24 de abril de 2018

General quer ser o candidato da oposição ao Governo do Estado

‘Vou me preparar com afinco’, diz o general Guilherme Cals Theophilo de Oliveira, que tem se aproximado de líderes da oposição no Estado Foto: Natinho Rodrigues
Após dedicar 45 anos à carreira militar, o general reformado Guilherme Cals Theophilo de Oliveira concentra esforços, agora, na vida político-partidária. Algumas metas já estão colocadas: recém-filiado ao PSDB, ele mantém conversas com o senador Tasso Jereissati (PSDB) e lideranças de outros partidos, como PSD, Solidariedade e PROS, com disposição para ser o candidato da oposição ao Governo do Estado no pleito de outubro próximo, sem descartar, porém, caso seja a vontade da legenda tucana, também postular cadeira no Senado Federal.
Na entrevista a seguir, o militar, que, embora novato nas ambiências partidárias, tem raízes fincadas na política cearense – inclusive com coronéis que já governaram o Estado –, fala porque decidiu filiar-se ao PSDB e, também, sobre a “preparação” para ser candidato a um cargo eletivo neste ano. Com a experiência adquirida no Exército, ele defende mudanças de gestão que afetem áreas como Saúde e Segurança Pública, ao passo que se prepara para iniciar uma série de viagens por municípios do Interior cearense com o intuito de “ver de perto os problemas do nosso Estado”.
General, o que o motivou a, imediatamente após a reserva, se filiar a um partido político e ao PSDB?
Eu tenho que recordar um pouco da minha história. Por que o PSDB? Servi recentemente em Manaus e lá me aproximei muito do prefeito Arthur Virgílio, que é do PSDB. Fizemos uma amizade muito grande, fizemos várias obras em Manaus para a Copa do Mundo, em convênio com a nossa engenharia, tivemos esse grande relacionamento, e o primeiro convite para filiação ao PSDB partiu do prefeito Arthur Virgílio. Como não sou de Manaus, do Amazonas, e minha esposa já está morando em Fortaleza há mais de um ano – ela é funcionária do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) e nós, militares, temos essa particularidade, que a esposa nos acompanha nas transferências, desde que seja um emprego federal –, partiu essa vontade de continuar servindo ao meu País na área política. Servi durante 45 anos na área militar, e agora apareceu essa oportunidade. Eu conheço muito o deputado (federal) Raimundo Gomes de Matos, é nosso companheiro de Colégio Militar de Fortaleza, e ele perguntou: ‘por que não em Fortaleza?’. Eu disse: ‘em Fortaleza tive a autorização da esposa’. Houve uma aproximação dessa conversa com o senador Tasso Jereissati e estamos colocando o nosso nome para o partido, para ver se pode ser um bom nome escolhido para a sucessão do Governo do Estado do Ceará.
Ultimamente, políticos e partidos são muito execrados por um segmento expressivo da população brasileira. Isso não o preocupou no momento de decidir entrar na vida pública político-partidária?
Pelo contrário. Isso é mais um desafio, isso nos motivou muito. Há um movimento grande dentro das Forças Armadas, por parte dos militares da reserva, inclusive posso citar o nome do meu grande companheiro, general Peternelli, que já foi candidato a deputado federal pelo Estado de São Paulo e está reunindo lideranças militares que hoje já estão aposentadas, em vários estados do Brasil, para que entrem na política, procurando dar uma outra orientação à nossa política, sem querer forçar uma barra e sem dizer que nós vamos retornar ao autoritarismo, aos períodos militares. Não, nós estamos nos colocando numa democracia a disputar em condições de igualdade com os políticos que já estão presentes aí desde muito tempo.
General, como o Exército Brasileiro, hoje a instituição de maior credibilidade no País, pelos seus oficiais superiores, vê os políticos e os partidos no Brasil, que, na verdade, são os sustentáculos da democracia?
Não podemos nunca generalizar. A generalização nunca nos leva a um bom resultado. Existem bons políticos, existem bons partidos, e existem os maus políticos, como é normal em toda sociedade. Dentro do Exército, dentro das Forças Armadas, às vezes nós encontramos algumas laranjas podres, e elas têm que ser exterminadas. Acho que a Justiça está responsável pelo trabalho de fazer essa depuração nos partidos e nos políticos para que a sociedade possa ganhar e ter, realmente, bons políticos e bons partidos. O nosso comandante, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, é um grande democrata. Eu já servi com ele na Amazônia, ele é um gaúcho de Cruz Alta, e sempre diz: ‘nós temos que manter um tripé: a estabilidade, a legalidade e a legitimidade’. Tendo esse tripé fortalecido, temos como manter esse País com todas as instituições funcionando, como estamos no presente momento.
