11 de junho de 2018

A dívida mundial já alcança 225% do PIB global e a bomba ameaça explodir

Jerome Powell, presidente da Reserva Federal, e Mario Draghi, presidente do BCE.Jerome Powell, presidente da Reserva Federal, e Mario Draghi, presidente do BCE.  REUTERS
Você e eu estamos sentados em uma montanha de dívida pública e privada. A cota para cada habitante do planeta é de 21.866 euros, ou 95.554 reais. Uma bola de neve gigantesca e voraz. A fatura total chega a 164 trilhões de dólares (608 trilhões de reais), quantia equivalente a 225% do PIB mundial. Viver a crédito foi a saída natural da crise financeira. Os empréstimos permitiram cobrir os desequilíbrios das contas públicas e reanimar o crescimento. Mas convém não ultrapassar determinadas linhas vermelhas. Um nível de endividamento jamais visto desde a Segunda Guerra Mundial é uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento. Argentina e Itália são dois exemplos recentes de como ressuscitam facilmente os fantasmas mal enterrados.
“Os altos níveis de dívida e os elevados déficits públicos são um motivo de preocupação”, adverte o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu último Monitor Fiscal. As nações com um grande endividamento, lembra esse organismo, são mais vulneráveis a um endurecimento das condições globais de financiamento, que poderiam dificultar o acesso aos mercados e colocar pressão sobre a economia. “A experiência demonstra que os países podem sofrer notáveis e inesperados choques em sua proporção entre dívida e PIB, o que aumenta a possibilidade de haver problemas em cadeia”, concluem esses especialistas.
China é o país que mais contribuiu para o aumento do volume total na última década. Mas não é o único. As economias desenvolvidas devem o equivalente a 105% de seu PIB em média. Para as nações emergentes, a proporção já é de 50%, uma fronteira ultrapassada pela última vez nos anos oitenta, o que causou uma grave crise em muitas delas. “Por enquanto, o crescimento global é robusto, o desemprego está diminuindo e as taxas de juros continuam baixas. Todo isso faz com que o aumento da dívida seja manejável, mas se houvesse uma desaceleração inesperada ou um rápido aumento do preço do dinheiro, esta situação agradável se apagaria instantaneamente”, afirma Pierre Bose, estrategista do Credit Suisse.
O crédito cria um vício extremo. Por isso, o maior risco é a grande velocidade com a qual se chegou ao nível atual. Mais de um terço das economias avançadas, por exemplo, devem no mínimo o equivalente a 85% do tamanho de sua economia, três vezes mais do que no ano 2000. Os Governos, ao pisar no acelerador do crédito, resistiram à recessão, mas poderiam estar hipotecando o futuro econômico de seus países. “Com o tempo, a dívida deixa de estimular a atividade. Cada vez se necessita de mais acúmulo de empréstimos para gerar um ponto percentual adicional no PIB. O crescimento impulsionado pela dívida pode ser divertido no início, mas simplesmente traz para o presente o consumo futuro, do qual sentiremos falta depois”, diz Alfredo Álvarez-Pickman, economista-chefe do Key Capital Investment.
Nos países avançados, o endividamento lembra o da Segunda Guerra Mundial

Momento delicado

A bolha chega, além disso, em um momento muito delicado. A Reserva Federal dos EUA começou a reduzir seu saldo − já não compra títulos públicos e amortiza os que tem no vencimento −, medida que vem acompanhada por aumentos das taxas de juros. O Banco Central Europeu (BCE) continua comprando dívida soberana, mas planeja fechar a torneira em setembro e seguir o caminho de seu homólogo americano. O plano traçado pelos dois organismos prevê um endurecimento monetário progressivo e moderado. Para que se materialize, é preciso que se cumpra a outra parte da equação: que os preços continuem sob controle. “A inflação tem sido modesta, mas se voltasse de forma súbita colocaria os bancos centrais em uma encruzilhada. Teriam de decidir entre deixar que os preços continuassem subindo, algo que vai contra sua natureza, ou elevar os juros para combatê-la, o que encareceria a carga de juros de Estados, empresas e famílias”, ressalta Bart Hordijk, analista do Money Europe.
Este ano marca o décimo aniversário da quebra do Lehman Brothers, tiro de largada da crise financeira que foi o prelúdio da Grande Recessão. No mercado, começa a se espalhar a teoria de que já não há ciclos econômicos, e sim ciclos de crédito, e que por isso convém não perder de vista o contador da dívida. Alguns especialistas, entretanto, recomendam prudência, pondo os dados em perspectiva. “Os níveis atuais de endividamento são autofinanciados e baratos. Essa é uma diferença importante em relação à situação da dívida global e da economia uma década atrás”, aponta Stéphane Monier, diretor de investimentos do banco Lombard Odier.
Um dos riscos é a velocidade com que cresceu a dívida, principalmente nos emergentes
A economia mundial já vive um longo período de crescimento. Embora ninguém preveja uma mudança de tendência por enquanto, a ideia de que poderíamos estar nas últimas fases do ciclo ganha força. Quando chegasse a temida desaceleração econômica, o melhor que poderia acontecer a um governo seria ter margem para aumentar os gastos públicos, reduzir impostos e baixar os juros. Essas ferramentas contracíclicas, no entanto, são agora uma quimera. Por isso, instituições como o FMI estão pedindo aos países que construam, por meio da redução do déficit, um colchão para quando os maus tempos chegarem. “Os governos têm pouca margem fiscal devido à situação atual da dívida. Além disso, do ponto de vista monetário, os bancos centrais iniciaram o caminho do endurecimento. Devido à ausência desses estabilizadores tradicionais, a próxima recessão será mais pronunciada do que em ocasiões anteriores”, alertam os especialistas da Carmignac.
Como os problemas nunca vêm sozinhos, à elevada dívida pública é preciso somar a também delicada situação do endividamento privado, que dobrou em uma década e já alcança 120% do PIB mundial. “O endividamento das famílias é um problema principalmente quando é o resultado de um boom no mercado imobiliário”, explica Stefan Hofrichter, economista-chefe da Allianz GI. “Chama a atenção o fato de que o aumento da dívida privada se deva em grande medida à evolução dessa dívida em países pouco afetados pela crise financeira, como Canadá, Suécia, Noruega, Austrália, China, Brasil, Turquia e Índia. Muitos deles são precisamente os que tiveram o maior aumento nos preços da moradia dos últimos dois anos”, acrescenta Hofrichter.
Os riscos de uma dívida alta têm tradicionalmente pairado sobre as economias mais fracas. Essa tendência não mudou, mas foi reforçada pelo maior endividamento atual e pelas mudanças em sua composição durante os últimos anos. O primeiro perigo para o bloco emergente é de refinanciamento, já que ganharam peso os empréstimos não vinculados a concessões, cujos prazos de vencimento são mais curtos. Esses países também são mais sensíveis à retirada de fluxos de financiamento porque os investidores estrangeiros são os principais compradores. Além disso, são nações muito mais expostas à variação das taxas de câmbio: um terço da dívida dos países em desenvolvimento é denominado em moeda estrangeira, peso que aumenta para dois terços no caso daqueles de menor renda. “A natureza do problema da dívida não mudou. É um problema que afeta mais o mundo emergente do que o desenvolvido, porque a confiança do mercado em sua capacidade de pagamento é menor e, além disso, a situação pode mudar bruscamente, como vimos recentemente com o título argentino com prazo de 100 anos”, explica Agnieszka Gehringer, analista do Instituto Flossbach von Storch.
O plano fiscal de Trump põe à prova a capacidade financeira dos EUA
Mas a dívida dos países emergentes não é a única que causa preocupação. As atenções começam a se voltar para a maior economia do mundo. O aumento dos gastos em 150 bilhões de dólares (156 bilhões de reais) − 0,7% do PIB − por ano durante os próximos dois anos e a redução de impostos aprovada pelo Governo Trump levarão o déficit orçamentário dos EUA para mais de 1 trilhão de dólares (3,7 trilhões de reais), mais de 5% do PIB. Essa situação e também as maiores necessidades de financiamento farão com que a proporção da dívida em relação ao PIB seja de 117% em 2023, segundo cálculos do FMI. “No curto prazo, essas medidas serão positivas para os investidores, já que permitirão que o mercado continue em alta enquanto os EUA continuarem puxando a economia mundial. No entanto, a dívida pode se transformar em um assunto a ser acompanhado de perto quando a atividade do país se desacelerar e a proporção de endividamento subir mais do que o previsto”, indica Susan Joho, economista do Julius Baer.

