimundão (Juazeiro do Norte).
O Povo

Capitão Wagner registra coligação “Juntos Somos Mais” nesta terça

Candidato com maior bloco de alianças da oposição, Capitão Wagner (PR) irá oficializar registro da coligação “Juntos Somos Mais” na Justiça Eleitoral às 17h desta terça-feira, 9. Ação ocorre na sede do Tribunal Regional Eleitoral no Ceará (TRE-CE), e será acompanhada pelo candidato a vice de Wagner, Gaudêncio Lucena (PMDB).
Ao todo, chapa de Wagner une quatro partidos: PR, PMDB, PSDB e SD.
Na tarde desta segunda-feira, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) registrou a coligação de sua chapa pela reeleição. Batizado de “Fortaleza só Tem a Ganhar”, o grupo é formado por 18 partidos e terá o deputado federal Moroni Torgan (DEM) como vice.
Na capital, o TRE-CE espera o registro de cerca de mil candidatos. No Estado, em torno de 15 mil candidatos disputarão as eleições municipais deste ano.
O Povo

Professores da rede estadual suspendem greve no Ceará; calendário será definido

Assembleia foi marcada por tumulto entre professores contrários à suspensão da greve e a diretoria do sindicatoApós 107 dias, a greve dos professores da rede estadual de educação foi suspensa nesta terça-feira, 9. A decisão foi tomada durante a manhã, em assembleia com cerca de 2 mil professores, no Ginásio Paulo Sarasate, no bairro Dionísio Torres. O reajuste de 12,67%, principal reivindicação da categoria, não foi atendido pelo Governo, que propôs uma correção por meio de gratificação (média de até 9,8%).
Segundo Anízio Melo, presidente do Sindicato dos Professores e Servidores de Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Apeoc), houve resistência dentro da categoria para a suspensão da greve, formalizada no dia 25 de abril. "Não estamos satisfeitos, mas entendendo a pressão da opinião pública e nosso compromisso com a educação, resolvemos suspender exigindo que o Governo cumpra esse mínimo obtido. Não aceitaremos nenhum tipo de retaliação dos professores que ficaram na luta", disse.
Muitos professores que participaram da assembleia não acordaram o fim da greve e relataram ao O POVO fraude na votação. Alguns deles afirmaram que as aulas não serão retomadas, pois o fim da paralisação foi decidido pelo sindicato. O presidente da Apeoc saiu do local sob escolta devido ao confronto entre professores contrários à suspensão da greve e a direção do sindicato.
"Na minha concepção, os votos a favor da manutenção da greve foram nitidamente maiores. Não houve nenhuma contagem oficial na assembleia", reclamou a professora Márcia Moreira, 43 anos. Estudantes da rede estadual tentaram entrar no Ginásio, mas foram barrados e chegaram a entrar em confronto com seguranças.
Segundo Anízio, os professores continuarão reivindicando o cumprimento dos pontos acordados, como descompressão da carreira e aumento da regência de classe. "No caso dos professores, a recomposição salarial é 5% na remuneração e 5% na regência de classe para os ativos e aposentados. Em média, há um ganho remuneratório que oscila entre 5% e 11%", explica.
Anízio afirma que 80% das escolas já retomaram as aulas, mas o calendário do restante das unidades será definido a partir desta quarta-feira, 10. "O retorno das aulas fica a cargo das escolas. Claro que as ocupadas precisarão de mais tempo", frisa. 
Os municípios com o maior número de escolas com professores que aderiram à greve são Sobral, Russas, Horizonte, Maracanaú e Fortaleza.Em Fortaleza, 50% das escolas foram afetados, segundo o secretario da Educação informou anteriormente.
O POVO Online entrou em contato com a Seduc e aguarda retorno. 
O POVO

Quanto custa uma medalha de ouro – e por que as do Rio 2016 são diferentes

Elas são os objetos mais desejados nesses dias no Rio de Janeiro, o reconhecimento com o qual 10.500 atletas de 206 países sonham para coroar os esforços de anos de treinamento e dedicação.
Os organizadores dos Jogos Olímpicos de 2016 encomendaram 2.488 medalhas para recompensar seus atletas, dos quais 812 são de ouro.
Mas quanto vale uma medalha de ouro da Rio 2016?
Para estimar um valor, a primeira coisa a considerar é que no caso de medalhas olímpicas, nem tudo que reluz é ouro. Sua composição atual é de 92,5% de prata; 6,16% de cobre e apenas 1,34% de ouro.
O Comitê Olímpico Internacional estabelece que cada medalha de ouro deve conter pelo menos 6 gramas de ouro 24 quilates.
Medalhas de ouro devem conter pelo menos 6 gramas de ouro 24 quilates (Foto: BBC)Medalhas de ouro devem conter pelo menos 6 gramas de ouro 24 quilates (Foto: BBC)









