31 de agosto de 2016

Orçamento prevê salário mínimo de R$ 945,80 no próximo ano

Brasília - Os ministros do Planejamento, Dyogo Oliveira e da Fazenda, Henrique Meirelles, entregam Orçamento da União 2017 ao 2 vice-presidente do Congresso, senador Romero Jucá (Wilson Dias/Agência Brasil)O salário mínimo para o ano que vem ficará em R$ 945,80, anunciou há pouco o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. O valor consta do projeto do Orçamento Geral da União de 2017, enviado hoje (31) pelo governo ao Congresso Nacional.

A proposta foi entregue por Oliveira e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL). O texto foi enviado ao Congresso logo após a cerimônia de posse do presidente Michel Temer, no Senado.

Os demais parâmetros para a economia no próximo ano, que haviam sido divulgados pela equipe econômica no último dia 17, foram mantidos. A estimativa de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4,8% para 2017.

A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e dos serviços produzidos em um país) ficou em 1,6%. O projeto prevê taxa de câmbio média de R$ 3,40 no dólar para o próximo ano, contra R$ 3,50 em 2015, e de taxa Selic (juros básicos da economia) acumulada de 12,1% ao ano em 2017, contra 14% neste ano.

Agência Brasil

"Se é governo, tem que ser governo", diz Temer na primeira reunião ministerial

O presidente Michel Temer cobrou dos seus ministros um comprometimento com as ideias do governo e que não hesitem em defendê-lo das acusações de que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe. Ao dar início à primeira reunião com sua equipe, Temer afirmou que será "inadmissível" qualquer tipo de divisão em sua base parlamentar e determinou que "se é governo, tem de ser governo".

Dizendo-se animado após ter sido recebido, ao lado de seus ministros, "com muito entusiasmo" no Congresso Nacional, ele pediu que a tese de golpista seja contestada.

"Golpista é você que está contra a Constituição Federal. Não estamos propondo ruptura constitucional. Nós somos de uma discrição absoluta. Jamais retrucamos [no passado] palavras em relação ao nosso governo, [críticas] à nossa conduta. Mas agora não vamos levar ofensa para casa", ordenou, pregando que sua equipe tem "elegância absoluta" mas também que "é preciso firmeza".

"Isso aqui nao é brincadeira, nem ação entre amigos ou ação contra inimigos", cobrou o presidente, pedindo que seus ministros não "tolerem" acusações de que os parlamentares se arrependeram do processo de impeachment ao conceder a Dilma o direito de exercer funções públicas. 

"Pequeno embaraço"
O presidente Michel Temer também admitiu que houve um "pequeno embaraço" na base do governo durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff, quando os senadores decidiram que ela permanece com o direito de exercer funções públicas.

Ele disse que a manutenção dos direitos políticos de Dilma não foi uma derrota para seu governo, mas afirmou que senadores aliados "resolveram sem nenhuma consulta tomar uma posição". Conforme Temer, caso a decisão fosse combinada com o Palácio do Planalto, poderia haver até um "gesto de boa vontade" ao permitir pela continuidade dos direitos políticos de Dilma.

"Hoje nós tivemos um pequeno embaraço na base governamental, em face de uma divisão que lá se deu. Outra divisão que é inadmissível. Se é governo, tem que ser governo. Quando não concorda com uma posição do governo, vem para cá e converse conosco, para nós termos uma ação conjunta. O que não dá é para aliados nossos se manifestarem lá no plenário sem ter uma combinação conosco", cobrou.

"Especialmente agora, sem entrar no mérito, que os senadores decidiram que deveria haver afastamento, mas não a inabilitação prevista literalmente pelo texto constitucional, o que vai acontecer é dizerem: 'Eles se arrependeram, etc'. Não pode tolerar essa espécie de afirmação. Quem tolerar, eu confesso que irei trocar uma ideia sobre isso", disse.

Após as determinações, ele voltou a dizer que os aliados não podem tomar atitudes que "desmereçam" a conduta do governo. "Eu estou dizendo muito claramente isso para dar desde já o exemplo de que não será tolerada essa espécie de conduta. Agora, se há gente que não quer que o governo dê certo, muito bem. Declare-se contra o governo", declarou.