Velhos fantasmas

A crise da dívida europeia colocou o euro contra as cordas há seis anos. Desde então, os esforços orçamentários dos governos e a atitude decidida do BCE baixaram a tensão e provocaram certa convergência dos títulos públicos, que pouco a pouco recuperaram seu status de ativos quase livres de risco, permitindo aos países financiar a recuperação com dívida barata. No entanto, os riscos não desapareceram, como se pôde comprovar nas últimas semanas com a disparada do prêmio de risco italiano devido à encruzilhada política em que se encontra o país. “Se a economia se desacelerar antes que se consiga melhorar as contas públicas, não está descartada a possibilidade de aumento dos custos de financiamento para as nações europeias mais endividadas. Reviver uma situação parecida com a de 2012 é possível se o mercado puser ênfase na sustentabilidade fiscal”, ressalta Chris Iggo, responsável por renda fixa na Axa Investment Managers.
A maioria dos especialistas consultados aponta as políticas monetárias muito frouxas como o principal motor do aumento da dívida pública no mundo. “Quando os bancos centrais reduzem as taxas de juros a níveis extremos, seu único objetivo é incentivar o mundo a pedir emprestado”, recorda Álvarez-Pickman. Ao mesmo tempo, a promoção dessas medidas heterodoxas causou uma mudança na percepção que se tem sobre o crédito. “Houve mudanças estruturais e de conduta na dinâmica do endividamento. Tomar emprestado passou a ser algo mais aceito culturalmente devido às políticas governamentais orientadas a injetar mais dinheiro na economia”, assinala um especialista da Brandywine Global, filial da gestora de ativos Legg Mason.
As políticas dos bancos centrais viciaram os Estados em crédito
Outro fator-chave na hora de explicar o maior endividamento é a demografia. “Os países desenvolvidos enfrentam o envelhecimento de suas populações. Cada vez há mais aposentados do que pessoas ativas, e isso significa menores receitas fiscais. Quando um governo arrecada menos, mas seus compromissos de gastos são maiores, uma solução fácil para o problema é a emissão de mais dívida”, afirma Christopher Gannatti, diretor de análise da WisdomTree. Nesse sentido, a proporção da dívida em relação ao PIB é consideravelmente mais alta quando se incluem os compromissos de gastos com aposentadorias e saúde. Nesse caso, o endividamento médio nos países avançados quase dobra, chegando a 204% do PIB, e nos emergentes ele dispara para 120%.