As da Rio 2016 pesam cerca de 500 gramas. Seu valor, calculado com base na sua composição, é de cerca de US$ 600, de acordo com estimativas do Conselho Mundial de Ouro.
As últimas medalhas douradas feitas inteiramente de ouro foram entregues nos Jogos Olímpicos de 1912.
Preços recordes
Uma vez que estas medalhas são entregues, o seu valor de mercado pode ir muito além do custo dos materiais que a compõem pois tornam-se um objeto precioso para colecionadores.

As medalhas vêm em uma caixa de madeira produzida de forma sustentável (Foto: BBC)As medalhas vêm em uma caixa de madeira produzida de forma sustentável (Foto: BBC)









Assim, uma medalha de ouro de qualquer esporte, mesmo ganha por um atleta pouco conhecido, pode ser vendido a US$ 10 mil em casas de leilão.
Mas se é uma medalha que tem uma história particular que pode torná-la mais valiosa, os números sobem muito, como foi mostrado pelo US$ 1,47 milhão pago em 2013 pela última das quatro medalhas de ouro ganhas por Jesse Owens nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. O preço foi recorde.
Medalhas ecológicas
As medalhas Rio 2016 foram produzidas pela Casa da Moeda do Brasil. Com um diâmetro de 85 mm e um peso de 500 gramas são as maiores e mais pesadas da história.

Seu projeto mostra algumas folhas de louro - símbolo da vitória na Grécia antiga - em torno do logotipo da Rio 2016. Com elas, o objetivo era representar não só excelência atlética, mas também as forças da natureza e os princípios da sustentabilidade e acessibilidade.
As medalhas vêm em uma caixa de madeira em forma de pedra, que foi certificada pelo Conselho para a Proteção das Florestas, garantindo que o material procede exclusivamente de florestas que atendam aos mais altos padrões de sustentabilidade.
Para fazer isso, exigiu-se o cumprimento dos critérios ambientais rigoros e de padrões de trabalho. Por exemplo, no processo de obtenção de ouro foi proibido o uso de mercúrio, um grande poluente.
As medalhas para os Jogos Paralímpicos fazem barulho quando são agitadas (Foto: BBC)As medalhas para os Jogos Paralímpicos fazem barulho quando são agitadas (Foto: BBC)









Para as medalhas de prata e bronze, 30% do material usado é reciclado.
Da mesma forma, metade do plástico usado para fazer as fitas das medalhas vem de garrafas recicladas.
Quanto às medalhas dos Jogos Paralímpicos, elas vão incorporar um pequeno dispositivo interno que faz barulho quando elas são sacudidas para ajudar os atletas com deficiência visual a reconhecer o que ganharam. O ouro é o mais barulhento; o bronze menos.
BBC

Os 10 conflitos ambientais mais explosivos do mundo

Mariana Samarco/Vale
Vazamento tóxico, contaminação, câncer, assassinato de ambientalistas, ameaças de morte, barramento de rios, espoliação, expulsão forçada. O ritmo moderno do crescimento econômico tem sido acompanhado de violências e conflitos, no mundo inteiro. Ilusão pensar que crescer significa aumentar a democracia e o respeito aos direitos humanos. A busca por matérias primas na América Latina, África e Ásia para serem consumidas nos países ricos, provoca reações e resistências, configurando os “conflitos ambientais”.
Uma equipe da Universidad Autônoma de Barcelona, liderada pelo economista ecológico catalão Joan Martinez-Alier, tem realizado um mapeamento destes conflitos no mundo. O mapa aqui, serve não para as grandes empresas saberem aonde não devem investir, mas para articular as resistências, visibilizar as lutas, e provocar uma reflexão sobre o consumo desenfreado de matérias primas e questionar e desafiar chavões como “progresso” e “desenvolvimento” e seus imperativos de um modo de vida.
Em um mapeamento global, o Brasil, que é considerado o país mais violento do mundo contra ambientalistas pelos levantamentos da organização Global Witness, é também um dos piores em termos de conflitos ambientais. Há muita resistência por parte das populações afetadas, mas igualmente repressão, intolerância, autoritarismo e violência.
Três desastres marcam a inserção do país entre aqueles com os piores conflitos ambientais do mundo: a tragédia da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e o crime ambiental da Samarco (Vale e BBHP) em Minas Gerais e a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Dez casos foram selecionados como os mais significativos, e são apresentados abaixo em um artigo feito coletivamente por Daniela Del Bene, Federico Demaria, Sara Mingorría, Sofia Avila, Beatriz Saes e Grettel Navas, que selecionaram os casos de conflitos. O Atlas Mundial de Justiça Ambiental é codirigido por Leah Temper e Joan Martinez Alier, e é coordenado por Daniela Del Bene. 
1. Projeto Hidrelétrico Belo Monte (Brasil)

