11 de março de 2017

Os produtores têm buscado diversas alternativas para garantir a nutrição do gado na seca.

Quando a chuva não chega, o rebanho padece. O pasto, que há alguns anos era verde e farto, está minguado. Diante da maior seca que o estado do ceará já viu desde 1910, os agropecuaristas passaram a buscar alternativas inovadoras para garantir a segurança alimentar para o rebanho bovino, ovino e caprino.
Na região do cariri cearense, o cultivo da palma forrageira começa a ser implantado de forma experimental em algumas fazendas, como alternativa para substituir, a curto e médio prazos, o capim, cana-de-açúcar, mandioca e milho. No sítio malhada, zona rural do crato, o produtor antônio josé albuquerque buscou capacitação e investiu.
Em sua propriedade, o agrônomo aposentado plantou, em janeiro do ano passado, um hectare de cactácea, ao custo aproximado de r$ 5 mil. Valor um pouco acima do que será gasto nos anos subsequentes, pois, no início, se faz necessário estudo de solo, além de despesas com sulcamento, adubação e instalação do sistema de irrigação por gotejamento, o que garante o uso racional da água.
Quatorze meses depois, o resultado já é animador. Ele explica que a planta, de origem mexicana, que chegou ao brasil no fim do século xviii, se adaptou bem ao clima semiárido brasileiro, uma vez que não necessita de muita umidade. "dependendo da forma de plantio, após um ano, já pode ser colhida. No nosso caso, como o clima é pouco úmido, vou esperar mais alguns meses. Quando finalizar a quadra chuvosa (maio), começo a colheita. No segundo semestre, já começo a introduzir de forma mais generalizada na alimentação do rebanho. Hoje faço experimentos com algumas vacas, para testar a aceitação e evolução na produção do leite", conta.
O agrônomo optou pela palma orelha de elefante. A espécie é uma das três resistentes à praga cochonilha (dactylopius coccus). As outras são a miúda e a sertania. "a (palma) orelha de elefante é a melhor para as nossas condições climáticas e também a que apresenta maior produtividade", destaca. O plantio utiliza o sistema de superposição das raquetes da palma, estilo popularmente conhecido como "carta de baralho". "ela é plantada junto uma da outra, podemos aumentar em quase dez vezes a produtividade na área de sequeiro, se comparado aos produtores que as plantam de forma aleatória", relata josé albuquerque.
Desta forma, no espaço de um hectare plantado, serão produzidas cerca de 400 toneladas a cada dois anos, quantidade suficiente para alimentar 33 vacas durante 180 dias, com consumo diário de 50 quilos de palma por vaca. "esta planta é realmente uma boa alternativa. Além de nutritiva, resistente e, de certa forma, barata, o gado que se alimenta dela acaba consumindo quantidade menor de água, já que a planta possui bastante", acrescenta o agrônomo.
Complementação
O gerente da empresa de assistência técnica e extensão rural do ceará (ematerce), francisco erivaldo barbosa, ressalta que, apesar de ser rica em minerais e constituída por 90% de água, a planta tem baixo teor de fibra, matéria seca e proteína. "a palma é uma boa alternativa para alimentar o rebanho, mas não deve ser usada como única fonte, e sim como complementação da dieta", detalha. Na unidade agrícola de albuquerque, ele combina a palma com outros volumosos, como silagem de sorgo, milho e mandioca.
Dentre as três, o sorgo (sorghum bicolor), originário da áfrica, tem sido a principal escolha do agropecuarista cratense. Essa planta monocotiledônea é capaz de resistir a períodos de seca bastante prolongados, devido à profundidade de suas raízes e, portanto, é mais resistente a essas condições climáticas, se comparada ao milho, por exemplo.
"cerca de 80% da minha plantação de capim tanzânia e milho, que eram os principais alimentos para o rebanho, morreram pela escassez de chuvas. Realidade oposta encontrei no sorgo e na palma. Mais resistentes e com maior poder de nutrição, acredito que, com bom estudo sobre o plantio, podem ser a salvação para o produtor ou agropecuarista do sertão", avalia.
Outro benefício do cultivo do sorgo, conforme explica a técnica extensionista social da ematerce, maria eucileide nogueira Mendonça, é a mecanização utilizada. "a vantagem é a utilização do mesmo equipamento usado na cultura do milho e do trigo. É possível que o produtor mantenha o plantio do milho simultaneamente ao sorgo, já que tanto a plantação quanto a colheita podem ser feitos em períodos de ociosidade do equipamento agrícola, o que gera mais lucro".
Por André Costa
Com informações do Diário do Nordeste

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