Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deve a eleição para presidente da Câmara à presidente Dilma Rousseff. Ela ignorou o alerta do ex-presidente Lula, que sugerira um acordo com o PMDB há algum tempo. O PT errou ao lançar Arlindo Chinaglia (PT-SP), um candidato fraco. O governo também teve operadores políticos ruins. Em resumo, Dilma construiu um desastre na articulação política.
A presidente foi o principal cabo eleitoral de Cunha. Há algum tempo, em uma conversa reservada, Lula disse que o deputado peemedebista deveria fazer uma estátua em homenagem a Dilma. Graças às restrições que a presidente fazia ao líder do PMDB, ele virou um contraponto importante ao Palácio do Planalto. Passou a ser procurado, vocalizando a insatisfação de setores da base de apoio ao governo no Congresso.
Agora, Cunha deveria seguir o conselho de Lula e encomendar essa estátua. Ele ganhou a eleição para a presidência da Câmara justamente porque há um sentimento de contrariedade com o governo. Para piorar, há desafios na economia. Existe a Operação Lava Jato em curso. E são preocupantes os efeitos da crise hídrica sobre o fornecimento de água, tarefa de responsabilidade dos Estados, e de energia, a cargo da União.
O problema na política é mais grave do que na economia. O governo precisa do PMDB. Foi um erro de avaliação tentar isolar o principal aliado. Uma coisa é reforçar outras legendas, como o Pros e o PSD, para diminuir a dependência em relação ao PMDB no equilíbrio de forças em votações. Outra coisa é comprar uma briga direta com o principal aliado do governo.
A vitória em primeiro turno fortalece Eduardo Cunha. Com 267 votos, ele não deve nenhuma fatura à oposição. Os parlamentares opositores acreditavam que o candidato do governo, Chinaglia, teria uma votação mais expressiva. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) orientou os deputados tucanos a votar em Júlio Delgado (PSB-MG) para, em um eventual segundo turno, apoiar Cunha. A ajuda do PSDB não foi necessária.
Pelo tamanho da mobilização feita pelo governo, o resultado de Chinaglia foi ruim. Ele teve apenas 136 votos. Essa deverá ser a base fiel ao Palácio do Planalto na Câmara. O mapa da votação deixa isso claro. Cresceu o grau de dificuldade que o governo terá para lidar com o Congresso.
Em contrapartida, na eleição para a presidência do Senado, o PT agiu corretamente. Fechou aliança com o Renan Calheiros (PMDB-AL) e venceu com 49 votos contra 31 votos de Luiz Henrique (PMDB-SC). No entanto, é um resultado pior do que o de 2013, quando Renan teve 56 votos e Pedro Taques (PDT-MT), 18. Mostra que a oposição se fortaleceu no Senado.
Há pela frente os desdobramentos da Lava Jato, que poderão atingir tanto Cunha como Renan. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai oferecer as denúncias e os pedidos de inquérito. É preciso saber que munição Janot tem em relação aos dois parlamentares. Há informações de bastidor que dão conta de que eles poderão ser investigados no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Isso poderá, em um segundo momento, beneficiar o governo.
Mas o resultado das eleições parlamentares deste domingo mostra que a relação de Dilma com o Congresso ficará mais difícil e mais cara em termos de cargos e verbas. Cunha prometeu colocar em votação o projeto do orçamento impositivo, que torna obrigatório o pagamento de emendas parlamentares. Há toda uma pauta que precisará ser negociada: medidas econômicas, CPI da Petrobrás, projetos que têm impacto fiscal. Se o governo não fizer uma recomposição com o PMDB, o segundo mandato de Dilma será complicado no Congresso.
Blog do Kennedy
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