Belo Monte
Roberto Stuckert Filho/ PR

O Projeto hidrelétrico Belo Monte está sendo construído no Rio Xingú, município de Altamira, no Pará. A barragem será a terceira maior do mundo e já devastou uma extensa área de floresta tropical brasileira. O projeto vai deslocar mais de 20 mil pessoas, ameaçando a sobrevivência das tribos indígenas Kayapó, que dependem do rio. 

Artigo publicado na Forbes prevê que Belo Monte não terá grandes benefícios econômicos se comparado aos altos custos sociais e ambientais, tais como o desvio dos afluentes do Xingu, que impedirá a navegação e a pesca local. Contudo, Belo Monte deverá ser concluída no ano de 2016. Mas esta não é a única barragem no rio, o governo está planejando outras implementações locais.

O projeto é propriedade do consórcio Norte Energia, em sua maioria de propriedade do governo, a Vale também tem cerca de 5% do mesmo e está sendo financiado pelo BNDES. Segundo os opositores do projeto, Belo Monte será fonte de energia elétrica para as operações de mineração da Vale no Pará.
A violência também é uma característica deste conflito. Em 2014, 20 índios da Amazônia foram até o local da barragem de Belo Monte para exigir compensação as comunidades indígenas. A polícia atirou neles com balas de borracha e granadas de efeito moral, ferindo quatro deles. (The Ecologist, 2014).
2. O petróleo contamina o delta do Níger (Nigéria)

Delta do Niger
Marten van Dijl/Flickrcommons

O delta do rio Níger é um dos locais mais afetados pela massiva extração de petróleo mundial desde os anos 1950. O resultado são impactos ambientais e sociais irreparáveis, assim como um altíssimo nível de violência. A resposta aos protestos contra esses danos tem sido a violência de grupos armados locais, detenções ilegais, torturas e execuções.

As comunidades locais têm denunciado práticas industriais ilegais, como a queima de gás residual produzida nos processos de extração e de processamento do petróleo, que gera danos ambientais e à saúde. A vegetação e as colheitas são afetadas pela chuva ácida. A contaminação também aumentou o número de abortos, deformações congênitas, doenças respiratórias e casos de câncer, segundo diversas denúncias.

Diante de tais problemas, a principal exigência é a reparação dos danos produzidos e também deixar no subsolo o restante da reserva de petróleo, com o argumento de que, uma vez extraídas e queimadas, agravariam as emissões de gases de efeito estufa e agravariam as mudanças climáticas.
O conflito do delta do Níger alcançou um ponto crítico em 1995, quando o poeta e líder comunitário, Ken Saro Wiva, foi assassinado. A despeito da repercussão internacional dada ao conflito, o acesso à justiça pelas comunidades afetadas depende de um grande esforço para evitar a impunidade do caso.
Atualmente, há processos abertos em diferentes países como Holanda, Equador e Estados Unidos, visando investigar a responsabilidade das empresas que operam no Delta, incluindo a anglo-holandesa Shell, a estadunidense Chevron e a italiana ENI.
3. Vazamentos minerais tóxicos da Samarco sepultam uma região, Minas Gerais (Brasil)
Samarco
Rafael Lage/Divulgação

No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão na cidade de Mariana e o vazamento de 34 milhões de metros cúbicos de lama sobre o povoado de Bento Rodrigues matou 19 pessoas e deixou mais de 600 famílias desabrigadas. Este foi considerado o maior desastre ambiental produzido no Brasil por negligência de uma empresa.

Os rejeitos da barragem eram gerados pela produção de minério de ferro da empresa Samarco (Vale, Brasil, e BHP Billiton, Austrália-Reino Unido), em uma das maiores minas de minério de ferro do mundo, antes que o acidente paralisasse suas atividades.