"Não foi derrota do governo, mas o discurso que está sendo feito é nessa direção, exata e precisamente porque membros do governo resolveram sem nenhuma consulta tomar uma posição, que na verdade, se Deus quiser, não vai acontecer nada, mas há partidos que já dizem: 'Ah, então nós vamos sair do governo'. Ora, isto é fazer jogo contra o governo, não dá para fazer isso", disse ainda, sobre a votação em separado feita pelos senadores.

Agência Brasil

Na política há mais de 50 anos, Temer chega ao posto mais alto da República

O vice-presidente Michel Temer durante cerimônia de posse no Palácio do Planalto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Com impeachment de Dilma, Temer assume definitivamente a Presidência da República Marcelo Camargo/Agência Brasil
























Após três meses e 19 dias ocupando o cargo de presidente interino, Michel Temer assume hoje (31) definitivamente o posto mais alto da República. Com a conclusão do julgamento do processo do impeachment que tirou do cargo Dilma Rousseff, Temer tem pela frente mais dois anos e quatro meses de mandato como comandante do Executivo federal.

Durante o período em que ficou na interinidade, Temer afirmou que sua prioridade é a melhoria da economia brasileira e eficiência da máquina pública. Para tanto enviou ao Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos. “É urgente fazermos um governo de salvação nacional”, disse no discurso, ao assumir a Presidência da República como interino.

Por duas vezes vice da chapa PT-PMDB para a Presidência, Temer é paulista de Tietê e começou a carreira na política na década de 60. Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê (SP) no dia 23 de setembro de 1940 e é o caçula de oito irmãos.

Trajetória política
Foi como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, secretário de Educação do governo de São Paulo, em 1964, que Michel Temer iniciou a carreira política. Sua filiação partidária ocorreu décadas depois, em 1981, ao assinar a ficha do PMDB, partido do qual nunca se afastou. Em 1983, foi nomeado procurador-geral do Estado de São Paulo no governo do correligionário Franco Montoro. No ano seguinte, assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, cargo que também ocupou no início dos anos 90.

Temer durante atuação como secretário de Segurança, quando criou a primeira Delegacia da Mulher do país
Temer  durante  atuação  como  secretário  de Segurança, quando criou a primeira Delegacia
da Mulher do paísAssessoria de Michel Temer
Sua atuação como secretário de Segurança foi marcada por ações inovadoras. Temer criou os conselhos comunitários de Segurança (Conensegs) e, após receber uma comissão que denunciava o espancamento de mulheres e o descaso de autoridades com os crimes, instituiu a primeira Delegacia da Mulher no Brasil. Também criou a Delegacia de Proteção aos Direitos Autorais, instrumento de combate à pirataria, e a Delegacia de Apuração de Crimes Raciais.

Em 1986, foi candidato a deputado federal pelo PMDB de São Paulo, mas, com os 43.747 votos obtidos, ficou como suplente. Em 16 de março de 1987, assumiu o primeiro mandato na Câmara, com a licença do deputado Tidei de Lima, e se tornou constituinte. Na segunda eleição, em 1990, Michel Temer também ficou como suplente, registrando 32. 024 votos.

Em 1992, no governo de Luiz Antônio Fleury em São Paulo, voltou à Secretaria de Segurança seis dias após o Massacre do Carandiru. Naquela ocasião, uma intervenção da Polícia Militar no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, para conter uma rebelião, provocou a morte de 111 detentos.

Presidente interino
Vice-presidente de Dilma desde o primeiro mandato, Temer foi responsável pela articulação política do governo, com a saída de Pepe Vargas da Secretaria de Relações Institucionais, no início de abril de 2015. Apesar de fazer parte do governo, nos últimos meses, viveu uma relação conturbada com Dilma. Em agosto, anunciou a saída da coordenação política.

Em dezembro, Temer escreveu uma carta em que se dizia “vice decorativo” e que não era ouvido pela então presidenta. À época, Dilma disse não ver motivos para desconfiar “um milímetro” de Michel Temer. Ela destacou ainda que não só confia como sempre confiou nele e que o vice-presidente sempre teve um comportamento “bastante correto”.

Em março deste ano, o PMDB decidiu deixar a base do governo para apoiar o processo deimpeachment que tramitava na Câmara dos Deputados.

