Clube mais jovem a ser finalista da Libertadores - tinha 13 anos em 2002 -, o São Caetano pode ser rebaixado à Série C nesta final de semana, em mais um passo de sua impressionante decadência nos últimos anos. Lanterna da Série B faltando só três rodadas, com 32 pontos, o time vai se não derrotar o Joinville, sábado, às 21h, no Anacleto Campanella. A única chance de escapar da degola é vencer seus três jogos restantes e torcer por uma complicada combinação de resultados.

O enorme declínio do São Caetano é uma situação que parecia impensada para um clube que tem na precocidade a sua grande marca. Fundado em 1989, o time do ABC Paulista só precisou de 11 anos de vida para disputar a decisão do Campeonato Brasileiro – chamado de Copa João Havelange em 2000, quando foi derrotado pelo Vasco. No ano seguinte, mais uma vez o Azulão alcançou a final do Brasileirão, quando perdeu o título para o Atlético-PR. Em 2002, a equipe ultrapassou fronteiras e foi finalista da valorizada Libertadores, quando acabou sendo superada pelo Olimpia, do Paraguai, na finalíssima disputada no Pacaembu. Dois anos depois, em 2004, o São Caetano atropelou os grandes clubes paulistas e ganhou o seu primeiro e único Paulistão.
Dois personagens fundamentais na história do Azulão se dividem ao explicar os motivos que levaram o mais vitorioso clube do ABC Paulista a despencar na longa escada que leva às glórias. Para Nairo Ferreira de Souza, presidente do clube desde 1996, a culpa do iminente rebaixamento é dos jogadores, que, segundo ele, não demonstraram comprometimento e deixaram de honrar a camisa do clube. Já para o atacante Adhemar, considerado o maior jogador da história do São Caetano, a culpa não é apenas dos atletas. A diretoria, comandada pelo longevo mandatário, não conseguiu manter o profissionalismo visto nos anos de glória.
Presidente ataca elenco e promete renascimento
Nairo Ferreira de Souza, presidente do Azulão
(Foto: Reprodução SporTV)
Nairo Ferreira de Souza se orgulha em dizer que é o maior presidente da história do São Caetano. Em 1996, quando assumiu o poder, ele pegou um time na Série A-3 do Paulistão e na terceira divisão do Brasileiro. Dois anos depois, o time subiu uma esfera nas duas competições e deu início ao seu caminho rumo ao estrelato. Com jogadores desconhecidos e uma estrutura respaldada por investimentos de uma grande empresa e da prefeitura de São Caetano do Sul, o time conseguiu construir uma história raramente vista no futebol brasileiro. Porém, tal enredo corre o risco de ser esmigalhado com a ida para a Série C. Como explicar tamanha reviravolta?
O cartola isenta a diretoria de qualquer culpa. Para ele, os grandes vilões são os jogadores do atual elenco.
Culpo a falta de comprometimento dos jogadores. Com bons salários em dia e uma ótima estrutura, eles tinham a obrigação de honrar a camisa e não deixar o clube passar por essa situação"
Nairo Ferreira, presidente do Azulão
– É uma situação difícil de explicar. Nós montamos uma equipe para estar entre os quatro melhores da Série B e as coisas não aconteceram. O maior problema foram os jogadores. Qualquer treinador acha que o time tem elenco para chegar. Eu culpo a falta de comprometimento dos jogadores. Com bons salários em dia e uma ótima estrutura, eles tinham a obrigação de honrar a camisa e não deixar o clube passar por essa situação. No ano passado, nós brigamos para subir para a Série A, mas agora os jogadores afundaram o time – afirmou Nairo.
Questionado se o fato de ele ter se perpetuado na presidência do São Caetano é prejudicial ao clube, o mandatário diz que não. Ele afirma só ter trazido benefícios ao Azulão.
– Eu sou um grande vencedor dentro do São Caetano. A nossa provável queda é uma consequência do futebol. O planejamento sempre foi traçado para voltarmos à elite. O time acomodou na competição, mas a estrutura continua a mesma.
Muricy, com Lucio Flavio ao fundo, e a taça de campeão paulista de 2004 (Foto: Arquivo / Ag. Estado)
Após jogar toda a culpa para os jogadores, mas aceitar o rebaixamento, Nairo já demonstrou estar pensando em 2014. Ele diz que a volta por cima vai ser obtida com o retorno às origens do Azulão. E, que, já ano que vem, o time superará a Série C.
– Eu vou resgatar o time. Para isso, nós temos de voltar às nossas origens. Nós vamos trazer um novo treinador, pois o Pintado só veio para o Brasileiro da Série B. E vamos fazer uma nova comissão técnica, além de mandar embora uns 60% dos jogadores do elenco. Quero jogador que queira crescer na carreira, que não chegue no São Caetano, que é um clube de camisa, e se acomode. Vamos encarar com realidade. É montar uma equipe forte e voltar para a Série B já no ano que vem. Vamos voltar forte, nós temos camisa e estrutura.
Adhemar quer ser presidente do São Caetano para salvar o clube
Adhemar comemora gol pelo São Caetano na
Copa JH, em 2000 (Foto: Divulgação/Site da FPF)
Quando se pensa nos tempos de glória do Azulão, o nome de Adhemar é disparado o mais lembrado. Atacante de baixa estatura e dono de um chute potente e certeiro, o paulista de Tatuí brilhou intensamente com a camisa do São Caetano. O auge foi em 2000, quando foi o artilheiro da Copa João Havelange, com 22 gols. Entre idas e vindas, Adhemar jogou no ABC Paulista entre 1996 e 2006 e assinalou 68 tentos, sendo o maior goleador da história do clube.
Com tamanho prestígio, o ex-jogador não descola a sua imagem do São Caetano. A ponto de se sentir rebaixado com o time.
– Eu sinto como se estivesse sendo rebaixado também. E que, assim, o nosso trabalho nos anos de conquistas teria sido em vão. Eu fiz parte de todo o processo de crescimento do São Caetano. Foi muito difícil levarmos o time da Série C para a Série A, entre 98 e 2001. Isso não poderia acontecer. O Azulão merece estar sempre na primeira divisão.
Adhemar culpa a diretoria pela decadência, mas ele também não exime os atuais jogadores do São Caetano:
Na nossa época, o São Caetano era usado como ponte para um grande clube. Mas agora o jogador chega no Azulão e fica sem grandes ambições, já se sente realizado. A diretoria está contratando mal"
Adhemar, grande ídolo do São Caetano
– O presidente é o mesmo da época, isso explica muita coisa. No futebol, é necessário mudar o poder, senão existe acomodação. O presidente fez muito no passado, só que agora o planejamento dele não funciona mais.
– Eu também culpo um fator importante: a falta de comprometimento dos jogadores com o clube. Como o São Caetano paga em dia, o jogador chega e já se sente estabilizado na carreira. Na nossa época, o São Caetano era usado como ponte para um grande clube. Mas agora o jogador chega no Azulão e fica sem grandes ambições, já se sente realizado. A diretoria está contratando mal – acrescentou o ex-atleta.
Chateado com a provável queda para a Série C, Adhemar conta que sonha ser o homem-forte do São Caetano.
– Eu quero ser presidente do Azulão. Eu quero trabalhar para salvar o clube e fazer com que o time volte à Série A e volte a jogar de igual para igual contra os grandes clubes do Brasil. Já estou ficando mais por dentro da política do clube. É meio fechado lá, mas vou fazer de tudo para conseguir fazer parte da diretoria de futebol e depois ser presidente.
Jogadores do São Caetano: rumo à Série C (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Por David AbramveztSão Paulo