Após os danos provocados no povoado de Bento Rodrigues, a lama tóxica alcançou o Rio Doce, onde percorreu quase 700 km, passando por mais de 40 municípios, até desembocar no oceano em Linhares (Espírito Santo). Os rejeitos afetaram o abastecimento de água de muitos municípios, exterminaram a biodiversidade aquática e extensas áreas de valor natural. 

A atividade e o modo de vida de pequenos produtores rurais, pescadores, populações tradicionais e indígenas foram profundamente impactados. Em 2016, após uma multa baixa, em comparação aos danos produzidos (250 milhões de reais), a Samarco e suas controladoras acordaram com os governos federal e estaduais (MG e ES) gerar um fundo de até 20 bilhões de reais visando recuperar a Bacia do Rio Doce nos próximos 15 anos.


4. “Povoados do câncer” (China)
Guangzhou
jo.sau/Flickrcommons
O povoado Yongxing antes era uma pequena reserva rural, próxima ao centro da cidade Guangzhou. Há 20 anos, seus extensos campos de arroz, vegetais e pomares eram irrigados com água limpa que descia das montanhas. No entanto, em 1991, a reserva foi ocupada por um aterro de 34,5 hectares.
Posteriormente, na mesma região, instalaram-se dois incineradores e uma grande planta de tratamento de resíduos. A população protestou por causa da poluição. A água de seus poços se tornava densa, amarelada, com películas superficiais vermelhas. Protestos nas ruas terminaram em encarceramentos que se perduraram por anos. Desde então, a população de YongXing se viu obrigada a comprar água potável e a abandonar suas atividades agrícolas de subsistência. 

Os campos foram então alugados a preços irrisórios aos trabalhadores migrantes que chegavam a trabalhar os campos afetados para vender produtos contaminados à cidade.

Embora as autoridades sanitárias estivessem informadas sobre esta situação, os afetados denunciam que houve negligência institucional. A maior preocupação da população, além da poluição do ar, foi o repentino aumento dos casos de câncer no povoado.
A Organização Mundial de Saúde informou que a queima incompleta ou defeituosa de resíduos em incineradores pode gerar emissão de dioxinas e furanos, com impactos negativos para a saúde humana. O povoado de Yongxing é um dos inúmeros casos conhecidos como “os povoados do câncer na China”, onde atividades industriais e grandes aterros operam com padrões de segurança irrisórios apesar de existirem comprovados efeitos nocivos para a população humana.
5. Berta Cáceres, assassinada por lutar contra a represa hidrelétrica Água Zarca (Honduras)

Beta Caceres
Daniel Cima/Flickrcommons
A ecologista Berta Cáceres, conhecida ativista de Honduras, foi assassinada em março de 2016 em La Esperanza, no oeste do país. Cáceres era líder da comunidade lenca. Em abril de 2015, havia obtido o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, o máximo reconhecimento mundial para atividades de meio ambiente.
Cáceres organizou o povo lenca, a maior etnia indígena de Honduras, em sua luta contra o represamento/embalse de Agua Zarca, previsto no rio Gualcarque, um lugar sagrado para as comunidades indígenas e vital para sua sobrevivência.
A campanha empreendida por Cáceres conseguiu que o maior construtor mundial de represas, a companhia de propriedade estatal chinesa Sinohydro, retirasse a sua participação no projeto hidrelétrico.
A população lenca denunciou a violação do convênio 169 da OIT por não ter existido uma consulta prévia livre e informada, assim como a presença do exército para custodiar as obras e as ameaças a líderes e assassinatos. O caso Agua Zarca alcançou visibilidade internacional após o assassinato de Cáceres.

Atualmente, organizações e movimentos populares pressionam para que se investigue o assassinato de Berta Cáceres e para que se suspenda de forma definitiva o financiamento do projeto. Depois do assassinato da ativista e de uma visita realizada pela Comissão Europeia, o projeto de Agua Zarca foi catalogado como uma violação de direitos humanos.

6. Trem de Alta Velocidade (Itália-França)
Wikicommoms
O Trem de Alta Velocidade (TAV) que conectaria as cidades de Torino e Lyon através de uma linha ferroviária de 220 km/h se converteu em um dos focos de conflito ambiental mais importante da Europa. O TAV foi declarado pela Comissão Europeia como um projeto de infraestrutura prioritário para conectar a zona ocidental e oriental do continente e completar assim a Rede Transeuropeia de Transporte (tanto para passageiros como para bens comerciais).
Estima-se que esse ambicioso projeto envolveria um investimento de 26 bilhões de euros e que sua construção, a ser iniciada em um futuro próximo, perduraria por dez anos. Quando completo, constituirá um dos maiores túneis do mundo.