Já em abril, na mesma semana da votação no plenário da Câmara da admissibilidade do processo de impeachment de Dilma, Temer enviou uma mensagem de voz a parlamentares do PMDB em que falava como se estivesse prestes a assumir o governo após o afastamento de Dilma. O áudio, de cerca de 14 minutos, dá a impressão de ser um comunicado dele ao “povo brasileiro” sobre como pretende conduzir o país, de forma transitória ou não. Depois das primeiras repercussões da mensagem nas redes sociais, a assessoria de Temer informou que o áudio foi enviado por engano a um grupo de deputados do partido.

No dia seguinte, Dilma disse que havia um golpe em curso contra o seu governo e, sem citar nomes, fala em "chefe e vice-chefe do golpe", referindo-se a Michel Temer e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), até então presidente da Câmara dos Deputados.

Influência política
Temer exerceu seis mandatos como deputado federal. No pleito de 2006, com 99.046 votos, foi eleito com o menor número de votos entre os três parlamentares do PMDB que conquistaram vaga na Câmara. Antonio Bulhões obteve 109.978 votos e Francisco Rossi de Almeida, 106.272.

Em 2009, foi apontado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como parlamentar mais influente do Congresso Nacional. “Michel Temer é um político experiente, de boa formação, habilidoso na articulação com os agentes públicos de modo geral e com os demais poderes quando exerce a função de chefe de poder. É um parlamentar que conhece a real importância do diálogo, da negociação e isso pode ser um diferencial neste período à frente da Presidência da República”, disse Antônio Augusto, jornalista e analista político do Diap.

Temer foi eleito três vezes para a presidência da Câmara (1997, 1999 e 2009). Na condição de presidente da Casa, assumiu a Presidência da República interinamente por duas vezes: de 27 a 31 de janeiro de 1998 e em 15 de junho de 1999 (governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso).
No PMDB, foi presidente do Diretório Nacional de 2001 ao fim de 2010. No ano seguinte, licenciou-se do posto ao assumir a Vice-Presidência da República. Em 2013, ele voltou ao posto, eleito por unanimidade. Após a saída do PMDB do governo em março, em meio às discussões doimpeachment da presidenta Dilma Rousseff, Temer licenciou-se da presidência da legenda e deu lugar ao senador Romero Jucá (PMDB-RO).

Aliança PT-PMDB
Bolo marca união entre PT e PMDB
Bolo com bonecos representando Dilma e Termer marcou, em 2011,união entre PT e PMDBArquivo/Agência Brasil
























A aliança entre o PMDB e o PT começou no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há 13 anos. Em votação simbólica, no dia 13 de junho de 2010, os petistas aprovaram, durante a convenção nacional do PT, em Brasília, a formalização da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República e a indicação do deputado Michel Temer para vice na chapa.

Em julho de 2011, em meio à última reunião da base aliada no primeiro semestre, houve até um bolo com os bonecos de Dilma Rousseff e de Michel Temer no topo. Na época, petistas como Ricardo Berzoini e peemedebistas como Henrique Eduardo Alves e Marcelo Castro, todos ministros do governo Dilma, repartiram o bolo para celebrar o “casamento” entre as legendas.

Formação
Formado em direito pela Universidade de São Paulo (1963), Temer é doutor em direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. O presidente interino também atuou como professor de direito em 1968. Sua carreira acadêmica estendeu-se até 1984.

Temer é autor dos livros Constituição e Política, Territórios Federais nas Constituições Brasileiras eSeus Direitos na Constituinte e Elementos do Direito Constitucional, esse último na 24ª edição, com mais de 200 mil exemplares vendidos.

Intimidade
A intimidade do presidente sempre foi preservada. Apesar do reconhecido traquejo político, Michel Temer manteve-se discretamente nos bastidores do poder.

Com a publicação de seu livro de poemas Anônima Intimidade, em 2013, deixou de lado o perfil reservado de político e expôs traços de sua natureza íntima. Na ocasião, contou que a obra foi escrita durante viagens entre a residência pessoal e reduto eleitoral, em São Paulo, e a capital federal. Temer afirmou que os versos eram "imortalizados em guardanapos".

Michel Temer é casado há 13 anos com Marcela Temer, com quem tem o filho Michel. Também foi casado com Neusa Popinigis (sem filhos) e com Maria de Toledo, com quem teve três filhas: Clarissa, Luciana e Maristela.