Soluções

O que se pode fazer para reduzir os níveis de dívida? A geração de um crescimento maior e sustentado é uma das possíveis soluções, já que ao aumentar o tamanho da economia se dilui em parte o peso dos empréstimos sobre ela. “O crescimento é o principal assassino da dívida. A melhora da atividade, isto sim, deveria vir pelo lado da oferta. Este tipo de crescimento se obtém com reformas, reformas e mais reformas. Um exemplo concreto é a melhora no acesso à educação e em sua qualidade. Ter pessoas mais bem formadas significa aumentar a produtividade no futuro”, sustenta Witold Bahrke, responsável por estratégia macroeconômica da Nordea AM.
Outra receita básica, mas difícil de levar a cabo, é não gastar mais do que se arrecada. O controle do déficit público é fundamental para livrar as economias de seu vício em dívida. “Os governos, as famílias e as empresas simplesmente têm de deixar de gastar além de suas possibilidades. Nesse sentido, temos o exemplo de Austrália e Suécia, que adotaram medidas prudenciais para evitar o superaquecimento de seus mercados imobiliários”, comenta o especialista da Brandywine. O equilíbrio orçamentário também é considerado crucial por Pierre Bose, do Credit Suisse: “No curto prazo, é improvável que haja quedas nos gastos públicos e impostos mais altos, já que o crescimento em muitas economias ainda é fraco. No entanto, há muito poucos países que estejam gerando superávit”.
Tanto as reformas estruturais como as decisões que acarretam mudanças nas políticas de gastos exigem vontade política. Esse é o maior obstáculo que os especialistas veem para apostar nelas como uma receita factível para reduzir o alto endividamento. “Se os governos reduzissem seus gastos, haveria uma necessidade menor de emitir nova dívida. Levando em conta alguns resultados eleitorais recentes e o atual clima político, é cada vez mais evidente que é muito difícil pôr em prática essa abordagem do problema”, reconhece Christopher Gannatti, da WisdomTree.
Se os mercados examinassem cuidadosamente a questão fiscal, a pressão sobre o sul da Europa aumentaria
Outra medida tradicional para reduzir o montante da dívida é gerando inflação. A maioria dos empréstimos é feita em termos nominais. Portanto, um aumento dos preços ajudaria a reduzir o endividamento. Neste caso, porém, há vários problemas. O primeiro é que, como se viu depois de anos de injeções multimilionárias na economia, gerar inflação já não é tão simples. Além disso, com o Índice de Preços ao Consumidor ocorre o mesmo que com o jogo do sete e meio (em que os jogadores tentam somar esse total com as cartas ou chegar o mais perto possível, mas não podem ultrapassá-lo): convém não ficar aquém nem passar da meta. Uma escalada desenfreada pode forçar aumentos das taxas de juros mais rápidos que o desejável. E, finalmente, não serve qualquer aumento de preços. “Uma inflação maior só é útil se resulta de um aumento dos salários. Se for assim, haverá maior demanda e crescerão tanto o PIB nominal como a arrecadação fiscal. Por outro lado, se essa inflação for produto apenas de fatores externos, como a energia, não ajudará muito se o que se pretende é reduzir o peso da dívida”, explica Azad Zangana, economista da Schroders.
Por David Fernandez
Com informações do El País

TSE barra 5,6 milhões de eleitores por falta de biometria

urnas_bio2.jpgNos estados da Bahia e do Mato Grosso, a porcentagem de barrados chega a 10%

Pelo menos 5,6 milhões de eleitores ao redor do Brasil estão impedidos de votar nas eleições gerais, em outubro próximo. O número corresponde a quem não cadastrou sua biometria (impressão digital) nas 1.248 cidades em que ela passou a ser obrigatória a partir de 2017. O dado foi levantado por CartaCapital a partir de informações oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), obtidas em seu site.


O número de eleitores que estarão fora do pleito de outubro equivale à população de Cingapura, e corresponde a pouco mais da diferença de 3,4 milhões de votos que elegeu Dilma Rousseff (PT) em 2014, no segundo turno mais acirrado na história democrática do País. No entanto, é uma proporção pequena: corresponde a 4% de toda a população apta a votar. Para efeito de comparação, a abstenção no primeiro turno em 2014 foi de 19%.

A proporção de impedidos é maior nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, com 6% do eleitorado local. Nos estados da Bahia e do Mato Grosso, a porcentagem chega a 10%. A falta da biometria foi menor no Sudeste, onde não chega a 2%. Isso poderia favorecer ou prejudicar redutos locais, como o PSDB, em São Paulo, ou o PT, no Nordeste?

Segundo o cientista político Fernando Guarnieri, provavelmente não. Ele diz que a causa mais provável para a abstenção no cadastro da impressão digital seja o óbito desses eleitores. Mortes demoram até três eleições para serem computados na base de eleitores cadastrados no TSE. Os dados batem parcialmente: em 2016, último ano no qual constam essas informações, 6,6% dos óbitos no País ocorreram na Bahia e 10% no Mato Grosso.

Os eleitores barrados já constam como não-votantes e podem ter dificuldade para tirar passaporte, pegar empréstimos de bancos públicos, casar no civil, entre outras atividades que demandam comprovação do voto. O prazo para regularizar a situação acabou no dia 9 de maio.

Para o advogado eleitoral Alberto Rollo Jr., a medida do TSE foi correta. “Me parece correto. Se o voto é obrigatório o cadastramento também deve ser”, pondera. “Não acho que a [abstenção dos eleitores] foi problema de divulgação. É mais da natureza do brasileiro de deixar tudo para a última hora.” A Justiça Eleitoral deu prazo de seis meses para que os eleitores se cadastrassem.

O cadastro biométrico serve para excluir uma das poucas possibilidades de fraude que restavam no sistema brasileiro. Sem ele, é possível se passar por alguém de aparência semelhante desde que se tenha em mãos o RG e o título de eleitor da pessoa em questão.

Segundo Rollo, ainda que os mesários tenham a prerrogativa de barrar o voto de quem desconfiarem, isso raramente é feito. As fraudes seriam mais comuns no fim do dia, com a pressa para fechar as seções.

Por Laura Castanho 
Com informações da Carta Capital

Temer sanciona, com vetos, lei que cria Sistema Único de Segurança

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e o presidente Michel Temer durante cerimônia de sanção da lei que cria o Sistema Único de Segurança (SUSP), no Palácio do Planalto.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e o presidente Michel Temer durante cerimônia de sanção da lei que cria o Sistema Único de Segurança - Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente Michel Temer sancionou hoje (11) projeto que cria o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). O objetivo é integrar os órgãos de segurança pública, como as polícias federal e estaduais, as secretarias de segurança e as guardas municipais. Serão repassados recursos da União aos demais entes federativos, mediante contrapartidas, como metas de redução da criminalidade e produção de base de dados

“Hoje damos um passo importantíssimo para dar mais tranquilidade ao brasileiro. Queremos fazer essa integração da segurança pública entre todos os estados brasileiros a partir de uma coordenação que só pode residir no Estado federal”, disse Temer. Os recursos para o sistema sairão da arrecadação das loterias. Para este ano, serão R$ 800 milhões apenas desta fonte. A estimativa do governo é que, em 2022, os recursos vindos de loterias cheguem a R$ 4,3 bilhões.