Desde a década de 1990, o TAV italiano tem sido fonte de fortes críticas e intensas mobilizações, particularmente concentradas no Val de Susa, mas amplamente difundidas no país por meio do movimento No-TAV (No al Treno Alta Velocità)

O movimento No-TAV julga desnecessária a nova linha ferroviária por ser excessivamente cara e financiada por dinheiro público. Acredita-se que o projeto está sujeito à corrupção e às atividades econômicas ilegais.
O conflito teve o seu primeiro estalido quando, em 2005, iniciaram-se os ensaios geológicos sem consulta prévia local, o que fez com que uns 50 mil habitantes do Val de Susa ocupassem o local da escavação e paralisassem os trabalhos até que a manifestação fosse dispersa com agressões por parte das forças policiais. 

Atualmente, o movimento No-TAV continua denunciando a militarização no Val de Susa e a excessiva violência contra seus habitantes. 

Ao questionar a necessidade de infraestruturas como esta, o movimento gerou alianças com outros grupos na Itália e no resto da Europa até formar uma rede de oposição contra Mega projetos Impostos e Desnecessários. O último encontro internacional da rede foi em Bayonne, França, em meados de julho, onde também estiveram grupos em oposição a aeroportos (Nantes, França), estações de trem (Estocarda, Alemanha), infraestrutura energética (TAP, Itália) e grandes minerações na Europa (Grécia, Romênia).

Apesar de o projeto TAV ainda estar na agenda política europeia, os escândalos financeiros e a oposição pública fazem com que ele avance mais lentamente do que o esperado.

7. Minas de carvão destroem lugares sagrados (África do Sul)

A empresa de prospecção mineral Ibhuto-Coal planejou abrir uma mina de carvão a céu aberto em KwaZulu-Natal (África do Sul). O projeto chamado Fuleni está localizado no parque natural mais antigo da África, habitat do rinoceronte branco (a fronteira Hluhluwe-iMfolozi). Duas minas de carvão já rodeiam a região do parque: Zululand Anthracite Colliery (propriedade da empresa Rio Tinto) e Somkhele (propriedade de Petmin).

Atualmente, ambas as minas geram fortes impactos às comunidades locais: destruição de locais sagrados, perdas de habitações, assim como danos à água, cultivos e biodiversidade da região. Diante da proposta de implantação do projeto Fuleni, as comunidades afetadas se opõem à intensificação dos impactos sobre seus meios de subsistência e sobre o ecossistema local protegido pelo parque.

No dia 22 de abril de 2016, mais de mil pessoas tentaram abortar a visita do Comitê de Desenvolvimento Mineral e Meio Ambiente (RMDEC, sigla em inglês) à zona. Os ativistas da comunidade têm como lema: “deixar o carvão sob a terra” (leave the coal under the hole) e para a voraz economia extrativa.

Este lema converteu-se também em uma demanda compartilhada em muitos locais do mundo, onde comunidades marginalizadas se mobilizam em defesa de seus direitos e de seus meios de subsistência problematizando o aquecimento global. A mobilização para frear a exploração de carvão também está presente em Sompeta, em Andhra Pradesh (India) e se soma às campanhas para deixar sob a terra os recursos fósseis (unburnable fuels).

8. Grilagem de terras mortal (Guatemala)

Após a assinatura do acordo de paz da Guatemala em 1996, duas famílias descendentes de alemães iniciaram o cultivo de óleo de palma (1998) e de cana de açúcar (2005), para o qual se produziu a grilagem de um terço da propriedade das terras do Polochic, um vale de terras férteis localizado no nordeste da Guatemala onde os processos de reconcentração de terras (mais terras em poucas mãos) deixou a maioria da população Q’eqchi’ sem acesso a terra.

