Foto: Georgia Quintas
As paredes de uma casa nordestina nunca estão vazias. Mais do que servir à separação dos vãos da casa, uma parede nordestina é lugar para exibir e afirmar a cultura da gente do Nordeste.
Dentre os tantos objetos que se afixam nessa parede da memória, não pode faltar uma fotografia trabalhada e pincelada pelas mãos de um retratista. Muitas vezes, porém, o que se vê no retrato nem sempre é o que se vê na realidade e no cotidiano. Na pintura do retratista, as mãos calejadas do agricultor e suas vestes sertanejas dão lugar ao terno e à gravata de gente grã-fina. Júlio Santos, retratista do interior do Ceará, explica que, ao encomendar uma foto ao retratista, o sertanejo deseja ver-se melhorado.
Melhorar, aliás, é a essência da arte dos retratistas. Por vezes, a foto que lhe serve de parâmetro para a produção da fotopintura vem corroída, desbotada e desgastada por aquele que é especialista em envelhecer tudo e todos: o tempo.
O retratista é um algoz do tempo. Combate contra sua força. É uma peleja longa, que perdura por muitas semanas: pinta-se aqui, corrige-se acolá, refaz-se um queixo, inventa-se um olho, revigora-se a cor da pele…
Quando o retrato fica pronto e chega, lá nos rincões desse imenso sertão, à mão do nordestino, seu coração se enche de orgulho ao pendurá-lo na parede de sua casa.
Assista a entrevista com Júlio Santos no documentário Câmara Viajante:
Tribuna do Ceará
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