5 de janeiro de 2014

Cadelas são os bichos que mais têm câncer de mama

SARA MAIA
É muito semelhante à descoberta do câncer de mama nas mulheres: em cadelas, a doença também é perceptível pelo toque. “Geralmente, inicia-se com a presença de pequenos nódulos, de 1 a 2 centímetros, que o proprietário mais cuidadoso percebe ao apalpar a cadela”, orienta a veterinária Annice Cortez, professora da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece). E o câncer de mama é o segundo mais comum em cadelas, seguindo-se ao de pele.
 Os fatores são diversos, pesquisa o veterinário Daniel Viana, também da Favet-Uece. Como no ser humano, ele explica, “as causas genéticas são bastante importantes, mas temos indícios da alteração hormonal que a cadela passa”. No grupo de risco, cadelas não castradas se tornam mais vulneráveis à doença, dialoga Annice Cortez, acrescentando ainda que o envelhecimento tem uma parcela de culpa. “O tumor pode aparecer em cadelas com mais de cinco anos de idade”, previne a veterinária.
A alimentação (industrializada, ou natural) também pode ter alguma influência no surgimento do câncer de mama nesses animais, mas os estudos não são conclusivos. “Existe discrepância entre as pesquisas”, pondera Daniel Viana. O que já foi comprovado é a “altíssima” incidência de casos em cadelas, alerta Annice Cortez.
“O tumor de mama é o segundo mais prevalente no Ceará”, informa Daniel Viana, que iniciou o doutorado com o “Estudo retrospectivo das doenças neoplásicas em cachorros”. Nos últimos dez anos, entre 2003 e 2012, o veterinário investigou 1.008 casos de câncer em cães (machos e fêmeas): 33,43% deles eram tumores de mama; e um macho, a cada fêmea, desenvolve a doença. “Corresponde a 50% dos tumores que, na cadela, predominam”, complementa.
Para o diagnóstico preciso, retiram-se amostras do nódulo em um exame chamado citologia aspirativa. A cirurgia e, por vezes, a quimioterapia compõem o tratamento. O diagnóstico precoce contribui para a sobrevida do animal. “Esse tumor pode crescer 10 a 15 centímetros, e o procedimento cirúrgico é mais difícil”, avalia Annice Cortez. “O tratamento varia com o tipo de tumor. Quanto mais cedo abordado, mais rápido é concluído”, acrescenta Daniel Viana.
Cuidados
A prevenção faz a ponte com o tempo. A castração, antes do primeiro cio, tem poupado os animais do tumor – concordam os especialistas. O câncer de mama nos cães costuma ser silencioso e não mostrar sintomas além da saliência dos nódulos. Por isso, reforçam os veterinários, consultas periódicas (de seis em seis meses) se unem a observação e cuidados dos próprios donos. “É preciso que o proprietário esteja atento ao animal”, recomenda Annice.

“Banhando normalmente, você percebe os carocinhos (nódulos)”, atesta o jornalista Vinicius Mota, 36. Assim ele descobriu o tumor em Petra, uma poodle de 12 anos de idade e que não tinha sido castrada. A cadela “foi operada prontamente” e vieram “os remédios, muitas idas ao veterinário”. Os cuidados e os afetos se redobraram: o pós-operatório exige muita dedicação dos donos, pontua Vinicius.
Mas, cerca de um ano depois, o câncer voltou a aparecer, “bem agressivo”, comprometendo o pulmão de Petra; fígado e rins são outros órgãos-alvos de metástases. E foi preciso se despedir, apesar do amor. “Quando você tem um cão na família há muito tempo, os laços se fazem naturalmente e são muito grandes. A doença apenas reforça”, diz Vinicius.
Saiba mais
Uma pesquisa do Grupo de Educação e Estudos Oncológicos da UFC utiliza cadelas na descoberta de um método mais barato e seguro de rastrear o linfonodo sentinela em mulheres. O linfonodo é uma espécie de gânglio linfático (um canal de passagem) que leva à primeira metástase do câncer de mama. Rastreá-lo pode significar chegar a tempo de menos mutilações.
A investigação do linfonodo é importante na fase inicial da doença, mostrando ao oncologista se a axila da paciente está a salvo. A anatomia da mama das cadelas é semelhante a das mulheres.
O estudo é conduzido pelos médicos Luiz Gonzaga Porto Pinheiro e Paulo Henrique Diógenes Vasques. As cobaias usadas vêm das ruas, passando pelo Centro de Controle de Zoonoses, e seriam sacrificadas. Depois da pesquisa, sofrem eutanásia. Outra pesquisa, em paralelo, foca no rastreamento do linfonodo sentinela em benefício das cadelas com câncer de mama.
opovo

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