Na solenidade que marcou a sanção do Susp, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que é a primeira vez que o Estado “dá rumo à segurança pública” no país. Ele destacou a assinatura de contratos de gestão com os estados, que obrigará o cumprimento das metas como a redução dos índices de homicídio e a melhoria na formação de policiais. 

“[Estamos] criando um federalismo compartilhado, que diz que todo mundo vai ter que trabalhar junto para enfrentar o PCC, o Comando Vermelho, a Família do Norte, o Sindicato do Crime [dentre outras facções criminosas]”, disse o ministro.

Vetos

O presidente vetou alguns pontos do projeto de Lei que saiu do Senado em 16 de maio. Um deles pretendia incluir no sistema as medidas socioeducativas, destinada a menores em conflito com a lei. Segundo Jungmann, os socioeducandos serão de responsabilidade da pasta de Direitos Humanos. Outro ponto equipararia agentes penitenciários aos policiais. O terceiro veto sugeria a equiparação entre aviação policial e avião das Forças Armadas.

O Susp

De autoria do Executivo, a proposta estabelece princípios e diretrizes dos órgãos de segurança e prevê proteção aos direitos humanos e fundamentais; promoção da cidadania e da dignidade do cidadão; resolução pacífica de conflitos; uso proporcional da força; eficiência na prevenção e repressão das infrações penais; eficiência nas ações de prevenção e redução de desastres e participação comunitária.

Entre as principais linhas de ação do sistema estão a unificação dos conteúdos dos cursos de formação e aperfeiçoamento de policiais, a integração dos órgãos e instituições de segurança pública, além do uso de métodos e processos científicos em investigações.

Entre as mudanças de procedimento, o texto estabelece a criação de uma unidade de registro de ocorrência policial, além de procedimentos de apuração e o uso de sistema integrado de informações e dados eletrônicos. O projeto diz ainda que o Ministério da Segurança Pública fixará, anualmente, metas de desempenho e usará indicadores para avaliar os resultados das operações.

Por Marcelo Brandão 
Com informações da Agência Brasil

"O prefeito tem que dar o exemplo"

Secretário da Segurança de Bogotá no final dos anos 1990, Hugo Acero Velásquez operou verdadeiro “milagre”. Na época, a capital colombiana amargava posto alto entre as cidades mais violentas do mundo, com média de mais de 80 homicídios por 100 mil habitantes. Após décadas de estratégias ousadas de urbanismo, cultura cidadã e polícia, o cenário é outro. Nos últimos anos, taxa baixou para casa dos 20 homicídios a cada 100 mil, uma redução de 75%.
No coração das mudanças, menos repressão e mais ações inovadoras de urbanismo, educação e cultura cidadã. Ao invés de apenas armas e mais policiais, gestões priorizaram reforma de praças, construção de bibliotecas, urbanização de áreas periféricas e construção de equipamentos públicos de qualidade em favelas e bairros antes tomados pelo crime. No coração da atuação dos antigos cartéis de drogas, foram erguidas escolas, bibliotecas e terminais de ônibus de qualidade. As ruas, antes desertas, voltaram a ser ocupadas por milhões de cidadãos todos os dias. 

“É preciso valorizar os espaços públicos. Uma cidade segura é uma cidade em que qualquer um pode caminhar”, doutrina Acero. Em passagem por Fortaleza na última quarta-feira para participar do Seminário Internacional sobre Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Ceará, o ex-secretário conversou com O POVO sobre como Fortaleza pode aprender com Bogotá e os muitos desafios para se libertar uma cidade do terror. 

O POVO – O Ceará vem experimentando um grande crescimento de índices de violência. Como reverter isso, o que é central em um projeto de Estado que busque uma redução da insegurança? 

Hugo Acero - Como qualquer problema, o primeiro passo é se reconhecer que tem um problema. Funciona como uma doença: se acontece de você ter câncer, no começo você vai negar, porque não quer reconhecer que você tem, mas com isso você não vai se curar. Você só começa o processo de se curar a partir do momento em que reconhece que tem um problema grave. Esse é o primeiro passo. E isso não somente o prefeito, não somente o governador, mas sim todo um conjunto de autoridades, polícias, e a sociedade como um todo, devem reconhecer que há um problema grave acontecendo ali. Depois, é preciso se olhar com atenção para a cidade, para os territórios mesmo.  

O POVO – Como, exatamente? 

Hugo Acero – As cidades nunca têm esse problema de violência por todo o território. Sempre há alguns lugares em que isso se concentra. Digamos, na maioria dos casos, que até 10% da cidade concentra coisa de 70%, 80% de todos os problemas de violência dela. Então você tem que concentrar esforços nesses territórios. Com quem? Com as polícias, no plural. Tem que trabalhar em conjunto a polícia federal, porque temos aí questões de droga, delitos de ordem federal, com a polícia estadual, tanto nas investigações quanto na militar, e as guardas municipais, com o prefeito. Se não se trabalhar em equipe, fica difícil, do ponto de vista da segurança. E por outro lado, não vai bastar a justiça, a polícia trabalhando em equipe para solucionar, se nesses lugares onde há muita violência, seguirem existindo muitos outros problemas. São lugares que não têm iluminação, são lugares desordenados, há muito lixo, os parques estão abandonados, as escolas estão mal, as calçadas e ruas estão mal, os serviços para a população estão mal. Então você tem que ter um programa de desenvolvimento, de evolução social nesses territórios. Então há uma missão, uma intervenção, de segurança e justiça, para controlar os criminosos, para atacar os grupos criminosos, para garantir a segurança dos cidadãos, mas também há uma missão social, de trabalhar a comunidade, melhorar as escolas, melhorar a iluminação, melhorar os parques, coletar lixo, ordenar os espaços, criar postos de saúde. Enfim, é isso que é central. 

Concentração 

O POVO – Há um projeto em Fortaleza nessa linha. Temos três Cucas, centros que oferecem esporte e lazer aos jovens da periferia. É desse tipo de ação que a cidade precisa? 

