

Ex-governador Lúcio Alcântara diz que não tem pretensões de disputar cargo público novamente. (Foto: Tribuna do Ceará/Fernanda Moura)
Quase dez anos desde que deixou o Palácio do Cambeba (residência oficial antes da reforma do Palácio da Abolição), o ex-governador Lúcio Alcântara não se conforma com a condução da segurança pública pelo seu sucessor, o agora ex-governador Cid Gomes (PDT). Para o presidente estadual do PR, Cid “destruiu a Polícia com a história de fazer outra”. Ele entende que atual governador, Camilo Santana (PT), está reconstruindo a estrutura de segurança no Ceará.
Lúcio Alcântara concedeu entrevista ao Tribuna do Ceará na segunda-feira (12), em sua residência, em Fortaleza. Além das críticas a Cid Gomes, o ex-governador falou sobre o cenário político nacional e municipal e as atividades que desempenha desde que deixou o Governo.
Apoiador do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Lúcio criticou que a crise econômica e política no Brasil é culpa tanto do Governo como da oposição que, para ele, “podia ter colaborado mais”. “A melhor solução seria eleição geral para presidente, mas isso está politicamente difícil”, pontua.
O PR se articula para lançar a candidatura do deputado estadual Capitão Wagner para a Prefeitura de Fortaleza, com apoio do PSDB do senador Tasso Jereissati, afirma Lúcio. Ele critica que adversários políticos, como os irmãos Cid e Ciro Gomes (ambos do PDT), tentem minimizar a influência do deputado, dizendo que ele só entende de segurança pública. “Não posso me calar quando vejo demagogia”, afirma.
A desavença política com os Ferreira Gomes é antiga. Cid derrotou Lúcio em 2006 em sua campanha pela reeleição. O sucessor, contudo, é acusado pelo presidente do PR de ter mentido em suas promessas de campanha. “A preocupação do meu sucessor era destruir a imagem do meu governo e desfazer tudo o que eu tinha feito”, afirma Lúcio. Cid preferiu não comentar a críticas.
Confira a entrevista completa concedida ao repórter Matheus Ribeiro:
Tribuna do Ceará – Como o senhor enxerga o atual cenário político nacional?
Lúcio Alcântara – É muito lamentável que a gente chegue onde chegamos. Há uma culpa grande do governo do PT, mas houve uma colaboração da oposição. (A oposição) mesmo combatendo e procurando saídas para o afastamento da presidente, podia ter colaborado mais, aprovando algumas medidas que qualquer um que seja presidente vai ter que tomar para o Brasil sair do fosso. A melhor solução seria eleição geral para presidente, mas isso está politicamente difícil. Embora o impeachment seja uma medida excepcional, embora a nossa história seja de muitos presidentes que, por uma razão ou outra, não concluíram o mandato, vão ter que chegar a essa medida extrema que é o impeachment. A essa altura eu não vejo outra alternativa, sabendo que vamos ter muitas dificuldades com essa sucessão.
Tribuna – O PR tem certa indefinição em ser a favor ou contra o impeachment. Alguns são contra, outros são isentos. Como tem sido o diálogo dentro do partido?
Lúcio – Para o PR fechar a questão, é uma deliberação nacional. Não é nossa. Temos o deputado federal Cabo Sabino, que já se pronunciou (a favor do impeachment), os dois deputados estaduais, Capitão Wagner e Fernanda Pessoa e o Roberto Pessoa, que é presidente de honra do partido, e eu, que acabei de manifestar (apoio ao processo). A deputada (federal) Gorete Pereira mantem-se ainda indecisa. Quer escutar ainda a opinião pública, pois está ligada a muitos prefeitos, a municípios que dependem muito de recursos.
Tribuna – Como está o diálogo do PR com o PSDB para o apoio ao Capitão Wagner à Prefeitura de Fortaleza
Lúcio – Muito bom. Está sendo produzido em menor parte por mim, em maior parte pelo Capitão Wagner e o nosso presidente de honra, Roberto Pessoa. Praticamente já se fechou uma aliança com o PSDB. Temos muito tempo para a realização das convenções, mas esse acordo já está praticamente acertado entre os dois partidos.
Tribuna – Como o próprio Capitão Wagner trata as questões das críticas que ele recebe?
Lúcio – Muita gente tenta diminui-lo, dizendo que ele só entende de segurança. Mas ele, na verdade, está colhendo material, se preparando para formular um plano de governo. Ele é uma pessoa serena, fala sempre com compostura. Não é aquele tipo estérico que a gente vê em alguns que são ligados à área da segurança. Quando o governador o chamou, foi lá dar suas colaborações. Não posso me calar quando vejo demagogia, certas posturas para atrair pessoas que não percebem as coisas. O próprio irmão do ex-governador (Ciro Gomes, irmão de Cid Gomes) uma vez disse: “nós vamos derrotar o Capitão”, como se ele só entendesse de segurança. Ele mesmo (Ciro), no governo do irmão, disse que havia milícia (dentro da Polícia do Ceará) e nunca mostrou. Por que o deputado do governo não o deixa (Ciro) ir lá (na Assembleia Legislativa)? Há um pedido de convocação para ele explicar essas questões (da milícia). É muito grave, (há) muita acusação vaga.
