
Defeito da parede abdominal, a hérnia é uma ocorrência muito comum. Analisando os dados oficiais do Ministério da Saúde do Brasil, existe um déficit enorme entre o número de brasileiros com algum tipo de hérnia e o número de operações para sua correção.
E mais: a qualidade dessas cirurgias e sua eficiência são questionadas atualmente, e medidas para melhorar esses resultados tornaram-se urgentes. Sobre isso conversamos com o doutor Sergio Roll, professor-adjunto e coordenador do grupo de cirurgia de parede abdominal da USP e coordenador do Centro de Hérnia do Hospital Oswaldo Cruz.
CartaCapital: Quais os tipos mais comuns de hérnia?
Sergio Roll: A mais prevalente é a hérnia da região inguinal, que ocorre em até 75% dos casos.
CC: Como está o atendimento aos pacientes com hérnia no País?
SR: No Brasil, segundo o DataSUS, em 2014 foram realizadas 240.452 operações para reparo de hérnias abdominais. Com esses dados, acredita-se que, na população elegível, o nosso déficit de acesso ao tratamento é de 50%, ou seja, a cada dois casos cirúrgicos de hérnia abdominal no Brasil, apenas um recebe tratamento.
CC: O SUS atende a essa demanda?
SR: Embora tenha ocorrido um aumento da população, o número de cirurgias de hérnia abdominal realizado no SUS tem diminuído. No estado de São Paulo, mesmo havendo a maior concentração de hospitais do Brasil e maior volume absoluto em número de cirurgias de reparação de hérnia abdominal (46.154 em 2014), a cobertura é de 45% dos pacientes elegíveis para o tratamento cirúrgico. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, 9,5 mil doentes com hérnia inguinal aguardam tratamento cirúrgico.

CC: Qual o impacto na sociedade?
SR: O impacto social e financeiro desse tipo de hérnia no Brasil é muito significativo. O Ministério da Previdência Social revela que a hérnia inguinal é a décima segunda afecção para o benefício auxílio-doença. No entanto, segundo ainda o ministério, computando as licenças com duração superior a 15 dias, a hérnia inguinal é responsável por nada menos que 80 mil afastamentos/ano. O gasto total do governo com auxílio-doença para todas as doenças em 2014 foi de 22,9 bilhões de reais.
CC: A cirurgia para hérnia é eficiente?
SR: Apesar de ser simples, estudos mostram que as cirurgias para tratamento de hérnias podem ter índices de recidiva superiores a 30% e a incidência de dor crônica pós-operatória tem aumentado nos pacientes submetidos a herniorrafia com uso de tela. Dessa forma, um centro especializado dedicado ao tratamento do paciente portador de hérnia poderá fazê-lo com menor tempo de internação, menores taxas de recidiva e complicações, além de maior satisfação do paciente.
CC: O que está sendo feito para diminuir essas taxas de complicação?
SR: Em 2015, com a participação da ONG americana HerniaHelp, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (Ucla), e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, realizamos um treinamento em mutirão nas cidades de Ribeirão Preto, Franca, Americana e São Carlos, onde em três dias foram treinados 24 cirurgiões e operados 140 doentes. Estamos iniciando um projeto com a prefeitura de São Paulo no Hospital Alemão Oswaldo Cruz – Unidade Vergueiro, onde vamos operar 40 pacientes ao mês, com hérnia inguinal, por um período de oito meses.
O projeto tem por objetivo divulgar e realizar o treinamento padronizado de cirurgiões através do ensino supervisionado e monitorado da hernioplastia inguinal pela Técnica de Lichtenstein, técnica cirúrgica considerada muito eficiente, procurando atingir as seguintes metas: melhorar a qualidade da assistência por meio do ensino de técnicas cirúrgicas e procedimentos operatórios baseados em evidências, auxiliar os cirurgiões na melhor tomada de decisão clínica, capacidade e habilidades cirúrgicas, diminuir as taxas de complicação no intra e no pós-operatório, e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Por Riad Younes
Com informações da Carta Capital
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