Hugo Acero – Uma inversão social requere mais, muito mais. Há toda uma situação muito grande de isolamento social que foi sendo feita no País por anos, então, para começar a inverter isso agora, tanto tempo depois, três Cucas não são o suficiente. Há de continuar trabalhando isso, criar mais e mais. Em Recife você tem a experiência dos “Compaz”, e me chamou a atenção, porque não são somente centros de cultura, de esporte, recreação, mas também existe uma atenção do município em serviços. É um lugar onde se resolvem conflitos, onde há atendimento de especialistas, psicólogos, médicos, e onde você consegue identificar os problemas de uma comunidade. 

Aqui em Fortaleza, tem que ter muito mais Cucas em toda a cidade, porque se requer essa inversão. Lembrando que você tem que fazer isso com a participação da população. Se não fazemos essas intervenções com a gente, com os cidadãos e as comunidades, a qualquer momento chega um novo governo e pronto, se acaba. 

OP – Por conta da violência, muitas pessoas acabam deixando de sair de casa, ou preferem optar por espaços fechados que elas acham mais seguros, como shoppings. Bogotá tinha uma situação semelhante, mas reverteu. Qual o impacto disso na cidade? 

Hugo Acero - A população, os cidadãos de maneira geral, está se fechando em grandes muralhas e cercas, grandes espaços fechados ou centros como shoppings centers, porque eles têm medo. Assim funciona o terror, acaba fechando todos em casa. Isso é prejudicial para a cidade como um todo, gera mais terror. Então você tem que trabalhar para voltar a recuperar o entorno urbano, o espaço público. Que as pessoas voltem a sair, que elas possam encontrar lugares para ir e também quem vá também aos parques, às ruas e nos espaços públicos. Mas com segurança. A única maneira é assim: uma cidade segura, ou pelo menos mais ou menos segura, é uma cidade onde se pode caminhar. Aqui em Fortaleza, eu fui caminhar pelo mar por vários quilômetros, fiquei três horas caminhando, não somente ali pela praia como três quadras adentro. E vi uma situação que chamou atenção, que era um cemitério colado em uma escola pública. Aqui está a escola, aqui está o cemitério. E vi logo que nessa escola faltava iluminação, um cuidado maior por aquele espaço público. Ali tinha de se fazer uma intervenção grande, para que ela não fosse tão lúgubre, ou tão triste, tão tenebrosa, quanto o cemitério bem ao lado. O cemitério é tenebroso, mas a escola também. Então tem que se melhorar os espaços. Digamos que estou a caminhar, seguramente não posso caminhar para qualquer lugar que eu queira, mas vou precisar que cada vez mais gente saia, que desfrutem dos espaços públicos. Não somente a praia, mas outros lugares em que as pessoas vão. Uma cidade segura é uma cidade onde qualquer um pode caminhar para onde quiser, quando quiser. 

OP – Mas como fazer isso? Geralmente as pessoas acabam tendo muita resistência a essas mudanças. O atual prefeito de Fortaleza, por exemplo, sofreu inicialmente muitas críticas ao tentar implantar ciclofaixas na cidade. 

Hugo Acero – Aumentou o uso da bicicleta? Perfeito. Vai ter alguma resistência no início, mas tem que fazê-lo, e não há melhor forma de estimular o uso desses meios alternativos, que enchem mais as ruas, como a bicicleta, que o exemplo. Em Bogotá, o governo de Peñalosa (Enrique, ex-prefeito de Bogotá), com quem eu trabalhei, se investiu muito em ciclovias. E ele, o prefeito, saía todo dia de sua casa de bicicleta até o seu escritório. E vários dos outros gestores, funcionários, do governo passaram a ir também. O prefeito tem que dar exemplo. Quando há exemplos, funciona, os estudantes mesmo todos começaram a usar. Passamos de ter 0,5% dos cidadãos se mobilizando por bicicleta até 5,5%. Então temos que investir nisto, mas temos também que caminhar. Há de se criar e ampliar espaços para isso. Inclusive, para evitar a falta de espaços de recreação, então temos que criar. Bogotá, aos dias de domingo, fecha vias para carros e, semanalmente, das 6h até as 14h, saem 2,5 milhões de pessoas para caminhar ou andar de bicicleta. Tomam a cidade em 4, 5 horas, a pé ou de bicicleta. Isso passando pelos setores mais ricos e mais pobres, por toda a cidade. Nessas questões se encontram os ricos e os pobres, todos.  

OP – Há então, além da própria segurança, uma questão política a ser trabalhada com a população. 

Hugo Acero – A democracia se fortalece nas ruas. Se começamos a nos fechar, há menos democracia. Há menos contato entre ricos e pobres, entre negros e brancos, entre amarelos e vermelhos (em referência às cores dos dois maiores partidos políticos da Colômbia), entre culturas diversas, de todo tipo. Todo mundo perde com isso, então há de se recuperar esses espaços.  

OP – A população não costuma entender seu papel nesse processo e até resistem a mudanças comunitárias... 

Hugo Acero – Não, é que geralmente as pessoas no princípio se opõem, mas, como digo, através de um exemplo isso vai mudando. Porque às vezes uma pessoa compra uma bicicleta ao seu filho e não pode deixá-lo sair, porque a rua não é segura, então não quer deixar ele ir nela, rapidamente já opta por um carro. Mas se ela tem um lugar para levar o filho a andar de bicicleta e vai, logo saem mais dois, mais três, isso vai crescendo. Nós em Bogotá começamos com duzentos ciclistas, fomos virando trezentos, quinhentos, mil, dois mil, e hoje temos 2,5 milhões de pessoas saindo todos os domingos às ruas fechadas para correr, andar de bicicleta. Isso é espetacular, é uma mostra de que é possível mudar. Pessoas nas ruas

O POVO – O que o senhor conheceu de Fortaleza? O que achou do desenho da cidade? Hugo Acero – Eu vim para Fortaleza de Recife, e me chamou a atenção, na terça-feira à noite, que vimos algumas pessoas correndo pela ciclovia, e as pessoas viam e diziam “não”, como por medo, e eu “sim, sim”. Se eles congregarem mais, logo vão ser duzentos, trezentos fazendo o mesmo. Nós necessitamos de espaço. Isso é natural, e não vamos encontrar sozinhos. Então o governo que se estimular, valorizar quem quer fazer isso, criar dias para esses outros modos de locomoção. Além desse domingo de bicicleta, fizemos também dois dias sem carros, no Natal, na época de dezembro. Sim, sem carros, não se utiliza carro nesses dois dias. Tem que se sair a pé, ou usando o transporte público ou a bicicleta. Esses dois dias foram uma forma de conscientizar as pessoas. No Natal, não há carros e as pessoas vão ao mercado e vão fazer coisas, ir para o cinema ou o que for nesses outros jeitos. De 365 dias, só dois. Não mata ninguém. 

