19 de novembro de 2013

Acesso do Icasa à Série A marcaria o retorno do interior do Nordeste à elite, pondo fim a um grande hiato


Não é de hoje que os clubes do interior do Ceará vêm se destacando. Além das boas participações no Campeonato Estadual, as agremiações passaram a se destacar em outros cenários. Recentemente, o Barbalha garantiu uma vaga na Copa do Brasil, o Guarany de Sobral foi campeão brasileiro da Série D e o Icasa está às vésperas de quebrar um longo tabu, podendo ser o primeiro do interior nordestino a figurar na elite do Brasileirão em 26 anos.

O Icasa pode garantir a ida à Série A já neste sábado Foto: Normando Sóracles/ Miséria.com
Em 1987, o Brasil fervilhava. Tomavam posse no Congresso Nacional os parlamentares encarregados de elaborar a Constituição Federal de 1988, o corte do "cordão umbilical" com o regime militar brasileiro. No esporte, o Campeonato Brasileiro vivia sua edição mais polêmica, com a divisão da Série A em dois módulos e com a partilha do título entre Flamengo e Sport.

Foi justamente neste cenário que o paraibano Treze, de Campina Grande, foi o último interiorano do Nordeste - mesmo que no módulo mais fraco - a participar da elite do futebol nacional. Desde então, coube ao interior da Região as divisões menores.

Assim, a campanha do Icasa, que pode culminar com o acesso à Série A, pode por fim a tal hiato já neste fim de semana. Apesar da possibilidade, o técnico icasiano Sidney Moraes prefere não pensar no que pode vir depois e focar no confronto de sábado, contra a Chapecoense.

"Prefiro nem pensar nisso. Admito que um feito desses é muito importante e difícil, ainda mais em uma equipe com pouca estrutura e condições financeiras, como o Icasa. Penso que a volta de um time do interior nordestino à Primeira Divisão representa muito para o futebol brasileiro, para a região e, principalmente, para o clube, que deve aproveitar este momento para se estruturar internamente", avaliou o treinador do Verdão do Cariri.

Só deu capital

Neste ínterim de 26 anos, os únicos nordestinos a representarem a Região na elite do futebol nacional foram equipes das capitais. Entre eles, Fortaleza e Ceará. Apesar disso, outros clubes do interior passaram pela Série A, contudo, eram todos das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Desta lista fazem parte: Criciúma, Juventude, Ipatinga, Ponte Preta, Guarani e Brasiliense, até mesmo o famoso e bicampeão mundial Santos.

Isso destaca, sobretudo, a dificuldade maior que é treinar uma equipe do interior do Nordeste, pressupõe Moraes.

"Tudo é mais difícil. Mesmo que deixemos de lado a estrutura e a questão financeira, que é muito diferente entre estes mercados, ainda há a questão das viagens e dos deslocamentos mais longos, a recuperação física e o fato de jogarmos contra atletas que são mais facilmente motivados", avaliou.

Sidney Moraes, porém, ressalta a força que o interior cearense tem mostrado e lança um alerta. "Temos que parabenizar essas equipes do interior pelo espaço que têm conquistado, mas todos estão aquém dos times da Capital e, se não mudar agora, perderão uma grande oportunidade".

Eduardo Buchholz
Repórter

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Não se explica o Icasa

Se na vida existem coisas que a gente não entende, quanto mais no futebol. E olha que futebol, para este cronista, não é apenas um jogo. Camus disse, e Pedro Bandeira confirmou, que o maior fenômeno de massas do mundo é "a inteligência em movimento". Como entender o fenômeno chamado Icasa? Já falei e escrevi um bocado de coisas e acho que não expliquei nada. É melhor não entender mesmo. Fica melhor assim. Mas o que me garante o pão de cada dia e o teto de todas as noites é a tarefa de esmiuçar os assuntos futebolísticos, por mais intrincados que sejam. Vai mais uma explicação? Claro que vai. Vamos lá: o Icasa promove dentro do seu esquema de jogo uma espécie de reforma agrária no gramado. Cada minifúndio é defendido com unhas e dentes. Três zagueiros, dois alas, que apoiam, dois volantes, que marcam, um meia de criação e dois atacantes. Some-se a isso uma ação de guerrilha que se desenvolve com o fito de retomar a bola. Para completar, uma paciência no fazer, herdada do padre do milagre. Simples, não? Não é bem assim. Esquema tático não é receita de bolo. As circunstâncias de jogo ditam as variações. É nesse ponto que reside a musculatura icasiana. Aí está o espírito da coisa, a chave para o sucesso.

Wilton Bezerra

Comentarista TV Diário/ Rádio Verdinha AM 810 

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