Também filiada ao PMDB, Luciana Temer é secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, na gestão do prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição pelo PT.

Agência Brasil

Michel Temer toma posse como presidente e terá mandato até 2018

Brasília - Michel Temer toma posse como presidente da República em solenidade no Congresso Nacional (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Michel Temer toma posse como presidente da República em solenidade no Congresso NacionalFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O plenário do Congresso Nacional acaba de dar posse a Michel Temer como presidente da República. Ele já estava no cargo interinamente desde o afastamento de Dilma Rousseff por consequência da abertura do processo de impeachment dela, em maio deste ano. A posse foi dada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL).

A cerimônia ocorreu no plenário do Senado, que estava lotado de senadores, deputados, ex-parlamentares e convidados. Temer leu juramento em que se compromete a defender e respeitar a Constituição. Em seguida, foi lido o termo posse. 

A posse foi marcada logo após o plenário do Senado decidir pelo impedimento da presidenta e Temer ser notificado de que assumiria definitivamente a Presidência da República até 31 de dezembro de 2018, quando termina o mandato.

Michel Temer é jurista especializado em direito constitucional e atuou como parlamentar por cerca de 25 anos, entre mandatos assumidos como eleito e suplente. Foi presidente da Câmara dos Deputados por três vezes e foi eleito como vice-presidente junto com Dilma Rousseff em 2010 e depois reeleito em 2014.

Agência Brasil

Dilma, em seu primeiro discurso como ex-presidente: “Nós voltaremos”

A ex-presidente Dilma Rousseff faz um pronunciamento no Palácio da Alvorada, em Brasília, após ter seu mandato cassado em votação no Senado Federal, em Brasília (Foto: Evaristo Sá/AFP)
A agora ex-presidente da República Dilma Rousseff acaba de fazer seu primeiro discurso (leia a íntegra abaixo) depois da decisão do Senado que pôs fim ao seu segundo mandato depois de um ano e oito meses de exercício, mas manteve seus direitos políticos. Cercada de aliados, ex-ministros e lideranças sociais, a petista leu pronunciamento em um púlpito instalado no Palácio da Alvorada e reafirmou a tese de “golpe de Estado” de que diz ter sido vítima. E, a certa altura da leitura, sinalizou retorno à vida pública.

“Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano”, declarou a ex-presidente, exortando correligionários a lutar “contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia”.
Dizendo ter sido alvo de machismo e misoginia, Dilma destacou em seu pronunciamento o papel da mulher brasileira durante todo o processo de impeachment. “Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment”, declarou Dilma. “O machismo e a misoginia mostraram suas feias faces”, encaminhando o encerramento da fala.
“Nesse momento, não direi adeus. Tenho certeza de que posso dizer até daqui”, conclui presidente, cercada de aliados aos gritos de “fora, Temer”.
Leia a íntegra do pronunciamento:
“Pronunciamento da presidenta Dilma após aprovação do golpe parlamentar
Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados, presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens de meu País.
Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar.
Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado.
É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo.
É uma inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis.
Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados.
O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social.
Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment.
Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.
O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido.
O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência.
Peço às brasileiras e aos brasileiros que me ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110 milhões que avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes.
Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram negados.
A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta.
Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.
Quando o Presidente Lula foi eleito pela primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País.
Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.
Espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia.
Saio da Presidência como entrei: sem ter incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus compromissos; com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil.
Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade.
Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles.
Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.
Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer “até daqui a pouco”.
Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski:
‘Não estamos alegres, é certo,
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta.’

Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça.”
Congresso em Foco

Cassação da Dilma: veja como os senadores votaram



Senado decidiu por cassar o mandato da petista por 61 votos a favor e 20 contra



Congresso em Foco

Primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma deixa cargo a 2 anos do fim do mandato


Posse de Dilma em 2011José Cruz/Agência Brasil 


























Em 1° de janeiro de 2011, ao assumir o mandato como primeira presidente mulher do Brasil no Congresso Nacional, Dilma citou em seu discurso os versos de Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".