OP – Como deve ser o papel da polícia nessa transformação? O policial tem que ter papel de protagonista em um projeto que busque uma cidade mais ocupada, mais segura? 

Hugo Acero – Em todo o tempo. O policial é o funcionário mais importante que uma sociedade tem. E te digo por quê. Porque é o único funcionário que você pode buscar as vinte e quatro horas do dia, nos sete dias da semana. Como médicos nos hospitais e postos de saúde, que também são importantes, é claro. Porém, um policial deve estar trabalhando sempre, nos 365 dias do ano, porque é um funcionário que nos dá não só segurança, tem toda uma rede de serviços, que fazem a população tranquila, ali. É só imaginar, por exemplo, se eu perco o meu filho, se ele desaparece, a quem eu procuro? A um policial, é ele que vai me ajudar a buscar a pessoa que eu mais quero. Não vou a um médico, não vou ao prefeito, governador, ou religioso, o que for. Eu busco um policial. Então esse agente é importante não só para que esteja perseguindo os criminosos, mas para que ocorra ordem, para que eu me sinta tranquilo de maneira geral. Então, o policial é fundamental para tudo. Em um show de música, vai ser ele que vai facilitar a ordem. Em um ato cultural, ele está lá para ajudar. Até em protestos ele deve estar lá, para que tudo ocorra bem, para que as pessoas possam protestar, garantir esse direito. Então, se é tão necessário, é preciso também profissionalizá-lo, o converter no melhor funcionário. Não só em capacitação técnica, mas também em cultura cidadã, em sobre como ele pode chegar para ajudar. E esse é um trabalho duro, longo. 

Posto Policial

  O POVO – No Brasil, há muitos casos onde a própria população, sobretudo a mais pobre, acaba tendo certa relação tensa com a atuação policial, por conta de agentes abusivos e de violações de Direitos Humanos. Como mudar? Hugo Acero – Quando é uma região problemática, podemos perceber alguns territórios onde não se gosta da polícia, onde as pessoas não querem a polícia, onde se sabe de violações de Direitos Humanos. Enfim, não se quer polícia. Por que isso acontece assim, o que se pode fazer? Ir o estado, o governo, com outros serviços, diminuir os conflitos. Chegar nessas regiões com saúde, com educação, com lazer, com serviços, com transformação. Mas ao lado disso tudo, tem que estar a polícia. O policial é parte desse desenvolvimento. Um posto policial é tão importante quanto um posto de saúde, uma escola, um parque, ou como um Cuca. São tão importantes, então devem estar todos eles juntos. O que acontece é que nesses territórios geralmente quer se chegar só com a polícia. E isso não é possível. Tem que haver uma união em equipe, e tem que chegar um policial amigo. Um agente de transformação.

Palestra

EM FORTALEZA para o Seminário Internacional sobre Segurança Pública da Assembleia Legislativa, Hugo Acero participou do painel “Cenário Urbano e Segurança Pública: violência, conflitos e territorialidade”.  

Sintonia

EM PALESTRA no evento, o ex-secretário colombiano destacou o crescimento do crime organizado e a falta de sintonia entre as instituições governamentais como algumas das principais causas do aumento da violência na América Latina.  

Currículo

SOCIÓLOGO por formação, Hugo Acero Velásquez comandou a Secretaria da Segurança Cidadã e Convivência do primeiro governo Enrique Peñalosa, entre 1998 e 2001. Durante sua gestão na pasta, começaram diversas das mudanças que contribuíram para a redução significativa dos índices de violência da capital colombiana. 

Por Carlos Mazza e Fábio Lima
Com informações do O Povo

Caixa eleva teto de financiamento de imóveis para servidores públicos

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Os servidores públicos poderão financiar um valor maior ao comprarem imóveis usados por meio da Caixa Econômica Federal. O banco elevou, de 70% para 80%, o limite de financiamento, igualando o teto com o usado na compra de unidades novas.

Os demais clientes continuarão a financiar até 70% do valor de imóveis usados e 80% no caso de imóveis novos. Em nota, o banco informou que o aumento do limite para os servidores públicos tem como objetivo beneficiar o segmento com a mais baixa inadimplência e estimular o relacionamento de longo prazo com a instituição financeira.

Tradicionalmente, os servidores públicos, por terem estabilidade no emprego, pagam juros menores e têm condições mais favoráveis de crédito por terem menor risco de inadimplência. Atualmente, a Caixa tem R$ 43,2 bilhões emprestados para servidores públicos em todo o país.

Essa é a segunda alteração no crédito imobiliário da Caixa nos últimos dois meses. Em abril, o banco, que concentra 70% do mercado no setor, reduziu os juros nas linhas para a compra da casa própria com recursos da poupança.

As taxas mínimas do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) – que financia imóveis de até R$ 800 mil na maioria do país e de R$ 950 mil em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Distrito Federal – caíram de 10,25% para 9% ao ano. Para o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), que financia a compra de imóveis acima desse valor, os juros mínimos foram reduzidos de 11,25% para 10% ao ano.

Por Wellton Máximo 
Com informações da Agência Brasil

Trump retira ditador da Coreia do Norte do isolamento num degelo histórico cheio de dúvidas


Kim Jong-un e trump em SingapuraKim Jong-un e Trump posam para foto histórica. AP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, estão prestes a se sentar à mesa no luxuoso hotel Capella, em Singapura, para uma reunião sem precedentes: devido aos seus protagonistas, à forma extravagante como as negociações prévias foram conduzidas e ao seu significado. Ambos já chegaram ao local na noite desta segunda-feira - manhã de terça na Ásia - e cumprimentaram-se ante as bandeiras dos dois países num momento histórico envolto em uma expectativa global. A reunião que rompe o quase total isolamento internacional da Coreia do Norte cimenta o degelo em marcha, mas não elimina as graves dúvidas que rodeia o processo de desnuclearização do regime norte-coreano. O arsenal é o seguro de vida do regime norte-coreano e ainda está por se provar a real intenção de Pyongyang de se desfazer dele.