Tribuna – O senhor pretende inserir alguém de confiança na prefeitura da cidade de São Gonçalo do Amarante (cidade natal de Lúcio)?
Lúcio – Não temos ainda uma decisão. Há conversas com outros partidos de oposição, mas o quadro ainda não está definido. Vamos aprofundar os entendimentos e acelerar essa decisão. A ideia geral – e nisso nós temos mantido várias conversas com o Luiz Pontes, presidente do PSDB, o deputado estadual Danniel Oliveira (PMDB), que representa o senador Eunício Oliveira (PMDB), e o Solidariedade –, para ver, onde for possível, uma união em torno de um candidato.
Tribuna – Como o senhor avalia a segurança pública após o seu governo?
Lúcio – Uma razão do descrédito da classe política, porque a própria Dilma (Rousseff) se elegeu prometendo o que ela não pôde fazer. Eu, por exemplo, me elegi em 2002 e, por reconhecer que esse problema é grave e sério, nunca disse que acabaria com a violência e resolveria o problema. Mas disse que lutaria, que faria tudo o que estivesse ao meu alcance. Recentemente os jornais fizeram algumas matérias sobre isso, inclusive sobre a evolução da violência aqui, no Ceará, e mostraram que o meu período foi o mais tranquilo. A violência aumentou um pouco, mas foi o período em que menos aumentou, apesar das dificuldades políticas e de recursos. O meu sucessor (Cid Gomes) ganhou a eleição dizendo que acabaria com a violência, o que é um tremendo absurdo. Estava que nem a Dilma, prometendo o que não podia fazer. Então criou Ronda (do Quarteirão), disse que você chamaria a Polícia e ela estaria na sua porta em cinco minutos, que você saberia o nome do policial, e, na verdade, houve um aumento exponencial da violência. Nos oito anos dele, só em Fortaleza, morria mais gente do que em todo o meu governo no Ceará todo. Com o agravante: primeiro que ele mentiu, prometeu acabar atrás de voto e a segurança era, como hoje, uma coisa que incomoda. Então, a primeira coisa: ele mentiu para o povo. A segunda: foi o gasto. Ele sempre dizia: “mas eu fui o que mais gastou”. Pior, porque foi o que mais gastou e teve os piores resultados. Estão aí os carros sucateados, uma despesa enorme, com uma manutenção enorme. A manutenção, em alguns casos, era quase o preço de uma nova. Pernambuco baixou a criminalidade com carros pequenos e outras medidas mais práticas. Havia uma arrogância e um desperdício e o resultado foi péssimo. É preciso ser humilde diante disso. É necessário sempre buscar as melhores solução, mas nunca enganar o povo, nunca mentir.
Tribuna – Quais as medidas que o senhor enxerga para mudar essa situação?
Lúcio – A primeira coisa o governador Camilo Santana está fazendo que é a de recompor as forças de segurança. O meu sucessor destruiu a Polícia com a história de fazer outra. Ele só abria a boca para falar mal da Polícia, da qual ele mesmo era o comandante. Não quero dizer que a Polícia não tem lado ruim. Ela tem e são muitos, mas ele só viu o lado negativo. Camilo mostrou-se capaz de dialogar. A preocupação do meu sucessor era destruir a imagem do meu governo e desfazer tudo o que eu tinha feito. Fizemos uma coisa que funcionou no Rio de Janeiro: o disque denúncia. Trouxemos e instalamos aqui. Havia um sistema montado, com denúncias anônimas. A primeira coisa que ele (Cid Gomes) fez foi acabar com isso. Ele foi petulante, arrogante e acabou destruindo isso. O Laécio Noronha (advogado e autor do livro Políticas Públicas de Segurança), na última campanha do Eunício Oliveira (candidato ao Governo do Estado em 2014), publicou um livro com todas as sugestões, diagnósticos e propostas sobre segurança pública que estão sendo feitas. Camilo está evitando desperdícios, comprando carros menores… Perdemos oito anos com esse desmando na área da segurança.
Tribuna – O que lhe motiva a continuar participando dessas questões para melhorar a segurança pública no Ceará?
Lúcio – Não pretendo disputar mais nenhum cargo político. Mas, por tudo o que eu recebi do povo cearense, pelos cargos e oportunidades que tive, tenho uma responsabilidade que está acima de procurar ter desempenhado bem as funções que ocupei. Encaro isso como minha obrigação. Pela experiência e gratidão que tenho ao povo do Ceará, tenho o dever de fornecer um pouco do meu conhecimento à sociedade. Acabo sendo um ombudsman da sociedade. Tenho certa responsabilidade partidária, por está presidindo um partido político, mas hoje me sinto muito mais livre para falar e me manifestar, pois agora estou querendo colaborar. Hoje, estou presidindo o Instituto do Câncer, que meu pai foi um dos fundadores, então eu estou colaborando lá.
O Tribuna do Ceará entrou em contato com o ex-governador Cid Gomes, mas ele optou por não responder às críticas de Lúcio Alcântara.
Por Jéssica Welma
Tribunadoceara.uol.com
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