Fred: adeus do campeão (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Antes de tudo, é preciso deixar claro: Fred é o maior centroavante do Fluminense, o grande artilheiro em jogos oficiais, ídolo da atual e das próximas gerações tricolores, dono de um lugar de destaque no panteão das Laranjeiras, merecedor de estátua em Álvaro Chaves. Ponto. Mas o maior de todos os jogadores da centenária história do Flu? Não concordo.
De cara, é necessário estabelecer critérios. O que significa ser o maior? Seria o melhor? O mais vencedor? Aquele com mais identidade? Talvez a soma do que mais se aproxime de tudo isso?
Como, aliás, comparar gerações? Existem os ídolos históricos - aqueles do "eu não vi, só li e ouvi jogar" -, os dos grandes times, os que já pegaram a era da televisão e os atuais, que contam com toda sorte de mídia para promover seus mínimos lances.
Quando não se tem um consenso, como no caso do Tricolor, qualquer escolha se torna subjetiva, também conhecida como resenha de botequim.
Há, no Rio, uma encarnação antiga de rivais que dizem ser o Fluminense um clube sem ídolos, por não ter um nome de consenso. Preguinho, Osvaldo Gomes, Tim, Romeu, Castilho, Píndaro e Pinheiro, Didi, Telê, Félix, Gerson, Samarone, Manfrini, Edinho, Rivellino, Doval, Paulo Cezar Caju, Pintinho, Ricardo Gomes, Branco, Romerito, Washington e Assis, Renato Gaúcho, Thiagos Silva e Neves, Conca, Fred.
Basta escolher, fica a gosto do freguês.
Apontar o maior, o melhor, o único, o grande salvador sempre me pareceu uma necessidade muito mais aguda justamente de quem não é tricolor. E fica tentador entregar o posto a Fred. Ele é sem dúvida o que talvez sempre tenha faltado aos heróis tricolores: é o mais midiático – o que em nada diminui suas qualidades. Pelo contrário, dá mais visibilidade a elas. Fred é articulado, sabe se vender, conquistou o carinho e o respeito da torcida ao longo de sete anos.
Contra o Flamengo, talvez o gol mais bonito de Fred com a camisa tricolor (Foto: Nelson Perez / Fluminense. F.C.)
Já quase se convencionou dizer que Fred é o maior ídolo recente do Fluminense. Parece uma boa – e cômoda - saída. Mas... há quem prefira Conca. Ou Assis. Ou Romerito. Chegar a um acordo é tarefa mais difícil que a arrancada de 2009.
Contrariar os matemáticos, aliás, foi a primeira grande realização de Fred pelo Flu. Seguiram-se então dois Brasileiros (um à sombra de Conca, outro como grande protagonista), um Carioca, uma – vá lá – Primeira Liga, muitos gols, lesões e algumas polêmicas.
Fred sempre foi enorme dentro do Fluminense. E ele não só sabia como fazia uso de tal poder. Em todos os aspectos da vida do clube, o capitão nunca se furtou em opinar e até intervir quando julgou necessário. Pressionou quando foi cobrado, ameaçou deixar o clube algumas vezes, conseguiu aumentos salariais e afastou quem quis. Fez proveito de uma quase sempre comum falta de pulso na diretoria tricolor.
Ao permitir a saída do capitão em nome de orçamentos – no qual não cabe Fred, mas sobram milhões para Henriques e Cíceros - e pagamento de cheques de CT, o presidente Peter Siemsen abre mão de muito mais que apenas o melhor centroavante do país.
É possível que somente Oscar Cox, fundador do Fluminense Football Club, tenha conseguido formar tantos novos tricolores quanto Fred. Sempre foi comum vê-lo cercado por crianças com camisas de clubes rivais pedindo fotos e autógrafos. Pesquisas mostram que, entre a garotada, a torcida do Flu apresenta um crescimento representativo. Na cantina do colégio, ídolos são tão importantes quanto títulos ou lanches.
Último gol de Fred pelo Flu (Foto: Rudy Trindade / Agência Estado)
Peter e sua diretoria perdem essa grande oportunidade de alavancar sua torcida. O Fluminense ainda paga o preço da década perdida em 1990 (gol de barriga à parte). O trabalho de excelência realizado em Xerém não é suficiente para recuperar este terreno baldio – até porque as revelações são vendidas com a velocidade de um Maicon Bolt.
Após as eternamente atrasadas coletivas de despedida, espera-se que Fred tenha o reconhecimento que merece, embora o histórico da atual gestão seja conseguir a proeza de queimar quem deixa o clube depois de conquistar títulos. Vide os casos de Emerson Sheik, Muricy Ramalho e, absurdo dos absurdos, Darío Conca.
Que Fred siga seu caminho, mas não perca o laço com as Laranjeiras. Diretorias passam. Títulos permanecem. Ídolos têm que saber ficar.
É de extremo respeito a opinião de quem o considera o maior da história do Flu. Eu não vejo assim. Por tudo dito acima, não consigo encontrar um nome de consenso entre tantos. Olhando em uma perspectiva geral, me parece ser Castilho quem mais se aproxima do posto. Até um dedo pelo Fluminense o homem amputou. Prefiro, no entanto, ficar com a frase de um grande amigo:
"O maior ídolo da história do Fluminense é o próprio Fluminense".
*O artigo em questão não traduz, necessariamente, a opinião do GloboEsporte.com; é de responsabilidade de seu autor.
Por Emiliano Tolivia
GloboEsporte.com
Rio de Janeiro