22 de maio de 2017

Chikungunya: complicações vão além dos sintomas

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Febre repentina, dores intensas nas articulações e, em alguns casos, dor de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas na pele. Em 2017, até o início de maio, 41.723 cearenses sentiram ou ainda sentem os sintomas da chikungunya, atualmente com uma taxa de incidência de 465,5 casos por 100 mil habitantes. Essas ocorrências, com níveis de dramaticidade que variam de uma pessoa para outra, formam juntas um panorama crítico para a saúde pública do Estado.
Transmitida pelo mesmo mosquito responsável pela disseminação da dengue e da zika, o Aedes aegypti, a doença encontrou em várias cidades cearenses – incluindo a Capital – o cenário apropriado para se proliferar. O clima quente, úmido e sem grandes variações de temperatura, aliado à intensa urbanização de alguns dos municípios, é um fator decisivo.
Sequelas
Eloisa Carvalho, de 65 anos, é dona de casa, mas hoje em dia mal consegue lavar um prato. “Tenho que botar o prato em cima da pia, passar o sabão com uma mão, depois ligar a torneira, tudo com muita dificuldade”, conta ela, que já sente os sintomas da chikungunya há cerca de dois meses e já teve que dar entrada no hospital duas vezes. Vestir-se também virou uma tarefa difícil, tamanha a dor nas articulações provocada pela doença.
Apesar de não saber com confirmação médica se o diagnóstico é de chikungunya, ela conta que já teve dengue há alguns anos e que as duas experiências são incomparáveis: “Foi só uns dias uma virose, num instante eu fiquei boa. Já a chikungunya, eu peço que ninguém tenha uma doença dessa. Sinceramente, nem quando eu fiz uma cirurgia na coluna eu fiquei me sentindo tão doente quanto eu estou agora”, lamentou Eloisa.
A dengue, apesar de ainda registrar grande número de casos no Ceará, já perdeu o posto para a chikungunya como a principal arbovirose (doença transmitida por picada de mosquito) a ser combatida. Com 32.682 casos em 2017, sua prevalência já é cerca de 20% menor, enquanto que em 2016 era a mais comum.

Além disso, segundo Chris Takeda, médica infectologista do Hospital São José, uma diferença fundamental entre as duas é que o tempo pelo qual o vírus circula no sangue no caso da dengue costuma ser de três ou quatro dias, podendo chegar até sete; no caso da chikungunya pode chegar a 14, com possibilidade de atingir um estágio de cronicidade, no qual é possível passar meses sentindo os sintomas e as sequelas.
A professora Eurides Severiano Galdino sente os sintomas da doença há apenas três dias, mas já encontra várias das dificuldades relacionadas a ela. Sem conseguir fechar a mão ou pisar com firmeza devido às dores nas articulações, ela conta que tem que passar o dia deitada, sem poder fazer nada. “Pareço uma velha de 90 anos”, disse.

Conforme Chris Takeda, a imobilidade e a constante dependência para realizar tarefas simples do dia a dia podem ser duas das mais perigosas consequências da doença. Ela conta que é comum que pessoas que eram plenamente produtivas há cinco dias tenham que ter o auxílio de mais alguém para realizar tarefas como tomar banho e se vestir, o que pode ter um impacto psicológico forte sobre o paciente. Em casos mais dramáticos, essas mudanças repentinas podem provocar um quadro depressivo.
Anastácio Queiroz, infectologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), constata que um fator que contribui em grande parte para isso é o muitas vezes necessário afastamento do trabalho. Isso, além de potencialmente prejudicar a vida profissional do paciente (uma vez que ele pode ter que ficar afastado por várias semanas), tem efeitos negativos inclusive observando um panorama geral, considerando os prejuízos que essas ocorrências provocam nas empresas – particularmente as menores e os microempreendedores – e a economia local como um todo.

Perigo no tratamento
Eloísa Carvalho, já tendo sentido as dores intensas da chikungunya por dois meses, encontra dificuldade na hora de achar um médico para atendê-la. Os reumatologistas, conta, estão todos cheios de pacientes devido ao surto da doença e mesmo com médicos que atendem através do plano de saúde não é fácil conseguir uma consulta. Na rede pública, a dificuldade é maior ainda.
Como consequência disso, uma parte considerável dos pacientes acaba decidindo se automedicar. Se por um lado em muitos casos os medicamentos tomados nessas situações não oferecem grande risco ao paciente (como os analgésicos comuns), em outras os próprios especialistas recomendam enfaticamente que não se tome a iniciativa sem acompanhamento médico.

É o caso dos corticoides injetáveis, muito populares hoje para aliviar as dores da doença pela facilidade de acesso e o preço acessível. Eloísa tomou uma dose do medicamento e confirma que o alívio veio, mas apenas dois dias depois foi embora. Anastácio Queiroz conta que ele tem muitos efeitos colaterais, incluindo piora de quadros de hipertensão, gastrite, osteoporose, doenças do coração e diversos outros. Desse modo, o próprio potencial da chikungunya de desenvolver outras complicações de saúde é ampliado.
Sem o acompanhamento profissional, ele conta, é comum ainda que pacientes tomem por mais tempo do que deveriam e em doses mais pesadas, o que pode acabar mais atrapalhando do que ajudando.

Segundo Chris Takeda, talvez o principal risco desse tipo de automedicação é relacionado a tomá-lo antes do que se deve. Os corticoides injetáveis costumam ser passados pelos médicos depois das primeiras semanas dos sintomas, quando se verifica que a doença atingiu um grau de cronicidade; quando o medicamento é tomado nos primeiros dias, o caso de chikungunya que não era crônico pode passar a ser por causa disso.
Em Fortaleza
Na Capital, até o mês de abril haviam sido registrados 5.483 casos da doença, frente aos 2.014 do mesmo período do ano anterior, em um aumento de 172%. A Secretaria Municipal da Saúde já considera oficialmente uma situação de surto epidêmico.
As áreas mais atingidas pela doença na cidade estão nas regionais III e IV, no oeste do município. Em número de casos notificados, no topo está o Montese (com 791), seguido pelo Joaquim Távora (579) e Antônio Bezerra (505). Todos os bairros da cidade notificaram ocorrências, mas apenas dois ainda não registraram casos confirmados: Guararapes e De Lourdes.

Com informações do Jornal O Estado do Ceará

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