Cinco anos e meio depois, ela voltou ao mesmo cenário em que foi empossada para enfrentar o julgamento do impeachment que a afastou em definitivo do cargo, mais de dois anos antes do fim de seu segundo mandato. Ex-ministra do governo Lula e presa política durante a ditadura militar, Dilma Vana Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947. Filha do imigrante búlgaro Pedro Rousseff e da professora Dilma Jane da Silva, nascida em Resende, no Rio de Janeiro, Dilma tem uma filha, Paula, e dois netos, Gabriel e Guilherme.

Ditadura militar
Dilma Rousseff iniciou os estudos no tradicional colégio de freiras Nossa Senhora de Sion (atual Santa Dorotéia) e fez o ensino médio no Colégio Estadual Central, ambos na capital mineira. 

No ensino médio, em 1964, ela conheceu o primeiro marido, Claudio Galeno, com quem se casou em 1967, ano em que entrou no curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e aderiu ao Comando de Libertação Nacional, organização que combatia a ditadura e que se fundiu com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), formando a VAR-Palmares.  A VAR-Palmares fez algumas ações armadas contra a ditadura, mas Dilma, que atuava em estratégia e planejamento, não participou de nenhuma delas. Nas campanhas eleitorais, essa passagem de sua vida era muito explorada.

No ano seguinte, ela e o marido passaram a ser perseguidos pelo regime em Minas Gerais, entraram na clandestinidade e acabaram se separando. Na clandestinidade, como mandavam os manuais de segurança, Dilma usou vários codinomes. Chamou-se Luiza, Wanda, Marina, Estela, Maria e Lúcia. Galeno foi para o exílio.

Em 1969, Dilma conheceu o advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem se casou e teve a única filha. Juntos, eles foram perseguidos pela ditadura. Condenada por subversão, Dilma passou quase três anos – de 1970 a 1972 – no Presídio Tiradentes, na capital paulista.

Tortura
No discurso dessa segunda-feira (29) em que foi ao Senado apresentar sua defesa no processo deimpeachment, Dilma lembrou a perseguição, a prisão e a tortura sofrida durante o regime militar, episódios que sempre citou ao longa da vida pública. "Na luta contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos o sofrimento da prisão. Vi companheiros e companheiras sendo violentados, e até assassinados", disse.

A jornalista Rose Nogueira, de 70 anos, foi companheira de prisão de Dilma. Presa em novembro de 1969, separada do filho recém-nascido e torturada, Rose foi levada ao Presídio Tiradentes, em São Paulo, onde conheceu Dilma. As duas dividiram a cela com mais 50 presas políticas.

“Dilma chegou com mais duas moças. Ela era mais jovem que eu e logo marcou presença porque estudava muito. Era muito disciplinada e participava de todas as organizações coletivas. Era o único jeito de suportar aquilo ali. Éramos todas muito machucadas, inclusive com lembranças. Dilma chamava a atenção por isso”, lembrou a jornalista.

“Passei só alguns meses com ela. Saí e fiquei em liberdade vigiada por dois anos e pouco. Dilma ficou três anos presa, mas tudo o que a gente discutia, sobretudo política, tudo para ela era o Brasil primeiro. 'Isso é bom para o Brasil?', perguntava.”

Vida política
Livre da prisão, Dilma mudou-se para Porto Alegre em 1973. Fez novo vestibular e retomou os estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, em 1975, começou a trabalhar como estagiária na Fundação de Economia e Estatística do governo gaúcho. No ano seguinte, deu à luz a filha Paula Rousseff Araújo.

Com o marido Carlos Araújo, participou da fundação do PDT no Rio Grande do Sul e trabalhou na assessoria da bancada estadual do partido entre 1980 e 1985. Em 1986, o então prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares, escolheu Dilma para a Secretaria da Fazenda.

Dilma também foi diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, quando participou da campanha de Leonel Brizola pelo PDT ao Palácio do Planalto em 1989 – ano da primeira eleição presidencial direta após a ditadura militar. No segundo turno, foi às ruas defender o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi derrotado pelo representante do PRN, Fernando Collor.

No início da década de 1990, Dilma retornou à Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, como presidente da instituição. Em 1993, com a eleição de Alceu Collares para o governo gaúcho tornou-se secretária de Energia, Minas e Comunicação.

Em 1998, iniciou curso de doutorado em Economia na Universidade Estadual de Campinas, mas, já envolvida na campanha sucessória no Rio Grande do Sul, não chegou a defender tese. A aliança entre PDT e PT elegeu Olívio Dutra governador e Dilma ocupou, mais uma vez, a Secretaria de Energia, Minas e Comunicação do estado. Dois anos depois, filiou-se ao PT.