Se fracassarem, todas as opções voltarão ao tabuleiro. Se tiverem sucesso, começará um longo processo que - talvez, apenas talvez - levará ao desarmamento nuclear da Coreia do Norte. Um processo que pode durar mais de dez anos e custar bilhões de dólares. Poucos analistas acreditam que Pyongyang esteja verdadeiramente disposta a renunciar de maneira "completa, irreversível e verificável", como exige Washington, a um programa nuclear ao qual tem dedicado décadas, recursos econômicos significativos e inúmeros sacrifícios de sua população. Se concordar, será em troca de concessões gigantescas. E, se o fizer, tudo pode ir por água abaixo: uma vez adquirido o conhecimento necessário, poderia recriá-lo sempre que quisesse. A Coreia do Norte conta com uma equipe de 200 especialistas, segundo cálculos dos serviços secretos da Coreia do Sul.

A Coreia do Norte "pagou um preço muito alto para conseguir uma força poderosa e confiável que permita nossa defesa", destacou no mês passado sua vice-ministra de Relações Exteriores, Choe Son-hui.

Uma força considerável. De acordo com cálculos da Coreia do Sul, seu vizinho do norte destina 25% de seu orçamento, ou cerca de 10 bilhões de dólares por ano (36,8 bilhões de reais), para gastos militares. Os últimos testes de mísseis no ano passado, antes da moratória declarada unilateralmente, representaram um desembolso de cerca de 300 milhões de dólares (1,1 bilhão de reais).

Alguns especialistas estimam que a Coreia do Norte tenha entre 15 e 20 bombas nucleares. Esse número, segundo os serviços de inteligência dos EUA, pode chegar a 60. Essas armas têm um poder de destruição entre 10 e 25 quilotons, o equivalente às bombas atômicas que destruíram Hiroshima e Nagasaki em 1945. Em setembro do ano passado, Pyongyang completou seu sexto e até agora mais potente teste nuclear, uma bomba de hidrogênio de 100 a 250 quilotons de potência.

O plutônio e o urânio enriquecido necessários para essas armas são fabricados no Centro de Pesquisa Nuclear de Yongbyon. O especialista Sigfried Hecker estima que a Coreia do Norte tenha entre 20 e 40 quilos de plutônio e entre 175 e 645 quilos de urânio altamente enriquecido. O regime poderia produzir, segundo cálculos de especialistas, entre 30 e 60 bombas adicionais, entre três e sete a cada ano.

Para que essas bombas possam chegar a algum lugar, precisam de mísseis para transportá-las. O arsenal norte-coreano tem cerca de mil mísseis de diferentes alcances. Durante o mandato de Kim Jong-un, a Coreia do Norte completou quase cem testes, e que alcançaram um ritmo frenético no ano passado.

Depois de avançar nos últimos dois anos em um ritmo que surpreendeu especialistas, em julho e novembro do ano passado a Coreia do Norte testou com sucesso, pela primeira vez, mísseis intercontinentais capazes de atingir qualquer ponto do território norte-americano, como Kim teve o prazer de lembrar em seu primeiro discurso do ano. No entanto, não está comprovado que esses mísseis, quando carregados com uma ogiva nuclear, possam resistir sem se desintegrar em sua reentrada na atmosfera.

Entre todos os mísseis, a estrela é o Hwasong-15. Em seu teste de novembro -- o último antes de a Coreia do Norte ter declarado unilateralmente uma moratória -- atingiu uma altura de 4.475 quilômetros e percorreu uma distância de outros mil antes de cair no mar. Com esses dados, especialistas calcularam que poderia cobrir uma trajetória de 13.000 quilômetros.

Além disso, analistas acreditam que o país possua 200 mísseis Nodong, capazes de chegar ao Japão; 600 Scud, que podem alcançar a Coreia do Sul e parte do Japão, e pouco menos de 50 Taepodong e Musudan, que poderiam atacar Guam e partes da costa oeste dos EUA, segundo a organização Iniciativa de Ameaça Nuclear (NTI, na sigla em inglês).

Se criar este programa exigiu investimentos sem dimensões, livrar-se dele também não será barato. Um estudo realizado pela Universidade Kookmin, em Seul, estimou que os custos diretos e indiretos seriam de cerca de 20 bilhões de dólares (cerca de 73,7 bilhões de reais): 5 bilhões de dólares para o desmantelamento de bombas e instalações; outros 5 bilhões para a construção de dois reatores nucleares para produzir eletricidade, prometidos na época pelos Estados Unidos; e 10 bilhões de dólares para despesas indiretas, como reconstruir a economia norte-coreana e reconhecer técnicos nucleares em postos civis.

Outro relatório, do Centro para Segurança Internacional e Cooperação da Universidade de Stanford e assinado por Siegfried Hecker, estima que levará pelo menos uma década para concluir o processo. Isso, se não houver obstáculos. "A política pode atrasar a desnuclearização definitiva em até quinze anos", destacou autor.

Pyongyang assegura que deu um primeiro passo ao dinamitar seu centro de testes em Punggye-ri, ao norte de seu território, embora o site especializado 38 North considere que os danos nas entradas dos túneis sejam limitados. "Embora os procedimentos realizados pelos norte-coreanos dificultem a reutilização do local no futuro, recuperar o acesso aos túneis de teste concluídos nas áreas sul e oeste ainda pode ser possível", diz a análise.

Mesmo sem seu programa nuclear, o exército norte-coreano tem dimensões respeitáveis. Estima-se que, com 1,1 milhão de soldados - 5% da população -, seja o quarto do mundo (atrás da China, Índia e EUA). Centenas de mísseis no território norte-coreano apontam para a Coreia do Sul.