Ademais, a população local denuncia o desvio de rios e o desmatamento realizados para viabilizar estes cultivos, assim como, as intoxicações e doenças decorrentes da fumigação da cana de açúcar.
Esta grilagem saltou à opinião pública mundial em 2011, quando foram desalojadas 800 famílias de 13 comunidades Q’eqchi’ que ocupavam parte das terras do Polochic destinadas ao cultivo de cana de açúcar. Esta ocupação era sua única maneira de sobreviver (a partir do cultivo de milho).
A população demandou ao Estado a compra das terras, abrindo um processo de diálogo entre as partes. Contudo, a negociação foi rompida, 800 famílias foram desalojadas, foram queimados os cultivos e as casas dos indígenas, e um camponês foi assassinado. Alguns meses depois, outros dois camponeses foram assassinados e mulheres e crianças foram feridas à bala pela segurança privada da empresa de cana.
As instituições do Estado e as famílias empresariais defendem a propriedade privada e estes monocultivos por considerar que trazem desenvolvimento à região, enquanto comunidades locais e diversas organizações denunciam a violação de direitos humanos (vida, alimentação e habitação), assim como a falta de acesso a terra e a recursos naturais limpos para poder sobreviver.
Este é um dos 450 casos de conflitos de grilagem de terras identificados no EJAtlas e está dentre os 12% de casos onde houve mortes. Um caso similar é o da resistência de comunidades afrodescendentes na Colômbia, assim como o de Bajo Aguán en Honduras.
9. Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Brasil)
Comperj
Fernando Frazão/Agência Brasil
Em 2007, o governo brasileiro inaugurou o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que procura o aumento do investimento em infraestrutura para a extração de gás e petróleo.
Dentro do PAC se encontra a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que compreende 4.500 hectares e um investimento de 21 milhões de dólares americanos. As construções começaram em 2008 e se prevê que estarão finalizadas em 2016. 

Para o início das obras, não foi realizado nenhum processo de consulta nem processo participativo com os pescadores, que são reconhecidos pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) como comunidades tribais, por serem herdeiros dos saberes ancestrais dos Caiçaras, povo Tupi.

Diferentes setores da população (pescadores, pesquisadores de universidades e organizações ambientais) da região têm lutado contra a instalação ou contra os efeitos adversos de outros projetos relacionados ao complexo.
Algumas delas são a instalação de um curso de água na bacia do rio Guaxindiba ou a construção de um emissário submarino para descarregar efluentes líquidos do complexo na costa perto da cidade de Maricá. O projeto também ameaça muitas áreas protegidas localizadas no entorno da Baía de Guanabara.
O conflito se intensificou em 2009 quando os pescadores artesanais ocuparam as obras nas quais estava sendo construído um gasoduto submarino e terrestre. A ocupação durou 38 dias e foi o marco que iniciou um conflito muito mais violento entre a Petrobras e os pescadores. A partir desse momento, os pescadores têm sido ameaçados e quatro deles da organização "Homens do Mar" foram assassinados.
10. O “vento” leva o bosque Kallpavalli (Índia)
A energia eólica é amplamente promovida como uma solução energética sustentável e socialmente desejável. No entanto, alguns grandes projetos eólicos ao redor do mundo estão provocando um crescente número de conflitos que vão além de interferências estéticas e subjetivas na paisagem.
Esses processos põem em evidência os benefícios de algumas grandes empresas, enquanto os territórios são transformados em detrimento de seus sistemas sociais e valores ecológicos locais.
Um caso relevante é o do estado de Andhra Pradesh (Índia), onde uma iniciativa comunitária exitosa de reflorestamento e de desenvolvimento de atividades de subsistência no bosque Kallpavalli foi destruída pelo projeto eólico Nallakonda.
O projeto, propriedade da empresa India Tadas Wind Energy, conta com um forte respaldo do governo nacional. A instalação de mais de 60 turbinas Enercon desmatou as áreas restauradas, degradando terras produtivas e impactando as fontes locais de água.
Em 2013, a comunidade afetada e diversas organizações constituíram o Tribunal Verde da Índia (National Green Tribunal), denunciando os impactos negativos sobre o pastoreio, a agricultura e a delicada biodiversidade da região. A comunidade e organizações em defesa dos bens comuns continuam enfrentando um projeto que se apresenta como sustentável, mas que destrói a subsistência da população local e o ecossistema regional.
No EJAtlas, estão mapeados projetos eólicos similares e de escala muito maiores, como corredores eólicos de mais de 15 mega-projetos (Oaxaca, México) e a privatização de mais de 16 mil hectares de terras indígenas (noroeste do Kenia).
Em todos eles, a apropriação de terras para a produção de eletricidade “limpa” converte-se em denominador comum que afeta ecossistemas e comunidades marginalizadas, colocando os projetos de energia eólica mal desenhados como um assunto emergente para a justiça ambiental.
Carta Capital