5 de abril de 2018

Um país desarmado

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O general Etchegoyen (esq.) em audiência sobre segurança pública no Senado
Posso confessar, leitor(a), que tenho tido enorme dificuldade de escrever? Hoje, estou a ponto de desistir. Não quero parecer cabotino, mas a razão principal é a situação do Brasil. Apesar de ter vivido grande parte da minha vida no exterior, tenho uma ligação com o País que é, acredito, mais forte do que a da maioria dos brasileiros. Escrevi “apesar” e já fico um pouco em dúvida. Todo “apesar” esconde um “porquê”, dizia Fernando Pessoa. Seja como for, o fato é que viver em outros países nunca me afastou do nosso.
De todos os povos que conheci mais de perto, o brasileiro é o menos patriótico, o menos nacionalista – e essa falta de apego ao País nos tem atrapalhado muito. Desde que me entendo por gente, isso sempre foi assim. O brasileiro só se lembrava de ser brasileiro durante a Copa do Mundo (agora talvez nem isso...).
A esse dado psicológico estrutural, acrescentaram-se nos anos recentes muitos fenômenos que configuram verdadeiro adoecimento e desagregação da sociedade brasileira e de suas instituições. Nunca o Brasil me causou tanta preocupação – angústia seria palavra melhor. Nunca vi nosso país tão dividido, fragilizado e vulnerável à ação de interesses estrangeiros.
Bem sei que esse adoecimento transcende as fronteiras nacionais. Basta ver o que acontece nos Estados Unidos, na Europa, no Oriente Médio e em outras regiões. Mas isso não serve de consolo. Ao contrário, o brasileiro precisa se dar conta de que a situação internacional é perigosa, talvez como nunca, e que isso pode nos afetar de várias maneiras e colocar em risco a própria segurança nacional.  
Não vamos nos enganar. O Brasil é um país desarmado. E um país indefeso se expõe a riscos graves, especialmente se tem vasto território e imensas riquezas e recursos naturais. Ninguém vai nos defender. As mais solenes garantias internacionais não são confiáveis, muitas delas não valem o papel em que foram escritas. 
O caso da Ucrânia merece ser lembrado. Em 1991, quando esse país se tornou independente na esteira da desintegração da União Soviética, existia um pequeno problema: no território ucraniano se localizava grande parte do arsenal nuclear soviético. As lideranças do novo país foram levadas a abrir mão desse arsenal em troca de tratado com os Estados Unidos, o Reino Unido e a Rússia que garantia a integridade territorial da Ucrânia. Quando a Rússia tomou a Crimeia em 2014, de que valeram esses tratados?
 Nada disso é novidade. Rui Barbosa alertava que uma nação que confia em seus direitos em vez de confiar em seus soldados, prepara a própria derrocada. Mas os nossos soldados, o que fazem? Em vez de preparados permanentemente para a missão sagrada de garantir a segurança nacional, estão revistando mochilas de crianças nas favelas do Rio de Janeiro. 
Merecem registro também palavras recentes do general Sérgio Etchegoyen, ministro da Segurança Institucional, por ocasião dos 20 anos da adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). A adesão ocorreu em 1998 sob o governo Fernando Henrique Cardoso. Etchegoyen foi convidado a participar de uma mesa de debates na Fundação FHC. Na presença do ex-presidente, o general foi claro e incisivo. Disse verdades que nós, brasileiros, teimamos em ignorar.
Da perspectiva militar, lembrou o general, o armamento nuclear pode representar a única possibilidade que resta a uma nação ameaçada por invasão do seu território. Mencionou as guerras do Iraque de 1991 e 2003: “O esforço de concentração do aparato militar da aliança que invadiu o Iraque jamais teria sido possível se aquele país dispusesse de armas nucleares de pequena capacidade” (Valor Econômico, 7 de março de 2018, pág. A6). Lição, diga-se de passagem, que não escapou a vários países.
Na avaliação de Etchegoyen, a adesão ao TNP em 1998 coincidiu com um período de grande desinvestimento do Brasil na área nuclear. O tratado faz referência ao “direito inalienável” dos países de desenvolver a energia nuclear para fins pacíficos. Esse direito ficou na teoria, porém, pois vem sendo “negado, restringido, bloqueado por diversas ações diretas e indiretas e pressões internacionais”, observou.
O quadro é realmente lamentável. O que ganhamos com a adesão ao TNP, perguntou o general, além de fotografia na galeria dos bem-comportados? A imprensa não registrou resposta por parte de Fernando Henrique Cardoso.
Por Paulo Nogueira Batista jr.
Com informações da Revista Carta Capital

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