Segundo estimativas dos Ministérios de Defesa dos EUA e da Coreia do Sul, incluídas em um relatório do Conselho de Relações Exteriores (CFR) norte-americano, a Coreia do Norte tinha, entre 2015 e 2016, mais de 1.300 aeronaves, 300 helicópteros, 430 navios de combate, 250 navios anfíbios, 70 submarinos, 4.300 tanques, 2.500 veículos blindados e 5.500 lançadores múltiplos. Embora, de acordo com as estimativas de especialistas, uma boa parte desse equipamento seja obsoleta. Sanções internacionais impediram sua modernização.

Por Macarena Vidal Liy
Com informações do jornal El País

Redes sociais são aposta em pré-campanha no Ceará

Pré-candidatos ao Governo do Estado têm buscado atuação maior, em especial, no Facebook

Diante de um pleito eleitoral em que a figura do homem público está desacreditada por parte do eleitorado, as redes sociais na internet tendem a ser um mecanismo utilizado pelos pretensos candidatos para se aproximar das pessoas. Praticamente todos os pré-candidatos no Ceará já perceberam a importância dessas ferramentas e cada vez mais estão investindo tempo e recursos financeiros para aprimorar páginas em plataformas online.

O Facebook ainda é a rede social mais utilizada por políticos cearenses, visto sua abrangência em relação à população local. O período curto da campanha neste ano, que oficialmente terá apenas 45 dias de duração, e a falta de recursos para visitar todos os colégios eleitorais no Estado podem fazer, das redes sociais, ferramentas prioritárias para algumas candidaturas.

O Diário do Nordeste analisou páginas dos pré-candidatos ao Governo do Estado no Facebook, bem como de postulantes à Assembleia Legislativa e ao Congresso Nacional, para verificar como os políticos cearenses têm usado a plataforma durante a pré-campanha. Para os que vão disputar cargos majoritários, o foco tem estado em publicações sobre temas como Segurança, Saúde e geração de emprego. Já entre pretensos candidatos ao Legislativo, o importante é demonstrar proximidade com o eleitorado dos municípios que representam.

O governador Camilo Santana (PT) pretende disputar reeleição neste ano e, para isso, tem intensificado não só visitas ao Interior do Estado, para entrega de obras e assinatura de ordens de serviços, mas também a presença em redes sociais, nas quais assessores publicam de cinco a sete vezes diariamente.

No Facebook desde 2014, quando foi eleito, Camilo possui 323 mil “curtidas” e “curte” apenas outras duas páginas, a da primeira-dama, Onélia Santana, e a de um coletivo de fotografia, o “Arca Press”. Mais assíduo nas redes sociais do que os seus dois pretensos adversários, o governador, geralmente, divulga no Facebook ações como entregas de Areninhas, anúncios de investimentos na área de Segurança e inaugurações de escolas e outros equipamentos.

Ele também interage com seguidores, principalmente às terças-feiras, quando promove bate-papos transmitidos ao vivo, respondendo a perguntas e apresentando ações da gestão. É durante essas interações que o petista anuncia, por exemplo, a realização de concursos públicos.

O general Guilherme Theophilo (PSDB), aos poucos, vem se apresentando nas redes sociais como o pré-candidato da oposição no Ceará. No Facebook desde 2015, as principais postagens dele até março deste ano diziam respeito apenas a ações militares, principalmente, na Amazônia. Recentemente, o foco mudou e ele passou a fazer críticas ao Governo e apontar problemas dos cearenses.

Com 64 mil seguidores, a página do General Theophilo (como ele se apresenta nas redes sociais) passou por uma transformação. Saiu a imagem do militar de uniforme para o homem sorridente em roupas simples. Ele não “curte” outras páginas, mas o Facebook o relaciona com as páginas do Exército Brasileiro, do general Eduardo Villas Boas e de Jair Bolsonaro, pré-candidato do PSL a presidente.

Mudança

No dia 26 de março passado, o general decidiu encerrar suas atividades na rede social por conta do fim dos trabalhos à frente do Comando Logístico do Exército Brasileiro, e no dia 11 de maio voltou a utilizar sua página para perguntar aos seguidores sobre alternativas para melhoria da segurança no Ceará. No dia 13 de maio passado, ele anunciou a pré-candidatura ao Governo.

Desde que retomou o uso das redes sociais, em especial o Facebook, para divulgar atividades como pré-candidato, Theophilo somou 48 postagens (até ontem) em sua página, muitas delas ao lado de Tasso Jereissati e Capitão Wagner, únicos remanescentes da cúpula de oposição no Ceará que apostam na postulação do general. Nas últimas publicações, ele tem utilizado com frequência o termo “problemas”, principalmente ao tratar de visitas que fez a algumas regiões do Ceará, como o Cariri e a região Norte.

O socialista Ailton Lopes (PSOL) completou 40 anos em abril passado e anunciou, para os 23 mil seguidores no Facebook, que comemoraria seu aniversário na última sexta (8), para arrecadar recursos para o PSOL no Ceará.

O pré-candidato opina sobre assuntos em evidência na sociedade, como, mais recentemente, a paralisação dos caminhoneiros. É crítico da gestão Camilo Santana e de sua aliança partidária, que denomina como “condomínio eleitoral”. Também se opõe à oposição de Theophilo, visto que também é contrário às políticas adotadas pelo PSDB em âmbito nacional e local.

Deputados

Já os deputados estaduais, quase todos tentando reeleição, intensificaram não somente as visitas aos municípios do Interior, como também a participação nas redes sociais, principalmente, divulgando as incursões em seus colégios eleitorais. Governistas aproveitam também para registrar as participações em inaugurações de obras ao lado do governador. No entanto, poucos reclames de seguidores são respondidos de imediato pela maioria dos parlamentares.

Deputados estaduais pré-candidatos a vagas na Câmara Federal, como Rachel Marques (PT), Tomaz Holanda (PPS) e Capitão Wagner (PROS), já apresentaram no Facebook suas pretensões nesta postulação. Com exceção de Tomaz Holanda, os demais são muito atuantes. No Facebook, por exemplo, Wagner soma 259 mil seguidores.

Por Miguel Martins
Blog do Edison Silva
Com informações do Diário do Nordeste