
Enquanto
a reforma
do ensino médio é aprovada no Senado e sancionada pelo Presidente
da República,
um ponto precisa de reformulação urgente: a educação física. A
disciplina, que esteve ameaçada de ser tirada do currículo
obrigatório, deveria na verdade ter mais espaço na grade,
aproveitando o aumento da carga horária escolar determinado pela
reforma.
Os
estudos dizem que para uma criança aprender uma habilidade em nível
interessante, são necessárias dez mil repetições de cada um dos
movimentos nas mais diversas situações, o que coloca totalmente por
água abaixo a teoria de que o esporte se aprende na aula de educação
física escolar. O máximo que se consegue é gerar uma experiência
com algumas habilidades. No entanto, o modelo proposto e
experimentado pelas crianças é competitivo e excludente, de forma
que se prioriza a minoria dos alunos habilidosos em detrimento dos
demais. São jogos competitivos e não cooperativos, que acabam
gerando uma experiência negativa, afastando definitivamente a
atividade física da vida desse jovem.
Alguns
ainda têm aquele velho discurso de que a competição é importante
para a vida, mas vários casos de excelentes competidores no esporte
que fracassaram na “competição da vida real” estão na cara de
todos para demonstrar que isso é uma falácia.
Além
de causar desinteresse pela prática da atividade física, empurrando
crianças e jovens ao sedentarismo, o modelo atual da disciplina
também é um dos responsáveis pelo crescimento do bullying escolar,
o que ajuda a traumatizar o jovem e afastá-lo. Os menos habilidosos
não ganham medalhas, não são chamados para o time da escola, são
criticados e ofendidos pelos amiguinhos, são os últimos a serem
escolhidos e os que menos participam do jogo, e logo, estão na
contramão do que a ciência preconiza sobre aprendizagem motora e
também sobre educação.

A
educação física acontece na cabeça. Na mudança de entendimento
sobre como o corpo funciona, e porque ele precisa de movimentos. A
quadra é apenas um laboratório, para ir lá testar o conteúdo
teórico, vivenciar, entender, sentir e aí sim escolher qual
atividade cada um gosta mais para num período fora da aula, poder ir
atrás de sua preferência. Aula de educação física não é
momento de lazer nem de extravasar como alguns sugerem. E se precisa
existir esse momento, que seja, num outro horário, fora das aulas de
educação física, que já são poucas perto de outras disciplinas.
Um
levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) divulgado no ano passado revelou que o número de casos
de bullying escolar está crescendo no Brasil. A Pesquisa Nacional de
Saúde Escolar mostrou que, em 2015, 46,6% dos 13 milhões de jovens
entrevistados entre 13 e 17 anos de escolas públicas e particulares
de todas as regiões do país disseram já ter sofrido algum tipo de
bullying. Em 2012, a porcentagem era de 35,3%. A aparência física
está entre os principais motivos.
É
preciso pensar a educação física de modo educacional, como
acontece com as demais disciplinas. Ela deve fazer o estudante
entender a importância e as diferentes formas de se movimentar,
compreender como o corpo e o organismo funcionam e como pode ficar
mais debilitado e suscetível a doenças sem a prática regular de
uma atividade física. Já que a proposta da reforma não citou a
necessidade dessa alteração, a mudança de cultura faz parte de um
grande desafio para os profissionais do país. Para cumpri-lo, basta
planejar e usar o enorme universo de conceitos e ideias da área para
explicar, dar base e conhecimento para o aluno praticar, entendendo o
corpo e o exercício, de modo que se sinta permanentemente estimulado
a levar uma vida ativa.
Por Cris Parente
Com informações do Globoesporte.com
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