Em 2002, Dilma foi convidada a participar da equipe de transição entre os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula (2003-2010). 

Lula a conheceu no Rio Grande do Sul, como secretária de Minas e Energia do governo de Olívio Dutra. No governo Lula, tornou-se ministra de Minas e Energia.

Entre 2003 e 2005, com a criação do chamado marco regulatório (leis, regulamentos e normas técnicas), comandou uma ampla reformulação no setor. Além disso, presidiu o Conselho de Administração da Petrobras, introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira e criou o programa Luz para Todos.


Dilma e Lula em 2009
Dilma e Lula em 2009Arquivo/Agência Brasil

Em 2005, Lula escolheu Dilma para a chefia da Casa Civil. Nesse cargo, ela assumiu o comando de programas estratégicos como o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, e Minha Casa, Minha Vida - chegou a ser chamada de "mãe do PAC".

Ela também coordenou a comissão interministerial encarregada de definir as regras para exploração das reservas de petróleo na camada pré-sal e integrou a Junta Orçamentária do Governo.

O ex-ministro das Cidades e ex-governador gaúcho Olívio Dutra, de 75 anos, que conheceu Dilma na década de 70, quando presidia o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, falou sobre a capacidade técnica de Dilma.

“Dilma tinha um acúmulo de senso crítico, um bom cabedal de informações e conhecimento. Lembro bem que, na época, laptop era coisa rara. Ela foi uma das primeiras pessoas a utilizar muito bem essa ferramenta. Tinha um arquivo considerável, uma avaliação sempre segura”. 

Câncer 
Com perfil enérgico e gerencial, Dilma abandonou o ar sisudo ao revelar que estava com câncer linfático, em 2009.  Fez sessões de quimioterapia, perdeu o cabelo e usou peruca por uns tempos. No final daquele ano, os médicos a declararam curada.

Eleição
No dia 3 de abril de 2010, Dilma, que nunca havia disputado um cargo eletivo, deixou a equipe ministerial para se candidatar à Presidência da República pelo PT, com apoio de Lula.

No segundo turno das eleições, em 31 de outubro de 2010, Dilma derrotou o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB). Aos 63 anos, Dilma Rousseff foi, então, eleita presidenta da República, com quase 56 milhões de votos. A primeira mulher a presidir o Brasil.

Em 2013, foi considerada como a segunda mulher mais poderosa do mundo, atrás apenas da chanceler alemã Angela Merkel, pela revista Forbes.

A reeleição, conquistada também em segundo turno, veio em 2014. No dia 25 de outubro daquele ano, com 54.501.118 votos (51,64%), Dilma foi reeleita, derrotando o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), que teve 51.041.155 votos (48,36%).

A presidenta Dilma Rousseff chega ao Congresso Nacional onde toma posse no plenário da Câmara dos Deputados, para o segundo mandato (Marcelo camargo/Agência Brasil)
A presidenta Dilma Rousseff assumiu o segundo mandato em 2015Marcelo Camargo/Agência Brasil

Impeachment
Dos mais de 30 pedidos de impeachment da presidenta Dilma Rousseff que chegaram à Câmara dos Deputados no ano passado, o então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acolheu apenas o que foi apresentado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr e Janaína Paschoal, no dia 21 de outubro. A presidenta foi acusada de crime de responsabilidade fiscal e de edição de decretos sem autorização do Legislativo.

Dilma alega inocência, afirmando que não havia infringido a lei, e diz que é vítima de um golpe liderado por Eduardo Cunha e Michel Temer, seu vice-presidente com quem teve uma relação conturbada.

Fernando Collor, primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura militar, foi o primeiro chefe de governo brasileiro afastado do poder em um processo de impeachment.

Com Dilma Rousseff, é a segunda vez que um presidente perde o mandato no mesmo tipo de processo. Aprovado na Câmara e no Senado, o processo entrou na fase de julgamento na última quinta-feira (25). Em maio, ela foi afastada temporariamente da Presidência da República após os senadores acatarem o processo.

Com a saída de Dilma, encerra-se um ciclo de 13 anos de governos petistas.

Agência Brasil