Como os oficiais superiores do Exército avaliam a situação do País, hoje, levando-se em consideração 1964, quando aquele movimento revolucionário foi feito em nome de combater o comunismo e até mesmo a corrupção, e, hoje, temos uma corrupção muito mais elevada?
Hoje em dia, a conjuntura é totalmente diferente. Acho que não existe uma opinião pública para sustentar uma intervenção federal, acho que o País já amadureceu democraticamente e nós temos condições de, pela própria via democrática, consertarmos o rumo deste País, e é por isso que estamos entrando na política.
O senhor, quando resolveu entrar no mundo político-partidário, já chegou com essa disposição de ser candidato a governador?
Não. Nas primeiras conversas que tive com o senador Tasso, com o deputado Raimundo Gomes de Matos, nós montamos três linhas de ação. Pelo grande conhecimento que tenho na área de Segurança Pública – participei das operações no Complexo do Alemão, no Complexo da Maré, na parte de planejamento e organização; e no Haiti, na Nicarágua, que estive um ano lá trabalhando nessa área de Segurança Pública também –, uma delas era montar um Plano de Segurança Pública para o caso de uma candidatura do senador Tasso ao Governo do Estado. A outra seria também já a nível nacional, para o candidato a presidente Geraldo Alckmin. Depois, ele começou a gostar da conversa, acredito eu, e (perguntou): ‘se eu não fosse senador, o senhor se disporia a ser senador?’. Eu disse: ‘com o apoio do partido, e se for a intenção do partido, coloco o meu nome à disposição’. E depois surgiu, já em conversa posterior, a possibilidade de governador do Estado. E da mesma forma coloquei o meu nome à disposição. Então eram essas três linhas de ação, e eu não sei em qual delas o partido vai me utilizar.
General, o que um governador do Ceará precisa fazer, além do importante– é trivial cuidar bem da Educação, da Saúde, da Segurança, do ambiente social –, para tirar o Estado dessa dependência quase total que tem dos recursos da União?
Nós precisamos fazer um planejamento estratégico. Um planejamento estratégico de Estado e não de governo, aproveitar o que já vinha dando certo de governos anteriores e manter; e mudar o que precisa ser mudado. No caso do meu Estado do Ceará, penso que existem três situações muito difíceis que nós temos que agir de imediato: Segurança Pública, Saúde e a parte hídrica. Eu não entendo como, em um Estado que há anos venho ouvindo falar que está com o dever de casa pronto para a Transposição do Rio São Francisco, até hoje essa Transposição não tenha sido efetivada. E talvez seja o último estado a receber as águas do São Francisco.
Embora isso não seja uma questão do Estado, não é? É da União.
É, mas é por isso que a pergunta terminava em não depender da União. Penso que, se entregássemos isso à engenharia do Exército, essa Transposição já estaria efetivada. Isso é fácil. Na parte de Segurança Pública, participei de várias inspeções a presídios na Amazônia, no Centro-Oeste, e aqui não vi o Exército participar de nenhuma. Nós temos o know-how, uma tecnologia, com material de detectores de minas, que descobrem celulares que estejam enterrados, armas brancas. Eu nunca vi o Ceará pedir esse apoio das Forças Armadas. É fundamental essa experiência, a parte de inteligência na Segurança Pública. Nós temos também aparelhos que podem ser utilizados para detectar o crime organizado. […] Isso é urgente, é imediato. Na Saúde Pública, o Hospital de Messejana, para mim, era uma referência; hoje passa por dificuldades. Os postos de atendimento de emergência, de saúde da família, acho que isso tem que ser uma prioridade, e isso precisa de um planejamento estratégico, precisa de técnicos, de uma liderança com gestão. Eu tenho formações civis que me credenciam a isso, de transformar isso com a base de uma gestão organizada de compliance, de transparência, para que a população possa realmente acreditar em um governo forte.
O partido tem entre meados de julho e agosto para homologar as suas candidaturas. Até lá, o que o senhor vai fazer para chegar a uma dessas posições majoritárias?
Vou me preparar com afinco. Vou começar a participar de reuniões, viajar pelo Interior para ver de perto os problemas do nosso Estado e, como disse, deixar que o partido escolha livremente: uma escolha democrática, uma escolha que seja o melhor para o Estado. Eu sempre penso no melhor para o Estado. O melhor para o Estado é o melhor para mim.
Por Edison Silva
Com informações do Diário do Nordeste

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